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Ensaios-->OS SOFRIMENTOS DO JOVEM WERTHER -- 29/01/2002 - 15:44 (Rodrigo Marques Ramos da Rocha) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


OS SOFRIMENTOS DO JOVEM WERTHER

Resumo: O presente texto faz um curto estudo sobre 'Os sofrimentos do jovem Werther', obra de Goethe, marco do Romantismo alemão e do conseqüente retorno à natureza que influenciou as gerações posteriores.



O Romantismo é considerado a arte da burguesia, que buscava uma arte com que se identificasse, novos padrões de expressão artística que estivessem ligados ao cotidiano aristocrata, repleto de traços narcisistas, e que trás consigo marcas profundas das influências capitalista e da ascensão burguesa; marcadas pelo individualismo e liberalismo, evocava uma arte sem regras e sem modelos. A arte romântica era voltada para a efervescência social e política, esperança e paixão, luta e revolução e ao cotidiano burguês. Quebrando os padrões clássicos, a arte deveria ser expressão da emoção, intuição e inspiração, de vocabulário simples, de liberdade formal, cheia de descrições minuciosas com emprego constante de metáforas e comparações. Fazia uso da fantasia e sentimentalismo, a impulsividade, o exotismo romântico, além do mistério, solidão, o conflito interior e a morte.

'No século XVIII, Rousseau, já havia anunciado o mito do retorno à natureza'. O movimento do Sturm und Drang (tempestade e agitação) é considerado o pré-Romantismo europeu, e recebeu influências deste mesmo filósofo francês iluminista: culto a natureza e ao sentimento em oposição da razão. 'A valorização do sentimento e da emoção leva o autor romântico a explorar o subjetivismo e até mesmo a egolatria, aspectos que produzem uma literatura de tom intimista e confessional, atingindo não raras vezes excessos de mau gosto. O romântico julga-se centro do universo e o ego representa seu grande pólo de interesse, a ponto de ver na natureza e no universo meras projeções de seu mundo interior'.

Poeta, romancista e teatrólogo, Johann Wolfgang Von Goethe está entre os mais influentes e importantes escritores da moderna literatura européia. Goethe foi, igualmente, um pensador e um cientista. A amplitude e a originalidade de suas obras literárias e a diversidade de seus interesses intelectuais fazem dele a principal figura das literaturas clássica e romântica alemãs. Goethe nasceu em Frankfurt, filho de uma família de posses. Recebeu uma excelente educação, com ênfase nas línguas estrangeiras, na literatura e nas artes. Encontrou-se com o filósofo Johann Gottfried Herder, em Estrasburgo. O entusiasmo pela natureza que Herder demonstrava, bem como o seu conhecimento da história e sua oposição ao racionalismo e à artificialidade na literatura, impressionaram-no profundamente. Sob a influência de Herder, Goethe veio a encarar a naturalidade, a sinceridade e a simplicidade como as principais virtudes de qualquer arte. A mais importante realização de Goethe em seus primeiros anos de Weimar foi uma série de poemas sobre o amor e a natureza. 'Os sofrimentos do jovem Werther' ( 1774) foi a obra que deu fama a Goethe em toda Europa. Trata-se de um romance escrito em forma de cartas. O livro conta a história de um jovem sensível e obstinado que se suicida depois de se ver envolvido por uma paixão incontrolável. É provavelmente o mais popular livro de Goethe e um dos mais célebres da história da literatura alemã. A maneira exagerada e pessimista como o escritor construiu sua personagem principal tornou-se referência importantíssima às obras românticas do século XIX.

O jovem Werther apaixona-se por Lotte. Embora noiva de Albert, Lotte aceita a corte de Werther. Ao conhecer o noivo, Werther se afasta, indo trabalhar num ministério, mas acaba pedindo demissão e volta a viver perto de Lotte, que a esta altura já casara com Albert. Desconfiado de que o amor de Albert por Lotte não é profundo, Werther acaba se desentendendo com ele. Perdido dentro de seus sentimentos, decide salvaguardar o casamento da mulher que ama com sua própria morte. O escritor alemão utilizou-se de uma estética narrativa tão próxima ao leitor, que faz com que nos sintamos verdadeiros cúmplices de toda aquele sofrimento. Para conseguir essa proximidade, a história é contada através de cartas de Werther a um amigo que, assim como a grande parte dos leitores, apenas escutou as dores do apaixonado. A outra parte não só o escutou como o seguiu, sendo necessário que no posfácio das edições seguintes viesse a advertência: 'Seja homem e não me siga'. Sobre isso o crítico argentino Hermán Duas comenta preconceituosamente: 'Afinal, a maioria daqueles deprimidos e sensíveis poetas da segunda geração romântica eram filhos de famílias abastadas com uma enorme falta do que fazer pesando nas suas costas. E, como ainda não era possível fundar uma banda de rock ou percorrer o mundo em uma moto, nada melhor do que se entregar a musas impossíveis, cujas personalidades beiram a perfeição, exatamente como Werther fez.'

