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Ensaios-->Os Valores Naturais Sadianos -- 12/01/2002 - 15:45 (Taitson Alberto Leal dos Santos) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Os Valores Naturais Sadianos *




Sade, em A Filosofia na Alcova, deseja educar. De imediato inicia sua obra com a epígrafe “A mãe prescreverá sua leitura à filha”: nada mais educador! Contudo, o educar supõe valores; e o Marquês os tem! É sobre estes valores que gostaria de discorrer.
Numa concepção materialista, quem legisla o que será o bem e o mal é tão somente o homem. À Natureza pouco importa tais conceitos ou valores, pois não tem finalidade e não serve a uma razão superior; entretanto, conforme Holbach, a natureza é inteligível e racional, pois pode ser compreendida e explicada pelo homem. Sabe-se que Sade se interessa muito pelos philosophes do séc. XVII – La Metrie, Holbach, dentre outros – todavia, leu-os bem ao seu modo, tomando-lhes o que lhe interessava. Percebemos claramente na obra sadiana um télos na Natureza.
A Natureza, em Sade, tem metas traçadas para suas criaturas: é um agente onisciente distinto de Deus. A Natureza sadiana não pode ser tomada como um deus (ou Deus), mas antes, segundo suas palavras, um agente universal.
Sade desenvolve a idéia de que o movimento é inerente a matéria e que as combinações deste movimento nos são desconhecidas. Conclui, então, bem ao seu estilo, que a matéria, devido à sua energia, cria, conserva e mantém a tudo: as planícies, as esferas celestes... Tudo isso, ao ser contemplado, nos enche de emoção e respeito; e qual a necessidade, então, de se buscar um agente estranho a tudo isso, uma vez que tudo isso que admiramos não passa de matéria em ação?
Segundo o criador da Sociedade dos Amigos do Crime, as virtudes, calcadas na moral religiosa, são contra a Natureza Humana, impedindo-a de ser feliz. Sade constrói uma filosofia em que o incesto, o assassinato, o roubo e os excessos libertinos são fundamentados na Natureza. Sendo a natureza “um princípio criador onisciente, que tem metas traçadas para as suas criações. Ocupa, portanto, o lugar de Deus. A natureza, em Sade, é deus destituído de divindade' (A. C. BORGES).
Ora, sendo natural, por que assim não o somos? A resposta do Divino Marquês é que nunca deixamos de seguir nossos impulsos naturais, entretanto, somos como que forçados a todo instante a controlá-los e impedi-los. Isso se deve ao fato do homem ter optado por seguir a um Ser onipotente e onisciente e Seus mandamentos. Destas leis metafísicas universais surgem as virtudes, que tendem a impedir os excessos naturais ao homem, afastando-o da Natureza. Diz o Marquês: 'Haverá algum sacrifício feito a essas falsas divindades que valha um só minuto dos prazeres que sentimos ultrajando-as? Ora, a virtude não passa de uma quimera cujo culto consiste em imolações perpétuas, em inúmeras revoltas contra as inspirações do temperamento. Serão naturais tais movimentos? Aconselhará a natureza o que a ultraja?'.
Outro dado importante quanto a não entrega de si às leis naturais é o que diz respeito à voz da natureza: “a natureza, mãe de todos, só nos fala de nós mesmos”, afirma. Entretanto, nem todos podem ouvi-la; somente o fazem os indivíduos que se encontram preparados: tarefa esta para a educação. A educação libertina visa a supressão das virtudes e o incentivo ao assassinato, ao roubo, ao gozo... Ações essas encontradas na natureza, pois são necessárias a ela.
Conforme Augusto Contador Borges, os libertinos – estes, os que ouvem a Natureza - são os indivíduos capazes de reproduzir no ambiente humano, materialmente, as condições naturais. A diferença existente entre o libertino e o filósofo é tênue: quiçá, os filósofos estejam mesmo aquém dos libertinos, uma vez que estes além de serem intérpretes racionalistas da Natureza, também desempenham, em meio às Suas criaturas, Sua Vontade. E, aos que se opõem a estas premissas, responde-lhes o Marquês: “não há nada de horrível na libertinagem porque o que ela inspira também se encontra na natureza”.
A Natureza, no pensamento de Sade, é necessária e imprescindível. Toda sua filosofia e sua libertinagem estão argumentadas segundo os princípios naturais. Tudo o que parece errado, segundo a virtude, é certo, visto na Natureza. Todas as ações que parecem chocar as leis, ou as instituições humanas podem ser demonstradas na Natureza, dirá o libertino. Com seus argumentos enraizados na Natureza, Sade se livra de extensas explicações: o que é natural não se discute, ademais, o natural não está no campo da moral. Daí tantas críticas às suas obras, considerando-as cansativas ou repetitivas. Sade não desenvolve longamente seus discursos, limita-se a repetir diversas vezes o que afirmou anteriormente; ao discorrer sobre a destruição, o incesto, o roubo, a sodomia, o autor rapidamente desenvolve sua retórica e parece chegar sempre ao mesmo lugar: é natural, pois encontramos as mesmas ações na Natureza. Os únicos valores a serem seguidos são os encontrados na Natureza - aceitando a ‘contradictio in adjecto’ existente. Após esta conclusão, seus personagens passam imediatamente à prática, entregando-se aos impulsos que terminaram de teorizar.


Taitson A. L. dos Santos


* Originalmente publicado em 'A Tribuna Piracicabana' - 05/10/2001.


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