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Contos-->Uma História Reles II -- 03/11/2002 - 21:07 (cumpadri) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Segunda parte do conto: Uma História Reles.

Ana, depois de já ter recuperado do uso abusivo de substancias criadoras de falsos: sonos, sonhos, inocências, alegrias, tristezas, mundos cor-de-rosa,..., e ter-se inscrito num programa de desintoxicação, dirigia-se para sua casa, um pequeno cubículo, dividido ainda em dois cubículos e algo a que apenas posso chamar uma quase-não-casa-de-banho. A esses dois cubículos aventuro-me a chamar-lhes: quase-cozinha e quase-quarto. Durante esse caminhar apossou-se dela uma sensação estranha - estranha não por ser desconhecida, mas, sim, diferente, era como se à sua frente estivesse uma pessoa que lhe era familiar, mas ao olha-la com olhos de ver, lhe parece outra, até mesmo contraria à pessoa que tinha conhecido no passado. Sentia-se perseguida, mas não como já tinha sido tantas vezes por pessoas que a queriam roubar e ou violar. Algo, dentro dela, informava-a que este perseguidor não era inócuo, mas também não lhe traria qualquer prejuízo. Pela primeira vez, deixava-se perseguir sem ter a certeza que acabaria, dentro de algum tempo, na cama com o perseguidor, aliás, não tinha qualquer certeza de como aquela situação terminaria, nem se viria a ter termo algum. Apenas continha em si, mesmo que inconscientemente, o desejo de continuar a ser perseguida daquela forma, ficaria triste se o caçador desse por terminada a caçada antes de a tornar sua presa!
Ana tinha deixado o hospital com a ideia fixa de arranjar algum dinheiro, antes de chegar a casa, e fornecer-se de alguma droga, mas aquele facto inesperado tinha feito voar esse desejo para bem longe dela. No momento presente só ansiava chegar a casa e esperar pelo que viria a acontecer.
Ana, antes de ser caçada, como a sua experiência de presa era muito superior à do caçador na arte da caça, caçou o seu inexperiente opositor. Boy ficou sem palavras, sem saber o que dizer, se pálido sempre fora mais ainda se tornou, uma estranha agonia percorreu todo o seu corpo e alma. O momento porque tanto esperara tinha chegado e não sabia como encará-lo, trata-lo,... Ficara desorientado, perdido... O seu coração ao invés de sair de si, rebentar, explodir, fechara-se ainda mais em si próprio, encolhera tanto que o sentiu mais pequeno que a coisa mais pequena que ele tinha visto até então. Ana decidiu continuar a tomar as rédeas:
- Anda!, segue-me! É simples, só tens de continuar pelo mesmo caminho que eu..., só que agora a meu lado...
Ouvir estas palavras era o maior desejo de Boy, em silêncio fez o que lhe tinha sido ordenado!


