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Ensaios-->POESIA VENÉFICA -- 19/02/2002 - 01:33 (Wilson Coêlho) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Talvez por um capricho ou mesmo uma necessidade de reler sempre e conviver com os personagens e as idéias do autor para uma possível reflexão, não costumo tomar livro emprestado. Prefiro tê-lo à minha disposição a cada vontade de conferir os estreitos limites entre a realidade e a ficção.
Mas uma amiga me emprestou o romance POLÍGONO DAS SECAS, de autoria de Diogo Mainardi, até então, um ilustre meu desconhecido, mesmo que Gore Vidal já tivesse dito que ele 'é um admirável inovador - o que se costumava chamar de avant garde antes que todas as garde desaparecessem'. Para minha surpresa e prazer, deparo-me com a faca afiada deste autor. Surpresa porque tenho preterido há meses em iniciar esta leitura, como se fosse apenas mais uma armadilha da pós-modernidade e, diante do texto, me deparo com uma linguagem nua e crua de uma realidade que - mesmo naquilo que não existe - faz-se existir de dentro para fora e de fora para dentro, a partir do imaginário popular do universo sertanejo nordestino, onde a morte se dá sem qualquer critério ou finalidade.
O autor, mesmo sendo paulista, incorpora elementos da cultura nordestina e, quando expõe a mitificação da mentalidade vulgar nas atividades cotidianas, através das crendices que impõem ao nordestino uma idéia de compreensão do mundo, critica, numa poesia venéfica, os mitos da literatura regionalista que - apesar de bastante ácida (ou árida?) - pode ser definida como cômica.
Em 'Polígono das Secas', considerado por Ivan Lessa como 'a mais sutil subversão do sertão em meio século', Mainardi não perdoa o monte de lixo produzido como literatura sertaneja, mas - com a devida justiça - ressalta José Lins do Rego, José de Alencar, José Américo de Almeida, Luis Câmara Cascudo, Leonardo Motta, Graciliano Ramos, João Guimarães Rosa, Euclides da Cunha, João Cabral de Melo Neto e Franklin Távora.
Um prazer porque o autor, sem qualquer preocupação moralista de encontrar uma espécie de racionalidade no interior da violência e da miséria humana, coloca-nos cara-a-cara com uma existência repleta das contradições e nos divide e nos estraçalha diante de sua narração profética e apocalíptica que, ao mesmo tempo, nos intima ao exercício da criticidade, sem nenhuma preocupação em agradar, porque - conforme o próprio autor - 'a verdadeira literatura degrada o homem', pois 'quando não é assim, não serve'.
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Wilson Coêlho é dramaturgo, graduado em filosofia pela UFES e, ultimamente, lançou o livro de contos Em Busca do Verbo Perdido.


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