A rosa labial, encarnada
Tranca fervores, que o beber não apaga,
Sangra a brasa, que o olhar não viu,
Segredo fosco, um fumegante ardil.
Essa escultura de desejo venal,
Atrasa os minutos, faz o sol mais quente,
Nega-me a travessia do voraz portal
E emudece o sonho de quem quer que adentre.
O encanto é o avesso da áspera areia,
É a maciez severa de uma seda fina,
Envenena, afoga, fogo, ao peito, ateia,
A chama dança virgem, ao brilho purpurina.
Orgulhosa, rejeita o céu, na terra fulgura,
Envaidece o estrelar noturno, cintilante,
Majestade imperial, quer ser a própria lua,
Esquece a sombra, não permite nada mais brilhante.
E embebeda o garbo jovial cantante,
Jura um mundo pleno, num sussurro.
Entrega-se à posse do feliz amante,
Beija de lábios santos o cálice puro.
|