Boy, pelo caminho perseguidor, tinha angariado alguma comida, depois de a terem saboreado, e, dessa forma, apaziguado a fome, Ana sentou-o no sofá insuflável, que era o único que existia no cubículo inteiro. Ela, andando, impaciente e inquieta, de um lado para o outro, praticou a arte inquisitória, com o intuito de apaziguar também a sua inquietação. Como fruto da sua mestria recebeu: o passado e o presente do nosso rapaz.
- E quanto ao futuro Boy? Eu não quero... Aliás, nem mesmo que quisesse poderia tomar conta de ti. Sabes quem e o que sou?, sabes?!..., Nem de mim sou capaz de tomar conta!... Passo metade do tempo pedrada e a outra metade a arranjar dinheiro para terminar com o sofrimento, com a ressaca..., percebes?
Boy mantinha-se em silêncio, mas não pensativo, esperava o momento certo para dizer as palavras que o estavam a sufocar.
- Não penses que, simplesmente, não quero o encargo de um menino doente, não é só isso! Se fosses saudável também não te desejava!... Além do mais, precisas de apoio médico constante, de medicamentos,... Sei lá, de quantas coisas mais!...
- Mas...
- Mas o quê?... O teu lugar é no hospital...
Aquele momento, porque Boy ansiava tinha chegado, para ganhar calma e coragem respirou fundo primeiro e desabafou logo de seguida:
- E o teu é no centro: qualquer coisa... E não estás lá! Estás tão, ou mais até, doente do que eu, o meu mal é somente físico!... Para o hospital não volto! Lá só sobrevivo... Sei que a minha passagem por aqui será breve, por isso desejo viver..., gostava que fosse a tomar conta de ti! Sim! A tomar conta de ti!, Senti-o no hospital. É junto a ti que viverei realmente, que esta curta passagem fará sentido!
Ana foi apanhada de surpresa, nunca esperara ouvir isto, estava sem palavras, mantinha-se quieta e em silêncio por impossibilidade de tomar outra atitude qualquer. Boy viu-se na obrigação de continuar a discursar.
- Não quero que tomes conta de mim, já estou farto que o façam! Chegou a altura de eu cuidar de alguém e gostava que esse alguém fosses tu!
Ana, ao aperceber-se que não seria fácil, senão impossível, livrar-se daquele rapaz impertinente e que, sem saber como nem porquê, conseguiu atingir o seu coração, o qual pensava morto há muito tempo, como nunca ninguém tinha conseguido, tomou uma decisão drástica e de acordo, segundo a sua consciência, com a ocasião. Bruscamente, abriu todas as suas gavetas, que não eram muitas, e tentou encontrar nelas: algemas cordas, meias,... Buscava qualquer coisa que servisse para atar. Boy estava atónito, não sabia o que se passava, nem conseguia sequer imaginar o que se iria passar. A rapariga depois de lançar todos os achados para cima da sua cama, lançou-se a si própria também para lá, exclamando de seguida:
- O que queres ser-te-á concedido! Chega aqui!
O rapaz respondeu ao chamamento de forma maquinal, não conscientemente.
- Ata-me!, Ata-me à cama de forma que não me consiga soltar, por mais que o queira e, até mesmo, que uma força inumana me possua e me impele a faze-lo! – Exigiu Ana.
Sem dizer quase uma palavra e com a ajuda de Ana, o nosso menino executou, de forma aceitável, aquele estranho pedido.
- Não te esqueças que não me podes desatar mesmo que tu peças de forma quase irrecusável ou desesperadamente!... Promete-me que não me desatarás em caso algum! Só assim podes ficar!
- Prometo... Ficarei a tomar conta de ti, e em caso algum te desatarei!
Posso afirmar que este foi o momento em que os dois souberam estarem condenados a caminhar ao lado um do outro, daí em diante e para todo o sempre... Boy cumpriu a sua promessa. Ana desintoxicou-se, objectivo que nunca tinha pensado ser capaz de atingir.
Enquanto prostituta, Ana tinha feito alguns conhecimentos e adquirido alguns amigos em esferas bem colocadas. A sua cara de anjo e o seu corpo bem delineado tocavam alguns corações, e acendiam o desejo de uma imensidão de homens. Eram poucas as mulheres que ataviadas de roupas provocantes conseguiam manter um ar angelical, Ana conseguia-o. Ela não era uma prostituta barata, os rendimentos que daí retirava não eram de menosprezar, agora que a droga não os levava, como o vento forte leva a pena mais leve, o casal tinha uma vida farta. Um médico e um falsificar tinham-lhes resolvido os piores problemas. O médico, mesmo contrariado, assistia e medicamentava o doente; o falsificador tinha arranjado uma identificação falsa para Boy. Nome falso, idade falsa, receitas falsas, tudo isto era obtido através dos favores sexuais de Ana. Tinha-se levantado a hipótese do rapaz ganhar algum dinheiro como correio de traficantes, mas Ana discordou firmemente, nem sequer queria ouvir falar nessa hipótese. A vida deles era, agora, demasiado boa para ser posta em risco por uns trocos... Ele só tinha de tomar conta dela, não a deixar cair em tentação, nada mais lhe pedia, do dinheiro tratava ela. Ana defendia que, para além de doente, ele era demasiado inocente e frágil para se ocupar das questões financeiras. Não queria po-lo em risco, porque era de extrema importância para si.
O facto dela se prostituir afectava Boy, mas que podia fazer? A sua companheira dizia que essa era a sua profissão e que era quem tinha de ganhar dinheiro.


Continua no conto: Uma História Reles III
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