Usina de Letras
Usina de Letras
13 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62285 )

Cartas ( 21334)

Contos (13267)

Cordel (10451)

Cronicas (22540)

Discursos (3239)

Ensaios - (10386)

Erótico (13574)

Frases (50673)

Humor (20040)

Infantil (5458)

Infanto Juvenil (4780)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140818)

Redação (3309)

Roteiro de Filme ou Novela (1064)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1961)

Textos Religiosos/Sermões (6209)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Contos-->Uma História Reles III -- 03/11/2002 - 21:12 (cumpadri) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Terceira parte do conto: Uma História Reles.

Dois anos e quatro meses tinham-se passado desde o dia em que Boy soube estar para sempre ligado àquela rapariga, tinha agora 18 anos e a sua saúde tinha-se degradado um pouco; ainda lhe restavam algumas forças, mas sabia que não lhe restava muito mais tempo, nada queria comentar com Ana sobre o seu estado de saúde, temia que ela entristecesse e recaísse naquele mundo, aparentemente, tão bom, o que a levaria a afastar-se dele logo na altura em que mais precisava de a ter ao seu lado. Ana, para ele, era tudo! Era: a mãe que nunca tinha conhecido e não-mãe, amiga e não-amiga, enfermeira e não-enfermeira, amante e não-amante,..., não havia nada que Ana fosse e não-fosse... Ela era, realmente, tudo para ele.
Naquele domingo, eles passeavam por um jardim esquecido pela sociedade em geral. Era um sítio onde os enjeitados se podiam lembrar, quando lá iam, que eram gente e tinham direito a aceder às coisas maravilhosas da vida. Ana e Boy, nessa altura, já não se sentiam enjeitados nem pela sociedade e nem pela vida, antes pelo contrário, tinham encontrado razões que justificavam a sua existência e o seu viver: amavam-se um ao outro, mesmo sem o saberem bem, e amavam a vida. Quando chegarem a casa apesar de os dois estarem cansados, os seus corações repletos de amor dominaram-nos, Boy agarrou a sua companheira e carregou-a ao seu colo até à pequena cama, poisou-a com jeito e carinho, depois poisou-se no corpo dela, e, seguidamente, os dois entregaram-se à expressão carnal do amor verdadeiro que sentiam um pelo outro. Ana tinha sempre preservativos na sua mala pessoal, assim, nada impediu aquele acto, não tanto da carne, mas, sobretudo, do espírito. Amaram-se, amaram-se e voltaram a amar-se - inventando e reinventando aquele acto da peça de teatro das suas vidas, onde eram os únicos actores e espectadores, e que era representado numa sala de espectáculos que só eles conheciam e da qual eram os únicos donos -, até não terem mais forças para o fazer. Fizeram-no como se fosse a primeira e a última vez que o fariam; fizeram-no com amor, curiosidade e saudade...


