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Contos-->MORTO POR INDIGNAÇÃO -- 28/10/2002 - 01:25 (Danna D.) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Não mais suporto tamanha indignação. Saturei!
Estou indignado com a vida. Com tudo, enfim.

Indignado com o amor proibido que em mim viceja e se expande, como raiz de árvore venenosa. Indignado com ela, misto de anjo – demônio, objeto oculto da minha perdição. Indignado com as suas inconseqüência e total incapacidade de perceber o estrago, que em minha vida causou. Impudica e dissoluta desde tenra idade, seguiu curso próprio, julgando que os pecados do passado tivessem sido escritos sobre água. Pensa, então, que ninguém sabe, ninguém viu? E eu? Por acaso não tenho memória?

Indignado pela má sorte, que me brindou com triste herança materna. Maldita enfermidade – melancolia - que turva meu caminho e oscila meu humor. Tendência suicida que se arrasta pelo tempo e me conduz para o fim.

Indignado pelas desconfianças do meu pai, a me acossarem quando adolescente. Notei-o, noites seguidas, ostensivamente, observando a mim e minha irmã. Afinal, o que é isso? Será que ele pensa que sou algum anormal? Não vê que seu ato ofende minha dignidade, minha honra de homem? Jamais esqueci essa afronta. Nunca o perdoei.

Indignado com minha atual amante, mulher volúvel e destrutiva. Incapaz de manter uma relação saudável, sempre foi pasto de muitos homens. Por ela briguei até com a família, que não a aceitavam por seu passado duvidoso. Tratei-a como gente e a canalha me refugou.

Indignado com os amigos – todos. Traíram-me da forma mais torpe possível. Fizeram-me de bobo, de marido traído. Muitos me usaram, locupletando-se dos meus conhecimentos e dos meus esforços. Outros, me sugaram a energia e a benevolência. Enfim, todos se aproveitaram.

Indignado com a tibieza do homem que, por direito, deveria zelar pela virtude daquela que elegi como o amor da minha vida - meu amor proibido. Afinal, ela era sua noiva! Indignado por sua incapacidade em contê-la. Incompetente para satisfazê-la, deixou-a cair em mãos estranhas.

Indignado com os mestres que sempre teceram elogios às minhas capacidade e competência. Todavia, levados pela vaidade e pela cobiça, me preteriram aos mais fracos. Estes, filhinhos mimados de pais ricos, podiam, certamente, lhes aumentar a renda.

E somem-se muitas outras indignações que se vêm acumulando com o tempo e só fazem transbordar meu cálice de tolerância. Cansei! Preciso somente decidir a forma mais acertada para sair dessa vida, tão digno quanto entrei. E principalmente, atingir a todos que, de alguma forma, compactuaram para que eu chegasse a tal estágio de desespero.
Quero provocar o impacto de uma bofetada, de um soco, de um murro, na cara desses tantos que me causaram indignação.
Meu objetivo primordial é ela! Sim, ela, minha irmã querida, frágil e dependente. Não consigo mais tolerar seus desmandos. Tenho certeza que ignora meu amor incestuoso, mas isto não a absolve. Nossas brincadeiras de crianças, nossas descobertas sexuais, tudo ficou para trás. Sei que se lembra, mas não se importa. Não significou nada. Se não fosse comigo, seria com qualquer outro...

Estou sentado defronte ao espelho do armário. Meu quarto, uma bagunça só. Revirei gavetas, manuseei revistas e achei. Lá estava ele, meu velho amigo, sempre escondido por meus pais. Guardado em local seguro, o velho “38” deverá fazer um bom serviço. Decido dar-me um tiro na boca.
- Assim esfrangalho, de uma vez por todas, este cérebro sofredor.
Seguro a arma com a mão direita. Tenho que olhar para o espelho e a visão é medonha. Tremo. Por um instante penso na reação daqueles que me acharem. No sofrimento. Sentir-se-ão culpados? Porém, a vontade de me vingar é superior. Minha decisão já está tomada e não há como voltar atrás.
- Não tenho muito tempo, daqui a pouco todos estarão de volta.
Concentração máxima. Arma firme na mão. Aperto o gatilho.

Uma explosão em vermelho!
Em mar rubro caudaloso sobrenadam múltiplas partículas de tecido nobre. Sangue, muito sangue...
Tudo acabado para mim.


Escrito em 26/05/2002



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