O pequeno país era uma paraíso. Não pelas belezas naturais. Tudo se devia a um engano na redação de suas leis. O texto da lei dizia: todos receberão (em lugar de pagarão) o valor das despesas que realizarem e dos serviços que lhes forem prestados. Leis antigas, ninguém tinha coragem de mexer nelas. A economia do país funcionava assim: se alguém comprava uma mercadoria, recebia o valor correspondente. Se pagava contas com atraso, recebia juros e correção. Empresários recebiam ordenado dos empregados. O governo pagava imposto ao povo e recebia das empreiteiras os serviços realizados.
Era até gozado de se ver: os corruptos é que pagavam propinas à s suas vítimas. Claro, aí se tratava de um caso de amor à camisa, para não perder o jeito. Os corruptos eram figuras apreciadas e estimadas por todos.
Esse regime parece ideal, mas surgiu um problema. Numa pesquisa, verificou-se que a taxa de depressão e suicídio no país era uma das mais altas do mundo. As coisas eram muito fáceis, quando alguém precisava de dinheiro, era só sair fazendo umas comprinhas. Fazia falta aquela sensação de dificuldade, de guardar um dinheirinho para comprar a geladeira.
O problema foi debatido na càmara. A oposição bradava: é preciso acabar com essa justiça social! O povo deseja pagar pelo que compra! Técnicos em economia encontraram uma solução: a criação do imposto negativo. Eu explico: foi criado um imposto de menos 30% para todos. Como menos com mais dá menos, ao invés de receber teriam de pagar. O governo achou que isso era bom! Com o sucesso do Plano Negativo, os empresários seguiram o mesmo esquema. Tabelavam os preços em "menos Y", ou concediam desconto de menos 200%, opções em que o consumidor pagava o preço integral. A lei não dispunha nada sobre isso.
Não digo que tenha resolvido o problema de suicídios, mas o país virou um paízinho sem-vergonha, cheio de ladrões e aproveitadores.
