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Ensaios-->RIEFENSTAHL: a mais longa carreira na história do cinema (2) -- 12/04/2002 - 16:08 (José Pedro Antunes) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Esta é a segunda parte de uma longa entrevista concedida pela cineasta Leni Riefenstahl a Hilmar Hoffmann, um seu ex-crítico ferrenho, presidente do Goethe Institut [DIE WELT online, 10/01/2002]

Trad.: zé pedro antunes

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Cf. a primeira parte desta entrevista em artigos : 'LENI RIERFENSTAHL [uma entrevista] (1); ou em ensaios : 'LENI RIEFENSTAHL: a mais longa carreira na história do cinema'


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Esta segunda parte da entrevista teve originalmente por título:

'Eu teria me tornado uma boa social-democrata' –'Isso você precisa explicar' (II)

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Como Leni Riefenstahl conheceu Hitler no Mar do Norte, tendo recebido a promessa de que teria de fazer apenas um filme do Partido.

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Hoffmann: Por que se separou de Arnold Fanck? Foi ele o responsável pela teu extraordinário lançamento no meio cinematográfico.

Riefenstahl: Eu tinha mesmo vontade de me posicionar contra o Dr. Fanck, por não estar satisfeita com o trabalho dele como diretor. Muitas coisas não eram do meu agrado: um pouco a estética de suas imagens, as 'belas imagens', que ele até fazia coincidirem com as ações, mas não deixavam de ter uma atmosfera melancólica e negativa, que me pareciam ser uma quebra estilística. Não gostava que ele colocasse, numa esfera triste, uma iluminação positiva. Se quero produzir belas imagens, o enredo tem de ter a ver com elas. Foi assim que, em 'Das blaue Licht' [A luz azul], me veio a idéia de só produzir belas imagens. O enredo desse filme, na verdade, tem tudo a ver com os contos de fadas. Mas seria um contra-senso fazer o mesmo num filme como 'Piz Palü', em que se ouvem os estrondos de avalanches dramáticas e morrem pessoas. Não era conveniente mostrar a beleza do sol nascente e geleiras cintilantes quando o enredo era de uma tristeza dramática.

Hoffmann: Ou seja, você criou um projeto
contrário . . .

Riefenstahl: Sim, essa foi a verdadeira razão para eu me contrapor a 'Das blaue Licht' [A luz azul]. No caso das belas imagens, o enredo deve apresentar uma atmosfera correspondente: um conto de fadas, uma lenda bonita. Um enredo realista requer, igualmente, imagens realistas. Mas se eu mostro belas imagens – imagens nevoentas, com a luz em declínio e assim por diante -, o enredo de algum modo tem de ter a ver com elas. Nesse sentido, eu me opunha à direção de Fanck.

Hoffmann: E não conseguiu convencer Fanck a aceitar esse teu conceito de beleza?

Riefenstahl: Sim, claro que sim, mas só depois de ter me separado dele. Quando eu lhe mostrei o meu manuscrito, no primeiro momento ele deu a entender que não: “Você está maluca, absolutamente, isso ninguém pode fazer.” Eu perguntei: “Como não?” E ele: 'Só se dispuser de um orçamento milionário é que vai fazer algo assim: dar realce à natureza, falseá-la com cenários. Como Fritz Lang fez, por exemplo, em O anel dos Nibelungos , com árvores gigantes e assim por diante. Dinheiro para isso, isso você não tem.'

Hoffmann: Fanck revidou a tua opinião depois de ter visto 'Das blaue Licht'?

Riefenstahl: Admitiu que estava errado. Eu mesma tinha grandes problemas ao transpor as minhas idéias, as condições não eram exatamente ideais. Em muitos pontos, ele bem que tinha razão, como ao me perguntar: 'Afinal, como vai fazer para que as rochas produzam o mesmo efeito fantástico de contos de fadas, se, ao escalá-las, elas são perfeitamente realistas?' Isso me irritava, aí tinha alguma coisa. Fiquei então três, quatro noites refletindo, até que me veio a idéia de cobrir as montanhas de névoa e fotografá-las cotra a luz, fazendo surgir então a atmosfera desejada, a dos contos de fadas. Ou seja, o mais das vezes eu encontrava uma solução.

Hoffmann: Você rodou então os filmes da Convenção do Partido de Hitler. Em 1933, 'Sieg des Glaubens' [Vitória da Fé] e, em 1934, 'Triumph des Willens' [Triunfo da Vontade]. Com eles, você conseguiu, por meio de uma nova estética, tornar interessante o filme documentário e vinculá-lo a uma qualidade emocional. Walter Benjamin qualificou esse procedimento como a estetização da política. Foi inteção ou acaso, ter popularizado a estética negativa do nacional-socialismo por meio de uma estética cinematográfica positiva?

Riefenstahl: É uma questão bastante difícil. Ela não admite uma resposta breve e concisa. Foi tudo bem diferente. Foi mais ou menos assim: Depois de 'A luz azul', eu tinha vontade de rodar filmes que me emocionassem. Portanto, projetos como 'Penthesilea' ou 'Michael Kohlhaas', filmes que me satisfizessem. Eu não apenas não me interessava por filmes sobre política ou ciência, como a eles me opunha estritamente. Terá de entender que eu estava bastante desesperada quando Hitler me pediu que fizesse filmes para ele. Os primeiros que ele me ofereceu tratavam de temas nazistas como 'SA-Mann Brand' [O homem da SA Brand] ou 'Hitlerjunge Quex' [O jovem hitlerista Quex], filmes de ação, que acabaram sendo feitos por outros.

