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Ensaios-->CAMINHOS - 8 -- 21/03/2001 - 18:25 (Diógenes Pereira de Araújo) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Caminhos (08) – O amor não tem idade.

A palavra juventude se refere ao frescor da existência: a juventude biológica. Vai até os trinta, trinta e cinco anos, mas há uma noção de juventude que não se liga tão-somente à idade cronológica, senão também, e ainda mais, à capacidade de sonhar, à capacidade de se aventurar, de ter ideais e de nutri-los para que se desenvolvam e prosperem.
Podemos encontrar idosos com o brilho nos olhos de mundos factíveis e podemos encontrar jovens de menos de trinta, vinte anos, com os olhos opacos der mundos indesejados, jovens imersos na bebida, nas drogas, na desilusão, no comodismo, na conformidade com o estado de coisas, ou revoltados mas derrotados pelas circunstâncias.
Enquanto uma pessoa se mantiver sensível à beleza, ao amor, ao desbravamento de mundos possíveis pode-se afirmar tratar-se pessoa jovem.
Dizer que o amor não tem idade é para dizer ser o amor o elixir da longa vida, é para dizer que, para quem ama, é sempre primavera.
Ninguém deveria perder para o vinho no fato de que quanto mais velho melhor.
Dizer que o vinho melhora com o envelhecimento significa dizer que melhora no sabor.
O vinho envelhecido apresenta melhor sabor para seus degustadores e apreciadores.
O sabor de pessoas mais idosas pode ser melhor para si própria e para os outros.
Com a expressão “o amor não tem idade” se quer dizer que todo ato de amar é eterno; o amor é um bem que permanece para sempre; o amor é para todas as idades. E todas as idades são para o amor.
A expressão amor egoísta é contraditória em si mesmo: onde houver amor não haverá egoísmo e onde houver egoísmo não haverá amor.
O amor a si próprio é a base do amor e traz implícito o amor a Deus; a pessoa que não amar-se a si própria não poderá amar a ninguém, nem mesmo a Deus.
Quanto maior o valor do bem que estabelecermos para nossas aspirações, quanto maior nossa capacidade de decidir bem e de mantermos nossas decisões, aplicação e perseverança mais nos amamos.
Deus é o maior bem. Colocar Deus como nosso maior bem não exclui nenhum dos bens da vida, muito pelo contrário.
A busca do silêncio, na mística, é dita como fazer o deserto. O deserto possui um encanto que o silêncio tem. Tal encanto pode, também, ser saboreado na contemplação do mar, na solidão em meio a uma floresta, em uma montanha.
Existe tal encanto, mas envolver-se mais com o deserto, com o mar, com a floresta e com a montanha, oferece seus desafios.
O silêncio nos permite sorver a delícia da amizade com Deus. Silêncio é cessarem todas as vozes, inclusive vozes interiores; só se ouve a voz de Deus, é quando podemos nos amar a nós mesmos. Só depois de nos amarmos podemos nos aventurar no amor a outras pessoas.
O diálogo se constitui em poderosa ferramenta para amar alguém. Talvez possa se dizer que o diálogo seja uma ferramenta sem a qual não poderá existir o amor.
Escreveu-se atrás:
“Se não se pode dizer que as palavra diálogo e amor sejam quase sinônimas, pode-se afirmar que, onde existe o amor, existe o diálogo e que, onde existe o diálogo, existe o amor.
Em sendo assim, pode-se fazer a afirmação no sentido contrário, ou seja, onde não existir o diálogo inexistirá amor e onde inexistir o amor inexistirá o diálogo.”
Uma afirmação radical.
O amor é uma experiência radical.
O diálogo também é uma experiência radical.
O amor e o diálogo tocam, envolvem, curam, libertam a pessoa amada a partir de do íntimo mais íntimo, a partir de suas raízes.
Os sentimentos negativos, os ressentimentos, precisam ser tocados, expressos, curados; os sentimentos positivos precisam ser confirmados, reforçados.
