As minhas mãos não são diáfanas.
Puras perduram na essência
das coisas por fazer e
esfregam, limpam e sabem polir,
lavam, enxaguam e juntam-se
em prece, se nada acontece,
que crie os prodígios,
das almas limpas e puras
que cristalizam os vulcões extintos.
As minhas mãos não são transparentes,
nem se cobrem do verniz,
da perfeição eleita
das inefáveis borboletas.
São mãos de mãe que assoa,
lava e cobre de mimos,
desenha e pinta ou faz plasticina.
São mãos que tocam detergentes,
lavando o coração de gentes,
de invejas ou palavras insolentes.
Com estas mãos afugento
exércitos de humidade
nas paredes e nos livros
nos corações empedernidos.
As minhas mãos inventam coisas,
tricotando sentimentos,
debitando palavras e espalhando cores
tecendo mantas de sonhos,
em telas de madrugadas.
Combrem-se de pó de giz,
dos ensinamentos que não fiz,
nos dias em que me cumpro
escrevo apago e desafio
a poeira do pensamento.
Ah, as minhas mãos não são de sonho
mas afastam de espanador
as teias que teimam em cobrir
os dias claros que hão-de vir...
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