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Artigos-->Os “livro” do MEC -- 05/07/2011 - 16:15 (Jefferson Cassiano) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


O livro da coleção “Viver e Aprender”, distribuído pelo MEC aos alunos e professores das salas de EJA e escrito pela professora Heloísa Cerri Ramos, segue preceitos teóricos que já nortearam os trabalhos de educadores respeitados, como o brasileiro Paulo Freire.  Para a linguística, não há um jeito “certo” e outro “errado” de usar a língua. Em lugar de correção, os linguistas preferem usar a ideia de adequação.  A metáfora da roupa é sempre muito bem-vinda nesta hora: você não costuma ir de terno à praia, muito menos de sunga à reunião de trabalho. Da mesma forma,  há uma variante linguística para cada contexto. Ainda assim, a página 14 do livro, na qual se afirma que uma pessoa pode dizer “os livro”, tem causado dores de alma em inesperados defensores da norma-culta.

            Não há qualquer inverdade no livro do ponto de vista teórico. Os conceitos de adequação e inadequação são fundamentais para viver num contexto de diversidade. Professores e alunos devem mesmo trocar as palavras “certo” e “errado” por “adequado” e “inadequado”, além de substituir os conceitos por trás dos vocábulos. Essa mudança conceitual proposta pela linguística permite ao professor acolher os diversos falares trazidos para a escola e ajuda o aluno a destruir a barreira de preconceito em relação ao colega que, por ventura, fale “os livro”.  A língua passa a ser uma forma de inclusão quando vista assim. Há, no entanto,  um equívoco no texto de Cerri. Equívoco que nem é pedagógico. É didático.

            A maneira escolhida por Heloísa para expor os conceitos de adequação e inadequação não parece ser a mais indicada para tratar desse assunto em sala de aula. Do jeito que foi escrito, com afirmações do tipo “você pode falar ‘os livro’”, em formato de diálogo com o aluno, o texto tem status de liberação para o uso indiscriminado dessa variante. Na continuação do texto, até há uma observação de que o aluno, quando assim se expressa, “pode sofrer preconceito linguístico”. Falta deixar claro que a variante inculta da língua pode ser usada em determinadas situações e que, em outras, deve ser substituída pela norma formal aprendida na escola, não para evitar o preconceito, mas para permitir que o aluno consiga, por exemplo, um desempenho melhor numa entrevista de emprego.    Uma hipocrisia necessária.

            Antes de ficar revoltado com “os livro” do MEC, lembre-se de que a página 14 em questão é destinada à educação de adultos com uma história de vida que facilita a compreensão e a aplicação de conceitos relativos ao uso da língua.  Pense, ainda, que um livro, em sala de aula, é apenas um ponto de apoio e de partida. O professor, no uso do material, tem toda a liberdade de ampliar a discussão proposta pelo livro e deve fazer isso.  Por último, pense e responda: se você ficou tão espantado com essa história e acredita que há mesmo certo e errado na língua, deve ser capaz de dizer se a frase a seguir está “certa” ou “errada”: “a maioria dos livros são grandes, mas, antigamente, havia alguns mais pequenos”.  Quando assumimos a postura de fiscais de uma língua, temos que saber com exatidão o que é e onde está esse tal de certo.  


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