O deserto, o mar, a floresta, a montanha, cada um tem seu encanto, mas a penetração em algum desses vai custar tempo, dedicação, trabalho.
O encanto de se olhar de fora será substituído por um encanto de se olhar por dentro, mais profundo, mais envolvente, mais exigente.
Assim também as pessoas, assim também Mário/Maria, Antônio/Antônia, Carlos/Carla, Sílvio/Sílvia/ Todos/Todas. Todos e cada um tem seu encanto. Se houver envolvimento de alguém com algum deles aquele encanto exterior fará nascer o encanto interior mais profundo, mais envolvente, mais exigente.
A maioria das pessoas não sabe como atingir tal encanto, o que eqüivale a dizer que não sabe construir um relacionamento de profundidade, o que eqüivale a dizer que não sabe amar.
Muitas pessoas no tocante a amar umas às outras se comportam da mesma maneira que diante de um piano.
Chegam perto, levantam a tampa, tocam algumas notas, algumas até conseguem fazer soar alguma melodia, mas depois param de tocar porque não sabem tocar, baixam a tampa a coisa fica por isto mesmo. Para dialogar com um piano é preciso tempos, estudo, dedicação.
O conhecimento, virtude para dialogar com o piano está no pianista.
Para muitas pessoas o outro é qual um piano, um móvel do qual tira algumas notinhas, mas não é um instrumento. Como instrumento, o piano só existe só para mim se eu sei fazer um jogo com ele, se eu posso assumir as possibilidades que ele me oferece de criar melodias. Pianista e piano entram em jogo, formam uma unidade. A técnica está no pianista, não o objeto, todavia o homem não pode tirar som de violoncelo do piano. Na relação pessoa a pessoa ambos tem de possuir técnicas para o bom relacionamento. Nenhum dos dois pode ser tratado como objeto, ainda que um instrumento musical. Cada um reclama um tratamento respeitoso. Respeitar significa olhar e ver a pessoa, olhar e ver em profundidade. Tratamento respeitoso implica em expectativa de integração, decrescimento, de tomar a iniciativa para isto. A ausência desta iniciativa já se constitui em desrespeito. Se uma pessoa em convívio com outra não está em constante busca de crescimento ela trata o outro como objeto, um instrumento que não tem oportunidade de produzir todo melodia de que é capaz. Cuidar do próprio desenvolvimento e ter expectativa quanto ao crescimento do outro é amar.
Vamos falar um pouco sobre vários tipos de amor.
Amor eros, amor filo, amor maternal/paternal, amor ágape.
A capacidade de amar tem relação com a capacidade de decidir-se pelo melhor da vida e de manter firmeza nessas decisões.
No amor erótico a vontade não precisa agir para que exista, antes precisa agir para que seja disciplinado. Caso contrário se transforma em satisfação de desejos apenas.
No amor maternal/paternal atua o instinto no começo e depois o instinto sai de cena para que o amor possa subsistir.
No amor filo e ágape a vontade age para a escolha das pessoas a quem se ame e para manter vivo o fogo do amor; sem o exercício da vontade estes tipos de amor não sobreexistem. Pode começar tal amor por causa de, mas depois continuar a existir apesar de, principalmente o amor ágape, amor caridade.
No amor erótico sem o domínio da vontade o relacionamento se transforma em coisificação do outro, em busca de prazer físico, em satisfação de desejo.
Para a apalavra amor encontrei no dicionário de grego quatro palavras: eros, a palavra que deu origem a erotismo, que significava amor carnal sim, mas também amor no sentido de envolvimento de assumir o relacionamento: uma outra palavra, potos, só para desejo que não entrou na língua portuguesa; filia, a palavra que aparece em filosofia, ou seja: filo+sofia, amigo da sabedoria; stergueton, uma palavra para significar amor paterno e por fim uma palavra para significar caridade, ágape. Para este significado existe a palavra caris, da qual se origina a nossa palavra caridade. Caris tem o sentido de favor, graça, reconhecimento, benefício. É interessante esse estudo de palavras, de semântica.
