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Ensaios-->Má-Fé: ou a Recusa da Liberdade * -- 12/01/2002 - 15:43 (Taitson Alberto Leal dos Santos) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Má-Fé: ou a Recusa da Liberdade *



“Fazemo-nos de má-fé como quem adormece e somos de má-fé como quem sonha”- Sartre

A Má-Fé é costumeiramente comparada à mentira. Não deixa de haver crédito em tal suposição, mas a Má-Fé seria, essencialmente, uma mentira que o sujeito faz a si mesmo. O sujeito que está na Má-Fé trata de mascarar uma verdade que lhe seja desagradável ou apresentar como verdade um erro agradável, vivendo, assim, sob uma máscara, onde oculta sua face e o que realmente é.
A Má-Fé não é um ‘estado’, não se sofre de e não se infecta de Má-Fé. Na Má-Fé, enganado e enganador são a mesma pessoa, ou seja, aquele que mente e aquele a quem se mente são unicamente a mesma pessoa. Para tanto, o indivíduo que mente a si mesmo, sabe e tem inteira consciência do que está ocultando, a fim de ocultá-la da melhor forma a si. Vejamos, entretanto, por que o homem opta pela Má-fé:
Somos livres para realizar nossas escolhas, todavia, somos, também, responsáveis por elas; tal responsabilidade acarreta a Angústia. Nos angustiamos quando temos de fazer determinadas escolhas, por não termos uma moral que nos guie. Ou melhor, outros tentam criar ou nos mostrar que existe tal moral, mas o homem que não vive na Má-Fé não aceita uma moral institucionalizada (por crer que esta não o satisfaz). Ele faz suas escolhas e assume as responsabilidades. “O sentido que escolhemos para a vida será nosso valor, e a escolha é a própria afirmação do valor escolhido”(S. GALLO).
É preciso deixar claro que a angústia advém no ato da escolha e não após ter sido feita. Esta angústia explica-se “por uma responsabilidade direta frente aos outros homens que ela envolve” (SARTRE). O homem de vida autêntica não se penaliza por ter deixado uma das escolhas para trás, ele aceita a que foi feita. “O que escolhemos é sempre o bem, e nada pode ser bom para nós sem que o seja para todos”.
Não assumindo sua liberdade o homem termina por refugiar-se na Má-Fé. Esta consiste no fato de nos agarrarmos a uma identidade dada por outrem, mesmo que saibamos que seja falsa. O sujeito agarra-se a essa identidade pelo simples fato de se sentir melhor. Portando tal identidade ele “deixa” de ser vazio e não se angustia, ele burla o nada, ou antes, crê que o burla. O agir de Má-Fé faz com que o sujeito viva uma vida-inautêntica (conceito criado pelo filósofo do Caminho do Campo). Nesta vida inautêntica o homem esconde-se atrás de desculpas e inventa um determinismo, deixa que o outro escolha em seu nome: torna-se coisa. Neste contexto, como se dá uma existência autêntica? A existência autêntica é a recusa da Má-Fé e está fundada na Liberdade. Segundo Sartre, o homem está “condenado a ser livre”, pois a única escolha que não pode fazer é a de ser não-livre, mesmo quando escolhe não escolher, ainda assim está escolhendo. “Condenado porque não se criou a si próprio; e, no entanto, livre porque, uma vez lançado no mundo, é responsável por tudo quanto fizer”.
Assim entendido, o ideal de sinceridade parece algo impossível de se realizar, pois estaria em contradição com a consciência. Para ser sincero devo ser o que sou; mas como a estrutura do Para-si (homem) é não ser o que se é e ser o que não é, torna-se impossível a sinceridade. Para se fugir dessa aporia, o sujeito deve fugir para a Liberdade de boa vontade, aceitando e assumindo suas escolhas como o que é, para não mais ser o que não é.


Taitson Santos


* Texto publicado em 'A Tribuna Piracicabana' - 14/08/2001.


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