Hoffmann: Foram feitos, respectivamente, por Franz Seitz e Hans Steinhoff. Junte-se ainda o 'Hans Westmar', de Franz Wenzler, e temos três filmes do partido rodados em 1933. De resto, até o início da guerra foram os únicos a glorificar expressivamente o nacional-socialismo. Depois deles, Goebbels não queria mais ver uniformes marron e bandeiras com suásticas na tela, queria um mundo são, capaz de embalar os espectadores no cinema.

Riefenstahl: Pode ser. De qualquer modo, num primeiro momento eu consegui me negar a fazer esses filmes do Partido. Hitler ficou meio zangado, mas eu tive forças para recusar a oferta. E aí aconteceu algo que se poderia chamar de fatal. Hitler pôs na cabeça que eu deveria fazer, então, algo para ele, um filme talvez sobre o surgimento do Partido – coisa que eu ainda consegui recusar. Mas depois de me negar várias vezes e ter sido aos poucos deixada de lado, não me restou senão calcular as enormes dificuldades que teria para conseguir colocar em prática as minhas idéias. Assim pensei em assumir um compromisso e rodar um filme sobre a Convenção do Partido. 'Esse você pode ao menos fazer, são apenas seis dias, a Convenção do Partido dura só seis dias, e seis dias da sua vida você pode me dar de presente', dizia Hitler. 'Posso então, por favor, manifestar um desejo?', eu respondi. E expliquei: 'Primeiro, eu absolutamente não sei se vou conseguir, eu nunca vi uma convenção partidária e tenho, além do mais, pouco interesse por algo desse tipo. Mas se o fizer, então eu tenho um pedido insistente: Prometa-me que nunca mais terei de fazer um filme para o senhor ou para o partido, portanto só este, e sem ficar responsável pelos resultados.' E, em presença de Albert Speer, Hitler me fez essa promessa, selada com um aperto de mão.

Hoffmann: Mas foram, afinal, três os filmes que você fez para o Partido?

Riefenstahl: O fantástico nisso tudo, e também para mim incompreensível, foi que na verdade, depois de tantas idas e vindas, finalmente consegui não ter de fazer senão um único filme do Partido. E era para ser, isso em 1933, o filme baseado no mote do Partido: 'Vitória da Fé'. Hitler repassara a Goebbels a ordem de que o Ministério da Propaganda deveria me prestar ajuda em sua consecução. Goebbels, no entanto, já me odiava na época por diversas razões e não seguiu a indicação de Hitler. Isso foi motivo para grande discórdia entre ambos. Quando, algum tempo depois, Hitler me chamou para saber dos preparativos para as filmagens em Nuremberg, eu não tinha a menor noção, pois ninguém me informava a respeito. Foi então que ele telefonou ao Dr. Goebbels e, em minha presença, lhe deu uma boa esfrega. Quase caí no chão, foi terrível. 'Como pôde não seguir a minha ordem, a sra. Riefenstahl não está ao par dos acontecimentos, mas eu quero que ela faça o filme e que as pessoas ao teu redor a ajudem.' Goebbels, na verdade, dispunha do seu próprio departamento de cinema, e teria sido mesmo razoável que ele me ajudasse. E o fato de Hitler querer me jogar contra Goebbels acabou fortalecendo a rejeição dele por minha pessoa.

Hoffmann: Acrescente-se a isso o fato de você pertencer ao círculo dos eleitos, dos que mereciam a confiança de Hitler. Assim, Goebbels a tomava por concorrente.

Riefenstahl: Eu não tinha a confiança de Hitler e raramente estive com ele. Apenas uma única vez durante aqueles anos todos, eu tive uma conversa com ele ao telefone. Mesmo assim, ele dizia às pessoas ao seu redor: 'Eu gostaria que a sra. Riefenstahl fizesse um filme sobre a convenção do Partido.'

Hoffmann: Portanto, continuamos a falar sobre o seu primeiro filme de 1933, que traz o mesmo título da Convenção do Partido: 'Vitória da Fé'.

Riefenstahl: Sim, essa primeira tentativa foi em 1933. Mas o Partido tentou boicotar o projeto. Em Nuremberg, eu não recebi do Partido nem material para a filmagem e nem dinheiro, eu não recebi absolutamente nada. Levei comigo o meu irmão, que tinha um pouco de dinheiro. Eu estava desesperada, porque todos haviam me boicotado. Na época, eu havia conhecido Albert Speer, que me encorajava: 'Sra. Riefenstahl, a senhora tem de fazer isso, eu vou ajudá-la.' Eu lhe perguntei, então, como faria isso. Ele iria tentar conseguir para mim um bom operador de câmera. E ele me mandou então o Walter Frentz, e este chamou duas outras pessoas. 'Vocês vão filmar agora o que a sra. Riefenstahl lhes disser para filmar.' Tentei, então, rodar alguma coisa com os dois operadores. Mas pessoas do Partido derrubaram as câmeras e as danificaram bastante. Eu ainda dispunha de alguns milhares de metros de filme e disse a Speer: 'Agora acabou tudo, é melhor eu deixar a Alemanha. Aqui vou ser boicotada pelo Partido, embora Hitler queira o filme feito por mim. O que devo fazer?' O conselho que ele me deu foi: 'Conte a Hitler tudo o que aconteceu.' 'Mas eu arranjar ainda mais inimigos', eu lhe disse. Mas ele insistia: 'Você tem de dizer tudo a ele.' Foi exatamente assim que aconteceu.

[continua]
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