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Ensaios-->APOCALIPSE COW -- 18/04/2001 - 11:33 (José Pedro Antunes) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A epidemia se alastra, carrega consigo os rebanhos da Europa, semeia o desespero entre os camponeses e desmascara a política agrária como barbárie. Um panorama da vida no campo em situação de emergência.

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Por Götz Schmidt e Ulrich Jasper (DIE ZEIT 15/2001)
Trad.: zé pedro antunes
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A população camponesa alemã em situação de emergência. A propriedade 'Arpshof', por exemplo, no extremo norte, Lüneburger Heide, já há algum tempo se tornou uma espécie de central para a epidemia da febre aftosa. Duas, três pessoas estão sentadas ao telefone, são dois disponíveis junto ao aparelho de fax, ao computador, e perseguem uma informação atrás da outra. Cooperadores e fregueses da fazenda biológica escrevem bilhetes mnualmente com informações de fundo sobre a epidemia, a que todos na região, o maior número possível de pessoas devem ter acesso. São redigidas cartas, endereçadas ao governo do Estado e a ao governo federal. Com a ajuda de advogados, articula-se uma União (Demeter-Verband). Do ponto de vista jurídico, as pessoas querem estar escudadas.
Nenhuma só cabeça de gado deve ser aqui degolada quando chegar a grande epidemia. Fregueses, vizinhos e amigos da fazenda (Arphof) estão em clima de alarme. '25 pessoas estão para chegar com seus sacos de dormir e se colocar diante dos nosso portões de aço, e fazer de tudo para evitar a matança dos nossos animais', promete o bio-camponês Uli Hochstädt. Para que isso não seja necessário, ele quer conseguir que a proibição da vacinação seja, finalmente, suspensa. A semana passada, em companhia de seis aliados, Höchstadt dirigiu-se à sede administrativa daqueles arredores e, ao veterinário responsável, entregou uma resolução. 'Agora não se trata mais de observar parágrafos'. diz Hochstädt, 'mas de seguir a nossa própria responsabilidade, como seres humanos.' A seguir, juntamente com os seus combatentes, o agricultor pretende dirigir-se aos bombeiros, para conclamá-los: Não participem do grande morticínio. Exerçam a desobediência civil.

A bio-fazenda da Família O. na região da Vestfália pode ser alcançada de três lados. Caminhantes - com ou sem cachorro - atravessam a fazenda. Os porcos, aqui, têm Auslauf o tempo todo. A camponesa Ulrike diz: 'Dentro do possível, nós construímos barreiras, impedindo a passagem com Anhänger e montes de feno. Mas a segurança última, de que as pessoas que passam a pé não joguem pão com manteiga pelo caminho, por exemplo, isso nós não temos.' Um dos dois caminhos de acesso, nesse meio tempo, a família tornou inteiramente impedido - com uma faixa vermelha e branca, na qual está pendurado um aviso de confecção própria, pedindo por compreensão. Fregueses preocupados logo passaram a telefonar, querendo saber se não podiam mais comprar no armazém da fazenda.

O Landkreis Unna promoveu no final de março um exercício de emergência para o caso de a epidemia dar uma guinada e chegar à Vestfália. No caso, o conselho regional constata que, em sua região, não existem apenas povoados, indústrias e estradas, mas também mais de 100 000 animais ameaçados. Na emergência simulada, volta a ser descoberta a agricultura esquecida. Pelo caminho que leva até uma fábrica de produtos químicos, passam diariamente mais de 150 caminhões e incontáveis carros de passeio dessas fazendas que, numa ocorrência real, precisam ser isoladas. Como serão manobrados os veículos na zona impedida? Grande desamparo.

Com as epidemias e doenças, o campo volta a ser o tema central da sociedade. Em tempos há muito passados, a agricultura e a criação de gado eram consideradas, de qualquer modo, ainda como rudimentos. Agora, a doença da vaca louca e a epidemia de febre aftosa forçam à compreensão de que a sociedade tem de se preocupar novamente com os fundamentos da alimentação. Para arrancá-las ao beco sem saída a que foram manobradas: o extermínio de animais mostra que a sociedade perdeu toda medida no trato com a economia agrária.

A epidemia é como a beira de um precipício, pelo qual despencam as imagens do passado. Nas cartas de leitores dos jornais locais, em conversas nos locais de trabalho, sobretudo nas festas de família, estas cenas uma vez mais se revificam. São imagens de tempos mal trasncorridos. Fontes de experiência, que se criam soterradas, tornam a jorrar outra vez. Vínculos familiares, ou meras recordações de férias, são reativados. Mesmo o mais esperto dos yuppies encontra, de repente, um antepassado camponês a quem se referir.

