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Ensaios-->Acorda amor -- 22/02/2001 - 20:56 (MICS) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Acordei com vontade. Isso mesmo, vontade de acordar.
Em geral acordar é necessário mas não gostoso.
Prazer ao acordar eu sinto em poucas em raras ocasiões.

Quando era pequena, acordar era simples. Meu pai entrava no quarto, acendia a luz e saía resmungando que ninguém levantava, que estava atrasado e por aí afora. Nessa época era um malabarismo trocar de roupa no quarto que dividia com meus 4 irmãos e conseguir vaga no único banheiro da casa. Poucos anos depois, já na casa nova com 3 banheiros e um quarto para cada dois de nós, eu trapaceava: dormia com agasalho de ginástica pra não precisar me trocar de manhã e assim poder dormir mais um pouquinho. Eram cinco minutos a mais, mas dava até pra sonhar. Quando tive minha primeira filha, repeti a experiência dormindo e sonhando nos intervalos das contrações.

A melhor época para acordar foram os anos de recém-casada. Era bom demais acordar. Pensando bem, quase tudo era bom: acordar, namorar, tomar café, dormir, acordar de novo, namorar de novo, dormir de novo... nem sempre nessa ordem, claro.

Quando tive meus 3 filhos, acordar era obrigação. Cada um dos 3 tinha um horário diferente e eu sambava para dar conta das mamadeiras, sucos, pãezinhos, bolachinhas entre trocas de fraldas e piniquinhos. Havia dias deliciosos onde acordar era uma diversão com Talita me puxando pelo braço:
- Valanta mamãe, tá na hora de valantar.
Ou então quando Marco pulava da cama às 5:00 da manhã com a corda toda, cantando todo o repertório das músicas infantis que ele conhecia. Nessa época, me lembro de um dia em que fomos ao Embú. Ele, encantado com as borboletas coloridas penduradas na porta de quase todas as lojas, encantava a todos parando embaixo de cada uma delas e, apontando com o dedinho indicador cantando em alto e bom som:
- Borboletinha, tá na cozinha, fazendo chocolate, para a madrinha. Peti-peti, perna-de-pau, olho-de-vidro e nariz de pica-pau.
Nunca entendi essa e muitas outras letras de música para crianças, mas sempre ensinei meus filhos a cantá-las.
Mais tarde, depois do nascimento de Marina, vinham os 3 me acordar com carinhos e beijinhos e claro, Marco cantando:
- Palina, polena, palina pocê se pintô...
Ele achava que a palininha era só dele, e as vezes penso que acha isso até hoje.

Passada essa fase veio a fase do trabalho onde acordar era uma guerra. Fazer o café da manhã comido às pressas, o lanche, levar as crianças para a escola, fugir do rodízio. Era comum ter que tomar café na padaria da esquina, perto do trabalho. Passava dias a fio almoçando um sanduiche frio em frente ao micro. Noites em seguida em que só via a carinha das crianças adormecidas. Madrugadas passando pelo quarto deles em silêncio pra dar um beijo em cada bochecha, tomando cuidado pra não acordá-los. De manhã um sono atróz, uma vontade de virar de lado e falar pro mundo: - Me esquece!
Mais alguns anos, e finalmente a sabedoria (aquela que a gente adquire com o tempo e um bocadinho de dinheiro). Mudamos para o mesmo bairro da escola. A vida ficou mais fácil, menos corrida, com mais tempo pra tudo principalmente para dormir.

Atualmente acordar é uma rotina. Acordo com o segundo toque do despertador (finalmente achei um com dupla programação) - meu cérebro simplesmente não ouve o primeiro toque. Levanto meio bêbada, vou ao banheiro para o ritual matinal que inclui um jato de soro nas lentes de contato descartáveis. Paro em frente ao armário torcendo pra que milagrosamente desapareçam todas as roupas velhas e apareçam outras novas, coloridas, vibrantes, se possível com um toque mágico que elimine instantâneamente excessos de gordura ao serem vestidas.
É nesse ponto que o dia começa a tomar forma de dia e eu começo a me sentir gente novamente, em vez de um saco de batata.

Enfim, acordar continua sendo um momento especial do dia onde em geral não quero fazer nada mas hoje, acordei com vontade de sorrir.

Mirinha
Fev, 2001
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