Brasil, década de 70. Isabel Câmara revisita o antigo:
'Quem diante do Amor
ousa falar do Inferno?
Quem diante do Inferno
ousa falar do Amor?
Ninguém me ama
ninguém me quer
ninguém me chama de Baudelaire.'
O compositor Antônio Maria sendo misturado com o pai da modernidade, Charles Baudelaire.
Afinal, quem é esse sujeito, esse dândi até hoje não esquecido? Esqueçam a biografia e vamos ao vinho.
Quem nunca sonhou, ao menos uma vez, em deixar aflorar o seu lado negro e alegre? ou afogar-se numa poça suave e distante da embriaguez? ou, ainda, no limbo das drogas? ou no sexo desvairado? Baudelaire não sonhou. Fez.
E sempre nos incomoda aqueles que ousam fazer o que tememos sequer pensar em fazer. E ele o fez.
Pior que cometer um ou todos dos sete pecados capitais, é propagar, espalhar, dizer que se pecou. Baudelaire não disse nada. Escreveu tudo isso em prosa e verso. Para a posterioridade se roer de inveja e fantasiar que 'antigamente é que se vivia mesmo!'
O poeta deprê dos sonetos 'Spleen' conseguiu encontrar rimas e ritmo sedutor na descrição de 'Uma Carniça'. Estranho e singular. Mas, até hoje, um dos poemas mais parodiados e quase símbolo na terra da Torre Eiffel ainda é 'O Convite à Viagem'.
Talvez seja porque ele tenha sido realmente um dos melhores poetas que já existiu. Talvez sua temática melancólica encontre eco nos solitários urbanos. Talvez a própria vida dele nos seja um manual aventuresco. Talvez, ainda, a questão escatológica nos incomode. Talvez ser moderno hoje não passe de uma receita bem antiga.
Mas para que pensar nos porquês do poeta maldito Charles-Pierre Baudelaire, nascido em 1821 e falecido em 1867 ainda causar tanto sucesso?
Basta a certeza de que ele fez e escreveu o que, no fundo, gostaríamos de - um dia, pelo menos - ter feito ou publicado.