Na manhã do dia seguinte, enquanto tomavam um pequeno almoço tardio, composto por: leite, café, sumos, pão, doces e outras iguarias que se costumam comer nessa refeição, em geral, matinal, sentados a uma miniatura de mesa que representava naquela quase-cozinha uma mesa, contaram e recontaram, lembraram e relembraram, factos e não-factos das suas vidas. Boy lamentou a sua vida de órfão, estava farto de não ter uns pais que fossem mesmo pais, tinha-a a ela, mas não era a mesma coisa. Tinha ouvido, há algum tempo, falar num Pai comum a toda a humanidade, mas nem desse Pai abrangente era filho! Ao referir este facto, algumas lágrimas fugiram dos seus olhos, Ana com a sua mão afagou as faces dele tentando, dessa forma, apagar aquela dor, que era a mãe dos cristais que os escoriavam ao escorrer pelas faces do seu amante. Este usando apenas: expressões da sua face, movimentos suaves do seu corpo e brilhos verdadeiros dos seus olhos - tudo isto era produzido nas nuvens da sua alma, chovia no pico da sua existência carnal, descia através dos vales do corpo de Ana e desaguava no mar que era a alma dela -, agradeceu-lhe esse seu gesto consolador e terno. Ana, através da água que desaguou na sua alma, apercebeu-se de que o, agora, seu amante não partiria descansado se não conhecesse um pai que olhasse por ele, ela era importante, e muito, para ele, mas não lhe bastava. O que as palavras seguintes do rapaz vieram a confirmar:
- Ana quero que me baptizes! Quero tornar-me filho do Pai de toda a gente! Vivi, a maior parte do tempo, quase sem família, mas quero morrer com um pai e uma quantidade infinita de irmãos... Quero ter alguém que olhe por mim, que me castigue quando pratico acções menos correctas, recompense nas alturas em que pratico atitudes agradáveis, apare as quedas,... Quero um Pai que esteja, sempre, presente, que se lembre, sempre, de mim e que mesmo naqueles momentos em que até eu me esqueço de mim, grite lá do alto: «Boy, acorda! Volta desse mundo onde nem de ti te lembras! Regressa para a tua vida! É para viver que voltaste para a Terra!»,...
- Voltaste para a Terra?!...
- Sim!, voltaste para a Terra! Durante o tempo em que vivi no hospital uma enfermeira trazia-me muitos livros, os quais eu devorava, eles foram os meus mentores, foi neles que descobri muitas coisas sobre o Pai abrangente e grande, grande em capacidade de amar, em carinho, em preocupação, em perdão, em aceitação e até mesmo correcção, e Tomei também contacto com um dos grandes mistérios da vida: a reencarnação!
- A ideia de já termos vivido em épocas anteriores?
- Pois, isso mesmo. Sabes, penso que quando morrer, se for baptizado antes disso acontecer, posso ter dois futuros. Se esse Pai gostar de mim, viverei junto Dele, no Céu, como ser imutável e eterno, mas se Ele me considerar uma peste, pelas minhas acções aqui na Terra, consumir-me-ei de tristeza, até a minha alma desaparecer para sempre, por ter sido afastado do seu olhar, renegado por Ele. Julgo que esse viver doloroso é o viver no Inferno!
- E só julgas existirem essas duas possibilidades? Eu acredito num Deus mais liberal. Num Deus que nos reserve não só Céu e o inferno, mas também outros destinos diferentes, só dessa forma faz sentido o ter vivido noutras épocas, a reencarnação!
- Acredito que exista um lugar comum aos não baptizados e àqueles que não merecem o Céu, por falta de virtudes, nem o inferno, por virtudes a mais. Quem sabe se não serão esses que voltam à Terra, pois não têm um lugar fixo no Além.
- Faz sentido. Mas essa ideia assusta-me, horroriza-me!... Se para ser aceite por esse Pai tenho de ser baptizada, eu não o sou!?... Parece-me estar condenada eternamente à reencarnação!?...
- Baptizemo-nos! Mostremos ao nosso futuro Pai que o aceitamos como ele é, pode ser que nos aceite como somos! Com as nossas, não muitas, virtudes e a nossa quantidade infinita de defeitos... Deixemos de estar sós!
Boy pegou num copo de plástico um pouco rachado junto ao bordo, mas era o melhor que possuíam, e, ao chegar junto a uma torneira que vertia o seu sumo para uma miniatura de bacia, disse:
- Ana chega aqui, por favor!
A rapariga acatou a ordem sem pestanejar, ao chegar junto dele soube intuitivamente o que devia fazer: curvou-se levemente, não por reverencia a Boy, mas ao seu futuro Pai, não queria contacto-Lo logo de inicio com o pé esquerdo. Assim que a rapariga se pôs na posição necessária, ouviram-se as seguintes palavras:
- Futuro Pai, sei não ser merecedor do acto que irei praticar, espero que o meu amor por ti e por Ana cheguem para justificar esta minha atitude pretensiosa!
Boy fez uma pausa no discurso para adornou o copo com alguma água. A seguir continuou:
- em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, eu te baptizo: Ana.
Enquanto pronunciava estas palavras, usando a mão livre, benzeu a cabeça da rapariga com o sinal da cruz de Cristo, ao calar-se verteu-lhe a água do copo sobre a cabeça. Alguns momentos depois, quando já tinham gozado e comemorado a sua primeira vitória sobre o abandono, a rapariga, agora, na sua condição de filha do Pai abrangente, tornou Boy igual a si nessa condição. Daí em diante, todos os dias gastavam alguns momentos a mimar e a louvar o seu novíssimo Pai e, por vezes, sentiam na sua alma a recompensa dessas atitudes ternurentas e respeitosas. Nunca mais se sentiram abandonados; sabiam, agora, ter alguém com quem se preocupar e que se preocupava com eles.

Continua no conto: Uma História Reles IV
Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui