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Roteiro_de_Filme_ou_Novela-->MARCELO MASAGÃO: o cinema brasileiro feito em casa -- 18/06/2003 - 03:51 (José Pedro Antunes) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Para Marcelo Masagão, fazer cinema no Brasil "é mais ou menos como criar baleias numa piscina". Com "Nós que aqui estamos por vós esperamos", sua cria mais bem-sucedida, gaba-se o cineasta de ser, ao lado de Renato Aragão, um dos raros no Brasil a recuperar o investimento. Boa piada, claro. Foram 140 mil dólares (ou reais, na época do um por um). "Como não tinha grana, precisei usar milhões de neurônios (foram 2 mil horas na mesa de montagem, "talvez um pouco mais, talvez um pouco menos", para usar o jogo de palavras, digo, de estatísticas, do curta "Um pouco mais, um pouco menos"). Mais de 40 mil espectadores garantiram este sucesso brasileiro feito em casa. Por mesa de montagem, entenda-se um PC, digamos, quase comum.

Antes de abraçar o cinema, o criador do Festival do Minuto fez Psicologia na PUC, participou de projetos de pesquisa ligados à sanidade mental coletiva e fez de tudo no ramo da publicidade. Num filme que se quer uma leitura de "História do Breve Século XX", de Eric Hobsbawm ("O historiador é o rei"), não são casuais as enigmáticas referências a Freud ("Freud é a rainha").

Em sua fala, no evento Fotograma (SESC/Araraquara), o cineasta diz que não seria quem é, nem teria feito o que fez sem a psicanálise. Anos de terapia, que ainda está em processo de continuidade.

O segundo longa é também um documentário: "Nem gravata nem honra". Em lugar da História, as histórias individuais de Cunha, no interior São Paulo: "Documentário é: o resultado do encontro de dois neuróticos (ou mais) intermediado por uma câmera". E o enigma: "Freud é homem", "Freud é mulher". Nas falas de pessoas comuns, a psicanálise já incorporada, de certa forma, em certa medida, ao jargão cotidiano.

O uso muito particular da palavra escrita, sobre as imagens, tornou-se marca registrada desse cineasta que está em plena campanha contra o uso indiscriminado da fala. Se falássemos 50% menos, acredita, as coisas ficariam mais claras.

A primeira versão foi mostrada aos entrevistados, que voltaram a ser filmados como espectadores. Assim, eles aparecem incluídos na versão final, dialogando consigo mesmos e com os demais. O resultado e dinâmico e interessantíssimo. A trilha sonora é de André Abujamra, que inclui composição de Wim Mertens (e não Wim Wertens, como se confunde um articulista, certamente admirador do alemão que fez "Buena Vista Social Club"). Era de Mertens, compositor minimalista belga, a música que pontuava "Nós que aqui estamos..."

Entre outros dados, logo no início um letreiro faz saber que Cunha tem 3 igrejas e um cinema. Aparece, então, o Cine São José (segundo Masagao, um cinema desativado, por isso mesmo, na seqüência, surge um dono de locadora, com dados sobre os gostos da população cinéfila local). No final da película, ao falar dos pais, uma das entrevistadas lembra-se de uma foto, a mais bonita, em que o casal aparece de costas, indo para o cinema. E o filme termina justamente com a fachada do Cine São José. Sobre ela, um fotograma de "Um homem com uma câmera", de Dziga Vertov, o cineasta preferido de Lênin, já citado anteriormente em "Nós que aqui estamos...".

Além de ser um painel do que pensam representantes de 22.508 habitantes sobre os papéis do homem e da mulher, o documentário celebra as possibilidades democráticas do cinema. E visível o encanto com que as pessoas se vêem falando e espelhadas nos demais. Chama a atenção a cordialidade e a tolerância com que os vários pontos de vista convivem, se justapõem, se completam.

Fazer "Um pouco mais, um pouco menos" foi, entre outras coisas, a realização de um antigo desejo: sobrevoar São Paulo. Desta vez, Masagão teve um roteirista: Gustavo Steinberg, o mesmo de "Cronicamente Inviável". Sobre a continuidade do projeto, que previa olhar Rio de Janeiro, Brasília e outras cidades do ponto de vista de um helicóptero, a resposta foi negativa.

Entre estatísticas (letreiros), fotografias das mãos, que caracterizam o ser humano, sua ação sobre o espaço. Por elas, ele deixa de ser um numero, se individualiza. Na imagem final, uma mão e os dizeres "Aperte o botão e aguarde".

O curta foi realizado sob encomenda, para uma empresa interessada em direitos do trabalho. Para realizar o projeto, o cineasta impôs suas condições: poder usar as estatísticas da forma como bem entendesse. Para amenizar o peso dos tantos dados, num dado momento a frase que relativiza o título: "Talvez um pouco mais, talvez um pouco menos". Mesmo que os dados garantam: há uma pizzaria para cada semáforo na cidade de São Paulo. Mesmo que etc. etc. etc.

Dividida entre obsessivos e histéricas, a cidade é uma "Reunião de desejos para propagação de falhas / Efeitos colaterais: satisfação de humanos".

Ou: "Reunião de humanos para realização de desejos / Efeitos colaterais: propagação de falhas".

Uma citação de Lênin, que também está por trás dos dados históricos de "Nós que aqui estamos...", é decisiva para a compreensão deste uso tão peculiar do que é matemático e lógico: "a dor de 1 é tragédia, a dor de 1 milhão é estatística".

No momento, o cineasta aguarda a certeza de uma distribuição eficiente para o terceiro longa: "1,99". Enquanto continua a zelar por uma outra cria, o Festival do Minuto, uma invenção para inventores. Se "fazer cinema no Brasil é mais ou menos como criar baleias numa piscina", o Festival do Minuto também pode ser visto como uma excelente opção, mais realista e mais democrática do que querer ser Hollywood: Por que não criar uma porção de belos peixinhos pequenos?
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