Werther era um profundo observador da hierarquia social e repudiava a prepotência da alta aristocracia, que mantinha longe de si o povo com medo de se tornar impura; detestava, também a essência burguesa carregada de formalidades, que buscava insana e desmedidamente o poder, entremeada de ignorância e preconceito, e, se fosse preciso, para chegar a supremacia do poder até a prostituição seria incluída em sua falta de bom senso. As crianças e Werther tinham uma relação de grande afinidade. Embora toda a Idade Média julgasse as crianças, 'adultos em miniatura', com o Romantismo e notadamente para Werther, elas ganharam uma nova conotação: são seres puros possuidores de todas as qualidades que tornam uma pessoa boa e todos os homens deveriam buscar nelas o modelo ideal de vida. O romance do jovem Werther é subjetivo do início ao fim, é uma narração epistolar introspectiva, em que Werther expõe todos os seus sentimentos com extrema liberdade, ele sempre fala de si com o coração aberto, sem receios ou limites: 'Ah! Esse vazio! Esse vazio terrível que sinto em meu coração! Penso muitas vezes: ´Se eu pudesse uma vez, uma vez só, apertá-la de encontro ao meu peito, todo esse vazio seria preenchido´' Toda a subjetividade de Werther está intimamente relacionada com a natureza, e, é através dela que ele mostra as marcas profundas de sua melancolia, e de todos os seus devaneios de um apaixonado.

A vila de Wahlheim, que Werther escolheu para dar continuidade aos seus trabalhos artísticos, no caso, a pintura, era totalmente bucólica, o campo onde se via uma grande extensão de um manto verde; as árvores centenárias, a simplicidade da vida camponesa, o luar, o sol ao entardecer. Os dois trechos a seguir mostram claramente como o estado de espírito de Werther era implicitamente subordinado e substanciado à natureza: 'Toda a atração e sensibilidade pela natureza viva - que alimentava e aquecia meu coração, transformando o mundo à minha volta num paraíso cuja força benigna me perspassava por inteiro - tornaram-se agora para mim um tormento insuportável, que me persegue por toda parte.' e 'Do mesmo modo como a natureza declara agora o outono, também dentro e em volta de mim o outono se manifesta. As minhas folhas amarelecem, e as folhas das árvores vizinhas já caíram.' Werther vivia numa busca constante da simplicidade, por acreditar que a felicidade poderia ser alcançada através desse estado de espírito. Essa busca sempre encontrava como estereótipos as pessoas mais humildes das vilas e as crianças: 'As pessoas simples deste lugar já me conhecem, e gostam de mim, particularmente as crianças.' A paixão é um daqueles sentimentos que podem levar um homem à destruição; o nosso Werther era um desses homens, sua paixão era cruelmente insana, avassaladora e o fez muitas vezes perder a razão: 'O mundo já não existia, (...) Werther a abraçou com todo o ímpeto de sua paixão violenta, e cobriu seus lábios trêmulos com beijos furiosos.'

Existiriam dois desfechos para um apaixonado inconseqüente como Werther: um final como nos contos de fadas, em que os apaixonados terminariam 'felizes para sempre' ou um caminho que levasse à demência, infelizmente o caminho a que Werther foi arremessado. 'Quando me perco assim em devaneios, não consigo afastar da mente esse pensamento: Mas... se Albert morresse!... você estaria, sim, ela estaria... E sigo nesse delírio até chegar à beira de abismos diante dos quais recuo horrorizado.' O romance do Jovem Werther trabalha basicamente emoção, subjetividade, lirismo; em contraposição, encontram-se vestígios que caracterizaram o Realismo, que foi a geração seguinte. Werther, subjetivo, romântico extremado, imbuído de emoção interior, é um marco para o Romantismo alemão e para os escritores que viviam a imitar sua conduta de um jovem perdidamente apaixonado: 'Por que será que os homens não podem falar de uma coisa sem dizer imediatamente: Isso é uma loucura, aquilo é ajuizado, isso é bom, aquilo é mau! ' Albert, carrega traços realistas, ou seja, racionais, objetivos, sensatos, dispensando todo subjetivismo e arrebatamento carregados por Werther: '... um indivíduo arrebatado pela paixão perde toda capacidade de refletir, e nele só vê o homem bêbado, insensato.'

O Romantismo, partindo da Inglaterra e da Alemanha, se alastrou e influenciou escritores de muitos outros países. A influência alemã através de Goethe em sua obra epistolar, Os sofrimentos do jovem Werther, teve um reflexo acentuado no Romantismo brasileiro, principalmente na segunda geração romântica. Tal influência nos permite destacar parte de um poema de Casimiro de Abreu e um fragmento de uma das cartas escritas pelo jovem Werther, para que possamos verificar a influência do autor alemão sobre o poeta brasileiro.

Carta enviada por Werther a Wilhelm no dia 9 de maio:
'... deixei a carruagem e a dispensei, para seguir a pé e saborear à vontade cada reminiscência, como se fosse uma experiência nova, inusitada. Parei sob a tília , que fora, em minha infância, a meta e o limite de meus passeios.'


Meus oito anos

Oh! que saudades que tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais!

Visivelmente percebe-se os aspectos contidos em cada um dos trechos. Tanto no primeiro quanto no segundo a essência que é passada são as lembranças da infância, destacando-se principalmente os detalhes marcantes, como a tília, as bananeiras, os laranjais.
Por essa e por tantas obras influenciadas por Goethe, através de Werther, é que o Romantismo, principalmente o alemão, serviu de paradigma para as gerações românticas do século XVIII e as posteriores.


Rodrigo Rocha®
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