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Cordel-->MENINOS DE RUA -- 22/08/2003 - 10:51 (Geraldo Alves) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
MENINOS DE RUA
Geraldo Alves

Esses meninos desnudos,
que são vistos por alguns;
excluídos dos estudos,
dos interesses comuns,
são filhos de favelados;
pelo poder desprezados,
talvez, por Deus escolhidos;
tratados pelos tiranos
como farrapos humanos
na rua dos esquecidos.

Essas crianças frustradas,
cansadas de ações mesquinhas,
famintas, mal educadas,
que chamam de trombadinhas,
são réstias dum sol sem vida
numa Pátria adormecida
que não desperta do sono;
são filhas de pais sem nome,
adotadas pela fome
vítimas da Pátria sem dono.

Uma criança sem prumo,
sem guia das mãos do pai
numa viagem sem rumo,
sem saber pra onde vai;
crescendo é sempre pequena;
igual a ave sem pena;
desaninhada da sorte;
magra, chorosa e despida;
oposta ao prazer da vida;
próxima dos braços da morte.

A vítima do mal leproso,
partiu da fecundação
do pai inescrupuloso,
da mãe sem ter coração,
do anonimato do ventre.
O mundo não quer que entre
nas colunas sociais.
Doente ninguém lhe exalta;
morrendo, a ninguém faz falta;
crescendo, não vive em paz.

A criança maltrapilha,
não pensa nem um segundo
sem saber de quem é filha
e porque existe no mundo.
Frustrada, a ninguém responde
porque é que se esconde
nos tetos mais poluídos.
Não tem amor nem saudade,
porque a felicidade
não fala nos seus ouvidos.

Tantas crianças chorando;
tantas potências ouvindo;
umas vão se sepultando;
outras se prostituindo;
as que a terra não masca,
as mãos da fome carrasca
lhes furtam a consciência.
São, por isso, transformadas
em caravanas armadas
atrás da sobrevivência.

Crianças que nascem cegas
e são criadas sem guias,
mendigam pelas bodegas
a sós e de mãos vazias.
Humildes e solitárias;
filhas de mães proletárias
e pais sem fraternidade;
habitantes dos cortiços,
opostas aos compromissos
das leis da paternidade.

Estão vendo essas crianças?
São imagens negativas,
soterrando as esperanças
sem saberem se são vivas;
são herdeiras do desgosto;
fazem mal a contra gosto,
pensando em fazer o bem;
são pessoas vivas-mortas,
batendo palma nas portas
de quem não ama a ninguém.

São filhos do desamor,
vendidos como rebanhos;
fabricados sem amor;
adotados por estranhos;
comprados pelo dinheiro;
levados pra o estrangeiro;
criados como cativos
pelos carrascos, que são
os judas sem coração
em vez de pais adotivos.

Tantas coisas absurdas,
tanta dor, tantos insultos,
somente as pessoas surdas
não ouvem tantos tumultos.
A fome dá gargalhada,
loba de presa esfaimada,
cortando o fio da vida;
cascavel que amola a presa,
cortando a carne indefesa
da vítima desprotegida.

Já estou perdendo a fé.
Cada dia vejo mais
filhos da classe ralé
nos cartéis dos marginais.
A violência, a chacina
a maconha, a cocaína
nos mostram tristes indícios
duma nação despejada,
pronta pra ser mergulhada
no porão negro dos vícios.
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