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Contos-->______O PRIMEIRO DIA MAIS FELIZ DE MINHA VIDA_____ -- 03/11/2002 - 02:48 (Ari de souza) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Eu morava num bairro periférico, cerceado por uns morros ou fazendas. Como se não bastasse, eu morava numa rua de encosta, uma rua sem saída e onde o asfalto terminava no chão e nos pés da porteira de uma fazenda morta. E apertado nos escanteios dessa existência, por fim, minha casa era a última das últimas daquela rua mofina. Sem mistérios, o muro da esquerda dividia aquilo que era propriedade de minha família, daquilo que era um curral de poucos bois magros.

Nessa época em que a chuva levantava o dor de couro molhado e de lama e estrume, a vida me alimentava com pouca diversão. Na escola, mal sabia eu ler, conquanto pudesse escrever uns sentimentos vilipendiados. Coisas que mais tarde aflorariam nesse corpo, antes, fraco e de anêmico olhar. Olhar este que se encantou numa tarde de inverno. Algumas crianças, bobas como eu, talvez espertas só no agir, cochichavam perto de uma barranco, não sei o quê.

Aproximei-me indistinto num cumprimento minúsculo de algumas cabeças conhecidas que faziam parte daquela roda. Era fato que eu não era íntimo de nenhum deles, e que o que me levava a uma aproximação tinha como causa comum o ajuntamento de todas aquelas infantilidades em desencanto. Todos estávamos de bobeira, impressionados com tanta beleza e tanta grandeza. Realmente admirável! encantatório e legítimo de uma cubada longa. Ninguém sabia entre tantas bocas, de onde viera aquilo que metia medo e encanto.

Era pois, acreditem vocês, um enorme e colossal ônibus. Crescido vocês entre viagens de fim de ano, no meio da cidade, por onde os carros estão em constante trânsito, podem até achar o fato de uma desimportância qualquer. Não é este o caso, visto que a realidade nossa era filtrada entre aquilo que a televisão nos mostrava e aquilo que chegava a pés e botinas na rua em que morávamos.
A máquina era realmente de uma beleza e robustez nunca assim presenciada por aquelas redondezas. Enormes pneus, janelas enormes, vidros pretos, limpos e brilhantes como tinta fresca sobre aço polido. E daquelas pingadas criancinhas não houvesse, ninguém mesmo, que testemunha fosse da chegada do tal ônibus.

Caso que mal nos conhecíamos, forma de quê depois de aqui e ali, perguntas, coincidências, descobrimos que nenhum de nossos pais era por assim dizer um motorista. Postos os relatos, acabamos nos deliciando em saber que mamãe de todos cuidava da casa e que papai, entre tantos pais, se cansavam e se sujavam no mesmo trabalho, a mesma indústria que vestia os homens e os céus de um cinza familiar. Razão de termos nascido sob este céu igual quase todos os dias e fechado como acostumados acabamos a ficar.

A tarde sumindo e o frio vindo foi nos despertar para aquilo que já era noite crescente. As pernas roçavam uma na outra pra espantar mosquitos, pernilongos aos monte, e ali, numa rua em que só se via nós, incucados queríamos revelar os mistério daquela adormecida máquina monstruosa. Ficamos na espreita cobertos de sua própria sombra que se fazia. E nessa penumbra feita, nossos olhinhos se pareciam tanto que os causos que quando apareciam, assustavam-nos igualmente.
Começamos a ter impressões diversas, e como fosse escuro os vidros, e como nossos olhos por eles nada via, caímos na invencionice de que lá, de dentro, algo estava a nos espiar. Ai meu Deus, ali no breu daquele beco, entre o ônibus e o barranco, foi que Lucinha segurou minha mão, meu ante-braço, uma parte de mim. E tonto, quase caí sobre sua beleza de menina amedrontada. E aos pulos meu coração foi se acalmando ... acalmando ... se amando de todo. E esse foi o primeiro dia mais feliz de minha vida.
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