Frequentemente o que se diz ser amor não é amor. Às vezes é paixão. Um pinguço ao qual se pague um trago se sente amado e fica amigo, amor duplo, pois.
O amor e o diálogo são duas experiências muito próximas.
O silêncio favorece a ambas.
Se uma pessoa não tem noção clara do que seja o amar e o diálogo, não poderá praticar nenhum nem outro.
O mandamento básico cristão é “Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo.”
Primeira parte: amar a Deus.
O silêncio é necessário para se amar a Deus, pois Deus só se manifesta no silêncio.
Deus só se manifesta no silêncio pois qualquer ruído da parte de Deus seria muito forte para o ser humano.
É difícil também nos silenciarmos a nós mesmos.
Amar a Deus é semelhante a amar ao pai terreno. Ama-se ao pai terreno pelo comportamento e por ouvir o que o pai nos diz.
O caminho para ouvir ao que Deus nos diz é estarmos em união com Ele, pois Ele nos fala através da consciência. A oração é um caminho para ouvir a Deus.
Quem ama a Deus sobre todas as coisas está amando a si próprio, pois amar é querer o bem para a pessoa. Amar a Deus é viver o maior bem que se possa.
Está resolvido então o amar a Deus e amar a si mesmo.
Quanto ao próximo, amá-lo é fazer tudo que esteja a nosso alcance para que tal próximo ponha a Deus como seu bem maior.
Nós podemos motivar as pessoas a amarem a Deus sobre todas as coisas mais pelo que somos e por nosso exemplo. Falar às vezes, além de não ajudar, atrapalha.
Uma pessoa se sente amada quando somos disponíveis para ela, quando somos compromissados com ela, quando lhe damos segurança por sermos confiáveis, mas também amamos quando somos empenhados em seu desenvolvimento. Esta é uma parte das mais difíceis, pois as pessoas gostam de se sentirem soberanas e independentes. No amor é preciso desenvolver a interdependência. A dependência pode ser uma forma de exploração e a independência uma forma de domínio.
Não se pode confundir gostar e amar; posso gostar de uma pessoa e não amá-la, posso amar e não gostar.
A forma de amor na amizade possibilita a escolha e a preferência. Na amizade há reciprocidade, no amor puro e simples nem sempre.
Para alguém ser amigo de outrem é preciso ter capacidade. Esta capacidade se traduz em bondade. Esta bondade pode ser bondade técnica e bondade moral. Oswaldo Cruz que inventou a vacina é nosso amigo; Madre Teresa que foi muito virtuosa é nossa amiga. Nem um nem outra nos conheceu.
A amizade de convivência deve ser mútua.
No rompimento unilateral da amizade o outro pode continuar sendo amigo porque ama aquele que deixou de ser amigo.
O amor conjugal, maternal, paternal filial entra rápido e freqüente na área do ágape, da caridade.
Tais amores existem com base no instinto, mas depois a libertação do impulso instintivo poderá ser a maior demonstração do amor.
Muitos facínoras tem tatuagem no corpo com referência às mães, mas será que tais pessoas foram realmente amadas pelas mães? Será que eles, facínoras que são, amam às mães? É para se pensar.
O amor conjugal é o princípio do amor dentro da família.
O amor maternal e paternal é a continuidade e desenvolvimento do amor conjugal. O maior desejo dos filhos é que os pais se amem. Os filhos tem necessidade desse amor entre os pais.
O amor filial é o correspondente do amor maternal e paternal.
Pode-se falar também em amor fraternal. Não existiu entre os primeiros irmãos, Caim e Abel. Seria importante entender por quê.
No casamento, ou na união entre homem e mulher para que o relacionamento seja completo deverá existir dos quatro tipos: erotismo, desejo, amizade, amor conjugal e caridade. Faltando qualquer um destes o relacionamento não será de qualidade e com risco de durar pouco.
Repito: muitas pessoas estão envelhecidas na juventude e, por tal razão, sem capacidade de praticar, de experimentar o amor real.

Diógenes Pereira de Araújo
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