Viajando estava uma noite com o espírito absorto, estrada vazia, noite sem lua. O carro deslizava sobre a pista que agora, depois de algumas centenas de metros, começava a se tornar íngreme adentrando uma rampa. Teimoso que sou pisei fundo para ver se o carro respondia e mantia o ritmo. Perda de tempo. Os poucos centímetros à frente deslocados pelo acelerador não foram suficientes para atingir minha meta: manter a velocidade no fim da subida. Como sempre mais uma vez pratiquei uma ação que estava fadada a não produzir efeitos objetivos.
Por alguns instantes deixei-me levar por estes pensamentos. Tantas coisas fiz até o presente momento; poucas, no entanto, produziram os efeitos objetivos desejados. Os dias passam e insisto em praticar atos desprovidos de efeito. As coisas chegaram ao ponto de equipararem-se à um vício.
Mas o que importa tudo isso? Nos segundos anteriores à todas as ações por mim praticadas sempre houve um planejamento. Sempre houve uma simulação de como tudo sairia após a ação ser executada.
Neste instante de brilhante estupidez o efeito que se observou foi todas as vezes muito favorável e objetivo. Portanto, se consegui, mesmo que por artifício, produzir o efeito desejado dentro de minha cabeça de modo virtual, então minha ação foi bem sucedida.
Quando escrevi estas linhas planejei, simulei e executei uma ação com seu respectivo efeito sobre o eventual leitor. E neste sentido continuarei a partir deste ponto. O efeito de tecer linhas com palavras e textos com as linhas. Não é preciso existir exatamente um conteúdo para produzir efeito de tecer linhas com palavras e textos com as linhas. Não há necessidade de entreter, muito menos de informar. Apenas o efeito de tecer linhas com palavras e textos com as linhas...
Neste momento sinto-me satisfeito. Dentro de minha cabeça estou produzindo o efeito planejado. O efeito de tecer linhas com palavras e textos com as linhas.
Pode ser que você agora perceba o quão imbecil tenho sido desde os últimos parágrafos. Ainda assim quero que o leitor inevitavelmente absorva o efeito de tecer linhas com palavras e textos com as linhas. O efeito de tecer linhas com palavras e textos com as linhas, o efeito de tecer linhas com palavras e textos com as linhas...
E num desfecho incerto de mais um ato praticado por mim não sei como será o efeito real e futuro que se dará. Pouco me importa a opinião do leitor agora. Pela primeira vez consigo produzir exatamente o efeito desejado. Se isto é uma palavra e esta continuação compõe uma linha que somada à anterior produz um texto, minha atitude foi perfeita.
Para quem pisou fundo na estrada uma noite sem produzir efeitos;
Amou sem produzir efeitos;
Acreditou sem produzir efeitos;
Mentiu sem produzir efeitos;
Chorou sem produzir efeitos;
Isolou-se sem produzir efeitos;
Produziu efeitos sem produzir efeito... isto aqui é um grande Feito.
Como gostaria de enfatizar, um efeito “é feito”. Efeitos são feitos. Tome como exemplo o efeito de tecer linhas com palavras e textos com as linhas. Sem dúvida nenhuma isto É FEITO.