Biljana Plavcic. Uma GENOCIDA?
Iugoslávia em guerra
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De Christian Schmidt-Häuer
Trad.: zé pedro antunes
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Ela pregava a guerra e o racismo. Governava, como presidente, a Sérvia bósnia. Voluntariamente, ela assumia as suas posições. Ei-la agora, em Haia, na Holanda, diante o Tribunal das Nações Unidas,
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Há tempos, eles voltaram a jogar cartas juntos. Preferencialmente, cartas. Juntos vêem televisão. Pacificamente, eles se arrastam pela zona de permanência e pela biblioteca. Sérvios, croatas, muçulmanos bósnios. Vigiados por unidades das Nações Unidas, no segundo e no terceiro andar da prisão masculina de Schevening, eles só possuem agora um inimigo comum: o Tribunal dos Criminosos de Guerra, em Haia.
Três dúzias de prisioneiros, sob investigação, acham-se encarcerados no enclave holandês das Nações Unidas. Anos irão se passar, até que os tenha sentenciado a todos o Tribunal Internacional para julgamento da ex-Iugoslávia.
Na sala 3, agora - muitos meses já se passaram -, negocia-se a causa 'Kvocka u. a.' [Kvocka entre outros]. É o processo contra o comandante do campo de prisioneiros Omarska e seis torturadores, seus comandados.
Omarska foi um dos locais de horror na Guerra da Bósnia. A guerra começou depois do reconhecimento jurídico-popular da Bósnia-Herzegovina, e se transformou na mais horrorosa dos quatro conflitos ocorridos na Iugoslávia. Em 9 de janeiro de 1992, o comandante bósnio dos sérvios Radovan Karadzic proclamou a Republika Srpska, tornando pública, assim, a unidade da Bósnia-Herzegovina. Com o auxílio do exército iugoslavo, suas milícias de croatas e muçulmanos puseram em prática os planos e conquistaram setenta por cento do terrítorio da Bósnia.
Como a deusa da guerra, as tropas sérvias festejaram uma mulher: 'Biljana é nossa czarina!', foram os dizeres que eles pintaram sobre os tanques.
Desde o dia 10 de janeiro deste ano, os acusados da Guerra da Bósnia têm a ex-czarina a seu inteiro dispôr. Ela se acha presa em uma das celas, em meio aos amigos e inimigos de antes. Biljana Plavcic, na guerra como na paz, governou a República Sérvia da Bósnia; foi de livre e expontânea vontade que ela se entregou ao tribunal. Depois de, na sexta-feira anterior ao natal, ter tido notícias de 'acusações veladas' contra ela, procedente de Banja Luka, a ex-professora de biologia chegou em vôo especial do seu governo. Entre todos os supostos criminosos de guerra detidos na Holanda, a ex-presidente da República Sérvia é agora a mais alta patente. Até aqui, nenhum dos homens acusados, em posições semelhantemente elevadas, apresentou-se por deliberação da própria vontade.
Para Graham Blewitt, que representa a principal testemunha de acusação, e que antes, na Austrália, já havia sido caçador de velhos alemães nazistas, estabeleceu-se assim um marco decisivo:
'A senhora Plavcic, com esta sua decisão, reconheceu o Tribunal como instância.'
Isso agora pesa em dobro, pois, nas semanas anteriores, o presidente da Iugoslávia, Koctunica, energicamente se negou a autorizar a entrega de Slobodan Milocevic. Sua justificativa:
O Tribunal de Haia tem por objetivo jogar para cima dos sérvios, unilateralmente, todas as culpas da guerra.
A postura de recusa por parte de Koctunica, por sua vez, marcada por uma luta política interna pelo poder, estimula os nacionalistas croatas. Estes criam um clima contrário a que, em Zagreb, o governo passe a prestar serviços ao Tribunal, e, por conta de supostos crimes de guerra, passe a entregar, aos civilistas sérvios, os seus próprios concidadãos.
A ida voluntária da senhora Plavcic a Haia enfraquece os argumentos de ambos os lados. Por isso, ela é agora A CZARINA DAS ACUSAÇÕES.
[continua]
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