Surpreendentemente, aquele ditado sobre os russos nos cabe em cheio: Basta raspar as pessoas com a unha, e surge um camponês. Ou, pelo menos, a aldeia.

Ouvimos histórias como que de um outro mundo. Histórias, nas quais o animal possuía 'laços de família' e um nome; nas quais, leitões moravam na cozinha, debaixo do fogão.. Quando o porco ficava doente, derramavam-lhe chá pelo focinho. Certos camponeses mantinham cabras em suas propriedades, para poder oferecer o seu leite, de especiais poderes regenerativos, às novilhas e aos leitões. Pastagens especiais, as havia, com hortaliças de toda espécie. Dali recolhido, o feno era o remédio para a vaca doente. Ao final dessas conversas, as recordações se fazem perguntas, impropérios, cabeças balançando incrédulas: As vacas não morriam de febre aftosa. Os homens também não. Por que, então, as vacas são hoje eliminadas?

É claro que também antigamente - a despeito das recordações esclarecedoras -. a epidemia era um pavor. Ela se abatia sobre os justos e injustos. Na prece, antes de ir para a cama, muitas crianças camponesas tinham de encerrar o pedido a Deus com: 'Deus, proteja-nos do raio, da geada e da febre aftosa.' Mas, quando a epidemia chegava, ninguém matava os animais. Nos anos cinqüenta ainda, a fazenda tinha sido interditada. Nada entrava, nada saía. Na frente do estábulo, havia um saco embebido em desinfetante. E a família ficava recolhida. Nada mais podia ser vendido, o leite e as reservas de alimento sendo processados e ingeridos pelos produtores. Premidos pela necessidade, a alimentação passava a ser unilateral: papa de trigo, coalhada e, de novo, papa de trigo. A pele ficava rosa-avermelhada e fofa, feito bumbum de bebê. É o que contam ainda hoje os camponeses.

O policial da aldeia - sim, isso havia ainda naquela época - via-se diante de uma tarefa insolúvel: Enquanto vigiava a parte de baixo da rua, na parte de cima as pessoas iam ao armazém. Assim, a epidemia se alastrou mesmo pela aldeia, e em direção à aldeia vizinha, e assim por diante. Muitas vezes, nem sequer as pessoas davam-se ao trabalho de isolar a epidemia. Pelo contrário: Esfregava-se no focinho dos animais saudáveis a saliva de animais doentes. Em três semanas, estando todos 'empesteados', acabavam imunizados. Em regra, morriam os corderinhos em fase de amamentação e uma parte dos bezerros. Também havia, às vezes, surtos de enfermidades bacterianas derivadas, como inflamações das tetas ou nos focinhos. Mas o grosso dos bovinos e suínos era salvo. Hoje os camponeses desencavam os seus antigos manuais. Sobre a frebre aftosa, um certo Herr Schlipf, em 1859, registrou em seu Handbuch der Landwirtschaft [Manual de Economia Agrária]:

'Em geral, não se dispõe de um tratamento médico, uma vez que a enfermidade, na maior parte dos casos, se cura por si própria no espaço de 8 a 14 dias ... Também se pode estimular a cura em se lavando o focinho dos animais muitas vezes com uma mistura de água e vinagre, e untando as patas com preparados de argila com vinagre. Sempre é bom que se mantenham limpos os animais e secos os estábulos, e também que se lhes administre apenas alimentos macios, batatas amassadas, bebidas enriquecidas com fibras de grãos ou farinha, que não precisam ser mastigadas com força.'

Até os anos cinqüenta do século XX, era essa a orientação dominante. Aconselhava-se o trato cuidadoso com os animais doentes. Era inimaginável que fossem mortos e jogados fora. Eram algo valioso, um fundamento da existência.
Há também experiências com a epidemia que são de datas mais recentes. Alemães que vivem na Rússia, no Casaquistão, que trabalharam mais de 50 anos em fazendas de gado do Estado e na agricultura particular, recordam-se, quando muito, de uma ocorrência. Significa que a epidemia absolutamente não varria os estábulos a cada tantos anos, neles se estabelecendo de forma crônica, como faz supôr a expressão 'a epidemia grassa na Ásia'. A epidemia começou nos estábulos em que os animais mereciam o pior tratamento, a ração sendo comprada, mas só administrada no papel. A epidemia alastrou-se pela região. As vacas não morreram. Dos bezerros, morreram, se tanto, dez por cento dos que havia nos estábulos em que as pessoas deles se ocupavam, trantando-os como enfermos. À idéia de que a Europa elimina milhões de animais, os alemães da Rússia experimentam o mais puro horror.

(continua)
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