dormiste, fofinho?
já socaste a bela?
fizeste tudo direitinho?
arregaçaste com ela?
e saíste esfoladinho?
rs... rs... rs...
quero falar contigo...
me escuta...
a primeira vez que falaste
essa expressão "socar"
fiquei chocada...
aquela coisa
da mulher se sentindo coisa,
coisa que tem que ser socada...
não tinha liberdade
pra te falar do que senti...
e foi é bom...
quero falar-te aqui...
essa coisa bonita entre a gente,
de se olhar sem precisar ver...
de se sentir sem precisar tocar...
de se ouvir sem entender...
sorver... beber... engolir...
se emaranhar... amalgamar...
nem sei quanto em ar,
em er, em ir...
fui te sentindo
mais do que entendendo...
assim te absorvi
e parece que és parte de mim...
descobri a profundidade
do socar que me chocou...
será que alcanças essa profundidade
do socar que socou?
por vezes te dizes rude, ríspido...
reagi, não podias ser rude e ríspido
com tanta doçura que me passas,
com a delicadeza que me entregas
em palavras e gestos...
mas descobri, não sei quando,
acho que de repente,
o que chamas rudeza...
teus pedaços primitivos,
quase selvagens...
a origem do socar...
um amor feito de fúria...
como combinar amor e fúria?...
não sei,
mas vejo em ti essa combinação
que me fascina, alucina...
teu lado droga da pesada...
e o socar que me chocou virou tesão...
tesão que compromete o corpo inteiro...
sai do cérebro e se espalha...
concentra-se na genitália
e me amolece as pernas...
toma conta e não cede...
entesa o corpo
e não dá pra esconder,
nem pra calar...
pois se entrega no olhar...
fúria... fúria... que sai da tua boca
embrulhada em sussurros...
em forma de poema...
em forma de canção...
aumentando o tesão...
provocando meus movimentos impetuosos...
meus pensamentos escandalosos...
meu desejo ardente de ser socada,
socada, socada!...
gritos que a garganta não segura...
cio de gata no telhado...
sensação de morte-vida...
desejo de dar tudo,
tudo experimentar,
chegar ao pico do prazer e lá ficar...
não parar... não voltar...
só despertar depois da prostração...
e renovar as forças pra recomeçar...
ver onde pode chegar a força do prazer...
devassar o mistério do prazer...
e rir... e chorar... e enlouquecer...
e foder... e meter...
aaaaaaaaaiiiiiiiiiiiiiii...
gritar... urrar...
produzir todos os sons que nascem da loucura
represada desde sempre...
isso tudo me provocas,
sabendo ou não...
e tudo tão docemente...
sussurrando, cantando...
e acho que é por causa desse lado feroz
que tanto precisas de minha doçura...
doçura que te dou sem egoísmo e sem limite...
que arranco da alma pra te lambuzar...
que cultivo cuidadosa
nessa alma poeta que te entrego
por gestos e palavras...
por gemidos e pruridos
na hora do gozo...
no riso sensual
que é portador gentil do meu eu...
que é teu no momento do amor...
e depois o meu corpo
aparentemente satisfeito...
a frustração
de não ter em seu ventre
o teu suco que mataria a fome e a sede...
corpo que envolve e guarda a alma
também insatisfeita
que anseia pela eternidade
que descobriste em mim...
minha essência...
minha força e fraqueza...
minha contradição...
minha... minha...
sempre na primeira pessoa...
porque só a primeira pessoa
é dona e pode dar...
queria falar... falei...
ouve, guarda, armazena...
transforma...
e sai distribuindo entre as belas que socas...
merecedoras ou não que sejam elas...
privilegiadas que te tocam e te provocam...
dá até a última gota de teu sêmen
e de tua saliva...
e depois volta...
vem se abastecer na fonte da poesia...
e me entrega teu lado doce e sereno...
como criança ou como bicho...
vem com a certeza de que tens em mim
a força da experiência
para acolher a tua juventude irrequieta...
para ninar a criança que insiste em te habitar...
para entender teus sonhos e fantasias...
para te ouvir falar de marx e trotsky
e das minorias...
as terceiras pessoas que teu amor embala
e que te fazem sobreviver...
tu és mistério...
sorvo e não quero perder...
quero te amar até morrer...
quero te entregar minha energia eterna...
para em ti viver
quando não mais viver...
me recebe...
me acolhe...
me ama...
enquanto é tempo!
