Usina de Letras
Usina de Letras
24 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62275 )

Cartas ( 21334)

Contos (13267)

Cordel (10451)

Cronicas (22539)

Discursos (3239)

Ensaios - (10382)

Erótico (13574)

Frases (50664)

Humor (20039)

Infantil (5454)

Infanto Juvenil (4778)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140817)

Redação (3309)

Roteiro de Filme ou Novela (1064)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1961)

Textos Religiosos/Sermões (6206)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Contos-->O Quadro ( V ) -- 01/11/2002 - 23:58 (cumpadri) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Quinta parte do conto: O Quadro

A caixa que José retirou da sua mesinha de cabeceira estava cheia de um pó branco, cocaína pura, com a ajuda de um cartão de crédito dourado fez algumas linhas no tampo da mesinha e com uma nota fez um tubinho pelo qual inalou duas dessas linhas.
- Experimenta, vais ver que vais gostar. Nunca mais irás, iremos esquecer este dia.
Ana pegou no tubinho feito de dinheiro e inalou também ela uma das linhas e depois bebeu mais champanhe e inalou mais coca e o professor ia falando...
- Sabes, as raparigas do nosso partido, o partido revolucionário, são todas feministas, lutam pelos mesmos direitos, querem as mesmas liberdades que os homens, tanto profissionais como sexuais, são raparigas muito progressistas, muito abertas a novas experiências, suponho que tu também serás assim?
- Claro! Eu estou no partido de corpo e alma!
- Alma não!, que isso não existe! Mas esperou que esteja no partido com todo o teu corpo e todas as tuas forças?
- Claro! Claro...
Ana ia respondendo sem saber muito bem ao quê, eram já as drogas a falarem por ela.
- Eu também empenhei todo o meu sangue e todas as minhas forças na causa, o partido é muito exigente e por vezes necessitamos de algumas compensações, devemos ajudar-nos e apoiarmo-nos uns aos outros, por exemplo partilhando os nossos corpos...
À medida que ia proferindo estas palavras José foi beijando e remexendo o corpo de Ana, como ela não esboçou qualquer tipo de reacção ele concluiu-a pronta para ser colhida e assim o fez.


O leitor deve estar a pensar e com razão que o professor de pintura de 40 anos abusou sexualmente da sua aluna de 16, e também deve estar a perguntar-se com que traumas ficará a menina sujeita a tal abuso. Que ficou traumatizada ficou, mas esses traumas não se deveram directamente àquela relação sexual, mas ao que Ana compreendeu através dela. Ana percebeu que a José apenas tinha entregue o seu corpo, não a sua alma, enquanto a Carlos tinha entregue a sua alma e não o seu corpo, por tal Carlos não saia do seu pensamento , não deixava de ser uma ferida aberta no seu frágil coração, enquanto o seu professor em termos sentimentais para ela era uma nulidade, assim que naquela noite ele a deixou em casa de seus pais ela esqueceu todo o que se tinha passado entre eles, já em relação a Carlos esquecer era algo impossível. A palavra alma era o que a traumatizava, durante toda a sua vida tinha negado a existência do espírito, tudo para ela era matéria, aliás era só matéria e para além de matéria nada mais existia, o que fazia agora a palavra alma no meio dos seus pensamentos, dos seus sentimentos?! Por tais que tentasse tal palavra não se afastava dela, até a dormir via a sua alma correr para os braços da alma de Carlos. Ana tinha de encontrar um refugiu uma casa forte, uma casa segura.


Que melhores esconderijos podia Ana encontrar do que o álcool, as drogas, o sexo e as manifestações revolucionárias; as drogas faziam-na a esquecer a maldita palavra, o sexo, como era carne com carne e mais nada, ajudava-a a negar a existência das almas e as manifestações davam sentido ao seu viver agora sem sentido algum. Ana nesta altura já não tinha objectivos, o homem que amava estava tão longe de si como a Terra do Sol e a pintura já não lhe interessava para nada.


Dez anos depois do maldito concurso de pintura, Ana entrou em sua casa e ao pegar no jornal leu que a fama do pintor Português Carlos Eduardo tinha atravessado todo o Oceano Atlântico e chegado até ao novo mundo, às Américas.
- Sim!, conseguistes! Meu fascista de merda! Levaste os teus quadros de Deus, das almas e do amor a todo o Mundo, era só o que me faltava! Fascista! Nazi de merda!
Ana com o seu Zippo pegou fogo ao jornal lançando-o depois para a lareira, enquanto ia dizendo odiosamente:
Arde, minha besta!, arde e desaparece para sempre da minha vista.
Nada nos últimos tempos lhe tinha dado tanto prazer quanto ‘puxar fogo’ a Carlos, afastando-o assim mais uma vez da sua vida. Quando o jornal ardeu completamente Ana respirou fundo, agora a atmosfera, depois de purificada pelo fogo, parecia-lhe mais pura, mais respirável, mais prazenteira, mais de acordo com as suas convicções...


Passados alguns minutos todos os fantasmas do seu passado voltaram a devasta-la, Carlos, almas, Deus, as contradições partidárias, a falta de objectivo, a perda de amor pela pintura, ... Na tentativa de fugir a todos eles pegou num copo e numa garrafa de vodka e bebeu e bebeu, abriu também a sua caixinha de pó branco e usou-a e usou-a,... Quando os seus pais chegaram a casa ela estava em coma, overdose!


Continua no Conto: O Quadro ( VI )
Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui