O título é assim, assertivo, para chamar sua atenção e economizar espaço. Não é a redação do ENEM que é injusta, mas a correção e a utilização da nota da redação como parte dos critérios de seleção de candidatos a faculdades públicas, entre elas a UFSCAR. Hoje e na edição da próxima semana apresentarei alguns dados relativos a esse assunto. Nada científico, sequer jornalístico. Tudo baseado em minha experiência e no sofrimento de meus alunos.
Um professor de redação com alguma experiência, demora cerca de 4 minutos para corrigir um texto dissertativo de 35 linhas. Em uma hora, corrigirá apenas 15 trabalhos. A velocidade se justifica pela necessidade que o docente tem de orientar seu aluno através de recados escritos na folha. O envolvimento emocional também torna tudo mais lento, porque cuidadoso além do necessário.
Se os mesmos textos forem entregues a um corretor contratado, o tempo de correção cai muito. Ao longo de uma hora, um corretor chega a avaliar mais de 30 trabalhos. Em cursinhos pré-vestibulares, os corretores são figuras importantes que devem ser contratadas com muito cuidado e treinadas à exaustão para que consigam assimilar, da forma mais homogênea possível, os critérios de correção indicados pelos professores. Quanto maior o número de corretores, mais difícil é manter essa unidade de critérios, por mais que a grade de correção seja clara e objetiva. Mesmo numa única escola de médio porte, essa é uma tarefa difícil.
A FUVEST, responsável pelo vestibular da USP, é respeitada em todo país pela maneira como organiza suas provas e pelo processo de correção delas. As redações merecem atenção especial. Cada texto é corrigido por dois profissionais independentes. Se houver uma diferença importante entre as duas notas, uma banca superior realiza outra correção e a nota é definida. Quantos corretores estão envolvidos nessa atividade? Sinceramente, não sei responder com exatidão, mas posso inferir.
São cerca de 40 mil redações. Se o trabalho for feito em 15 dias e cada corretor conseguir avaliar 25 redações por hora, trabalhando 8 horas, serão 200 textos/dia. Quatorze duplas de corretores dão conta de 42 mil redações em 15 dias. São 28 profissionais, sem contar o pessoal da tal banca superior. Administrar esse número de corretores é desafiante, mas plenamente realizável.
Não teremos espaço, nem você terá tempo hoje, mas preciso inserir o ENEM nesta história. Já tivemos mais de 3 milhões de pessoas prestando a prova do ENEM. Cerca de 3 milhões de redações. Aplique a mesma lógica que foi usada acima e você conseguirá o incrível número de 500 duplas de corretores para quinze dias de trabalho. Mil pessoas corrigindo textos? Nem que o próprio Taylor ressuscitasse para administrar tantos corretores seria possível afirmar, com segurança, que há unidade e objetividade na aplicação dos critérios de correção das redações do ENEM. E esse é só o começo do problema.