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Contos-->O Quadro ( III ) -- 30/10/2002 - 17:27 (cumpadri) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Terceira parte do conto: O Quadro


Ana de costas voltas para Carlos dirigia-se para a porta de saída mais próxima daquele maldito pavilhão transformado em sala de exposição de pinturas e afins, os dois metros que a separavam, a afastavam para sempre do seu mais que todos, pareceram-lhe uma distância infinita.


No primeiro passo desesperou, chorou, amaldiçoou o momento mais infeliz, trágico, frustrante da sua vida, aquele em que percebeu o valor e o sentido sentimentalista da tela de Carlos, pois foi nesse momento em que todo o seu orgulho, no qual se baseava toda a sua força e autoestima, e todos os seus ideais, nos quais ela tinha fundamentado quase todas as suas acções, quase toda a sua vida, se desmoronaram, pois Carlos não sendo um artista revolucionário era muito melhor do que ela, toda a inveja e todo o ódio que sentiu pelo seu amado nessa altura reinvadiram-na tornando-se tais sentimentos ainda mais vivos e fortes no coração de Ana; no passo seguinte viveu as alegrias da sua vitoria no concurso e todas as esperança que desse êxito jorraram; no pequeno passinho seguinte reacenderam-se nela todos os cansaços e alegrias e tristezas e incompreensões e crenças e descrenças que viveu durante a idealização e materialização da sua tela, das suas telas; noutro passinho mais à frente reviveu o primeiro beijo entre ela e Carlos, as primeiras caricias, as palavras dulcíssimas que disseram um ao outro e um do outro, no passo seguinte foram as recordações dos primeiros elogios aos seus desenhos que a invadiram: ‘Que lindos’, ‘Tens muito jeito para fazer rabiscos, olha que engraçados’, ‘Esta miúda é genial irá com certeza dar muito ao Mundo, se é que não o virá a marcar, a mudar.’, blá!, blá!, blá!,...; quando estava a alcançar com a sua mão a maçaneta da porta reviveu o primeiro dia em que os nossos dois jovens se olharam, se falaram, tocaram, conheceram, reconheceram,...


Devido à palavra reconheceram ter surgido nos seus pensamentos, Ana sem mais hesitações saiu bruscamente do pavilhão, da mesma forma fechou a porta, o que fez com que o vidro desta se partisse em mil pedaços, o ódio e a raiva por Carlos voltaram a tomar conta e a estilhaçar também o aparentemente forte mas na realidade frágil coração da rapariga. É claro que para uma mente racional duas pessoas que nunca se conheceram não se podem reconhecer no primeiro olhar, na primeira palavra, no primeiro gesto, pois isso não é coisa de pessoas inteligentes, racionais, mas sim de gente irracional, de fé! Não!, eles nunca se tinha reconhecido no primeiro encontro. Só por leva-la a tais pensamentos Carlos era sem duvida o mal, a tentação, tinha de o matar a mal ou bem dentro de si, pois ele fazia-a duvidar da razão e dos resultados benéficos da revolução, nos seus pensamentos o nosso jovem era a incarnação do demónio, do capitalismo puro e selvático, ou pelo menos um filho dele.


Apesar de toda a racionalidade que Ana tentava empregar nas suas decisões, na sua vida, Ana não resistiu e pela janela, agora sem vidro, da porta pela qual tinha abandonado o pavilhão, olhou mais uma vez para Carlos, para os olhos de Carlos, este fixava-a deste que tinha sido resgatado de uma qualquer letargia pelo som da porta a bater e do vidro a estilhaçar, correspondeu-lhe e assim permaneceram os dois até que alguém do lado de fora do pavilhão gritou:
- Ana!, Ana!
Este grito nasceu das entranhas do presidente do júri do concurso o famoso pintor José de Fonseca. Este chamamento foi para a rapariga uma verdadeira operação de resgate, pois conseguiu desviar sem grandes sobressaltos o seu olhar dos olhos de Carlos.

Entretanto o famoso pintor já abraçando Ana e dando-lhe os parabéns por mais uma vitória e uma soberba tela disse:
- Vem até minha casa, menina, vamos comemorar a tua brilhante vitória.
- A minha brilhante vitória e...
- Sim o teu estrondoso e saboroso êxito que de certa forma também é meu, visto que muito do que sabes foi-te ensinado por mim. Vem!, vem até minha casa comemorar como é de praxe!
Ana abanado a cabeça respondeu afirmativamente ao convite, mas antes de abandonar para todo o sempre o seu amor não resistiu a entregar-se-lhe por inteiro: fixou com os seus olhos os dele, Carlos ainda não tinha desistido de a olhar, e sem fazer um único gesto, sem dizer uma única palavra, usando apenas o brilho dos seus olhos – a linguagem da alma – confessou-lhe o seu amor e as razões por o abandonava, ele iria ser tudo o que um dia ela tinha sonhado ser! Carlos apenas percebeu que ela tinha sido totalmente sua durante aqueles instante, que o amava, mas que por qualquer razão não podia ou não queria ficar com ele. Uma lágrima solitária viajou tristemente pelo rosto de cada um deles. Ana virou-se de costas para Carlos e partiu com José sem olhar para trás uma única vez mais. Ao rapaz restou como consolo saber que a sua mais que todas naqueles breves segundo tinha sido dele como nunca seria de mais ninguém!


Continua no conto de título: O Quadro ( IV )


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