O corisco e a Faca
Estava sem fazer nada
fui a Cáceres, pescar
Lá encontrei o Monteiro
Sisenando e Jomar
Quarta-feira é dia útil,
fui, então, utilizar
Aliás, fui de teimoso
pois a minha intuição
contra-indicava esforço
para aquela ocasião
e minha agenda previa
tempestade ou furacão
Malfadada pescaria
naquele dia esquisito
em menos de meia hora
Jomar fizera bonito
fisgando grandes pacus
e nós outros, só no grito
Entretidos em pescar
não vimos o nevoeiro
formando-se, carregado
pois foi algo bem ligeiro
quando pensamos que não,
foi aquele aguaceiro.
Era trovão ribombando,
vento açoitando o rio,
e ondas de mais de metro
tornaram-se um desafio
para o barco não virar.
Imaginem o calafrio.
Corisco corria solto
no meio da escuridão
nós, em barco de metal,
com o coração na mão
rezando a todos os santos,
pra sair da situação.
Quando estávamos chegando
na beirada do barranco,
um raio maior que todos
provocou um solavanco
de medo que o coração
não aguentasse aquele tranco.
E a luz se aproximava
numa velocidade incrível
e eu falei, meu Deus do céu,
só com sua bênção é possível
sairmos esta tormenta
pois só Vós sois invencível.
E naquele exato instante
fui pegando minha faca
lancei-a, com toda a força,
no rumo de um pé de jaca
logo vi o fogaréu
queimando, perto, uma vaca.
Nós, quietinhos, no barco
olhando a destruição:
era árvore caindo,
era fogo pelo chão,
Imagina como estava
nosso nível de tensão.
Eu quase nem acredito
nesta parte da história:
o raio seguiu a faca,
mudou sua trajetória.
acontecimento assim
jamais sairá da memória.
Mas nem tudo é perfeito
na vida de uma pessoa.
depois que amainou a chuva
e ficou só uma garoa
procurei e não achei
a minha faca tão boa.
João Afonso
06.08.03
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