Ao tomarmos consciência de que a poesia é importante para o amadurecimento intelectual de um povo, mas que de forma ridícula, é repudiada pela sociedade, lamentamos. É impossível permanecer tranqüilo. Lembremos que não é a poesia que depende de outras manifestações culturais, mas que em tudo referência: nos batuques, no samba, no bumba-meu-boi ela é ritmo, ressonância. "Os sururus em família têm por testemunha a Gioconda(...)". A poesia genuinamente maranhense não é admitida com facilidade, várias são as barreiras, entretanto existem muitos grupos que se arriscam e se comprometem com a poesia. Isso é omitido. Dessa forma, que me perdoem os mais sensíveis, continuamos sendo pretos. Pretos, mas com garra, administradores de uma causa que será vitoriosa com o tempo. Poeta não pode viver de livro e nem de poesia, principalmente aqui em São Luís, porque vai morrer de fome ou ser despejado por não pagar as contas, não restando nem o cortiço para se abriga. Isso vai mudar com nosso esforço. Não é intenção nenhuma obrigar a compra de livros ou forçar a leitura de nossos trabalhos, mas é necessário mostrar a realidade da poesia.
Para esse quadro repudioso mudar, estamos trabalhando aos trancos e barrancos. Quem pensa que nada acontece em nossa poesia, engana-se. Ela não se esconde por trás das palmeiras, nem solicita gorjeta por versos, infelizmente ela está exilada momentaneamente. Mas um dia a guerra acaba, e todos voltaremos à terra natal. Ler é importante, "não custa cem mil réis", é possível encontrar livros a preços acessíveis para todos. E nós, homens-poetas, não precisaremos escolher a poesia e nossa vida profissional. Resta apenas aceitar o dom de escrever. Alguém tem que fazer arte, ela não vai morrer sem o direito de uma luta justa.
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"MENDES, Murilo". Canção do Exílio, 1959. |