O conceito de amizade é muito contestável. Se observarmos o comportamento humano veremos que grande parte da “essência” da amizade tem a ver com o conceito de imagem. Enfim, um amigo é uma pessoa que compra sua imagem. Mais do que sua imagem, no entanto, ele compra você, seus pensamentos, sua historia de vida, seu modo de ser e os fatos lhe acometem.
O termo comprar é diretamente impróprio, mas se levarmos em consideração que um produto no mundo comercial só vende se agradar o público, veremos que as pessoas que consideramos amigas são agradadas por nossa imagem e conteúdo. Na verdade, o conteúdo é outro departamento pois pode ocorrer de alguém comprar apenas a imagem do próximo.
Podemos então hipoteticamente observar um grupo de amigos conversando num bate- papo normal. Estas pessoas interagem umas com as outras. Neste momento algumas regras tem de ser respeitadas. Regras implícitas. Uma delas é saber ouvir. É considerado falta de educação interromper alguém que está falando. Quando o indivíduo fala, fala para um ouvinte. Enfim, há uma comunicação. Portanto você fala para alguém. Este alguém é amigo, escuta você mesmo que não esteja realmente interessado. Afinal de contas, vocês são amigos e amigos não vão deixar que algo que seja relevante para um pareça não ser relevante para o outro. Interessante lembrar que por outro lado também existe a idéia de que o verdadeiro amigo é aquele que interage com você naturalmente. Se fomos pensar desse ponto de vista que é o real, será possível concluir que a amizade não existe e sim uma relação de compra e venda.
A melhor maneira de imaginar isso é analisando uma suposta conversa entre dois amigos.
Amigo A começa a contar uma historia que se passou com ele para B. O outro escuta. Ao escutar o amigo A, B está comprando- o demostrando interesse pela história narrada por A. O pagamento é a amizade. Ou a circunstância de amizade que ocorre no momento. Mas B também necessita vender sua imagem, sua amizade. Então ele retribui com outra historia...quem compra agora é A.
De outro ponto de vista podemos dizer q A vende amizade recebendo em troca amizade e vice versa. Para este tipo de compra e venda conceituamos o termo amizade.
Outro ponto a se observar é que num círculo de amigos cria se um universo paralelo de carisma que produz um efeito notável. Neste universo cada membro sabe da existência do próximo além de algumas coisas sobre sua vida, sua personalidade e seus planos. Uma vez que cada membro tem estas informações isto significa que há um interesse de um pelo outro.
Este universo paralelo produz o efeito de um membro vender sua imagem mais facilmente se apoiando na imagem e desfrutando da popularidade de outro membro para por em evidência a imagem de terceiro e com isso obter audiência para si. Basicamente é isso que move um círculo de amizade.
Então, por exemplo, sempre há o que fala: ” nossa vocês não viram o que fulano(este do círculo) fez agora pouco....tal, tal e tal”. Fazendo isso ele produz o efeito descrito acima.
A convivência produz muita influência sobre isso tudo... a falta dela faz com num círculo de amigos no qual um membro parou de conviver com freqüência sofra uma espécie de “queda de audiência”. Todos os membros se agradam com este ausente, mas como pararam de conviver com ele deixam de interagir. A amizade vale aí porque todos sabem que este ausente tem um potencial de amigo dentro dele q será externado a qualquer momento e fará com que novos ciclos de fatos aconteçam e ele volte a interagir naturalmente mais uma vez no círculo. Se este ausente não desenvolver este potencial de amigo externando-o de imediato, o resto do círculo acabará por concluir que este não mais compartilha dos mesmo interesses. Consequentemente, aos poucos, ele vai deixando de ser visto como um membro. Isso por que? Porque o ausente não externalizando seu potencial de amigo não vende sua imagem aos outros com também não paga à alheia. Se ele quiser continuar tendo o seu potencial mantido sem precisar desenvolv6e-lo, terá de, mesmo não vendendo a sua, comprar a imagem dos próximos. Só que desta forma a “moeda “do ausente é desvalorizada. Isto acaba por criar uma compra e venda onde o indivíduo ausente compra amizade e o outro ainda no círculo compra potencial de amigo.
O presente dado pelo ausente e recebido com gosto pelo outro é uma forma de estimular a interação após o afastamento. Com a dádiva, o ausente compra uma espécie de “Pacotão Amizade”. O membro presenteado sente vontade natural de estimular muito mais o potencial de amigo do ausente que o presenteou. Este “Pacotão Amizade” proporciona ao ausente uma garantia de que será amigavelmente estimulado a desenvolver seu potencial de amigo.Com mais estímulos fica bem mais fácil para este se reintegrar no círculo caso assim o deseje.
Esta relação como todas as outras e como a própria vida, conforme tenho recentemente concluído, é venenosa.
