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Contos-->Uma História Reles Conclusão -- 03/11/2002 - 21:17 (cumpadri) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Quinta e última parte do conto: Uma História Reles.

Naquele dia, Boy estava mais pálido e sem forças do que em qualquer outro dia, Ana ficou em casa junto dele, ambos sabiam que o dia tinha chegado e que a hora não estava distante. Boy, em dada altura, quebrou um silêncio que tinha durado horas na realidade, mas que na relatividade do amor deles parecia ter durado um simples e pequeníssimo instante - não tinha sido um silêncio gélido, mas, antes pelo contrário, tinha sido aquecido pelo calor das emoções que trocavam através do refulgir dos seus olhos e dos restantes movimentos dos seus corpos -, dizendo:
- Senta-te na cama, junto a mim! Quero dizer-te algo que está a perturbar a minha paz, mas não tenho força para o fazer se estiveres distante.
Ele, sussurrando, porque não tinha forças para falar doutra forma, disse a Ana que não tinha tido no seu corpo sempre aquela maldição dos céus, aquela doença ainda sem cura, a morte certa. Vivia desde que se lembrava na rua, tinha-se habituado a ela e não conhecia outro modo de viver. Tornara-se, mas acima de tudo considerava-se, forte devido às agruras daquela vida, mas certo dia, tinha nessa altura 12 anos, um grupo de homens perdidos na droga, apanharam-no e abusaram dele. Fora dessa forma condenado sem ter culpa alguma a carregar no seu corpo e na sua alma tal maldição. Ana verteu uma quantidade infindável de lágrimas, ele pediu-lhe que parasse, pois já tinha aceitado a sua condição, a revolta e a tristeza tinham ficado enclausuradas no passado, ela o ajudara a prende-las. Não desejava que agora voltassem a viver livremente na alma de dela. Isso não o deixaria partir em paz. Ela rapidamente impediu a nascença de mais lágrimas suas, tanto no seu corpo como na sua alma, e pegou num lenço na tentativa de apagar qualquer marca das suas faces que fizesse Boy lembrar-se do seu já ido choro.
- Ana tudo o que de bom e maravilhoso me permitiste viver compensou quase todas as outras dores. O meu Pai..., o nosso Pai encarregou-se de compensar o que não conseguiste...
- Novas lágrimas surgiram nas faces de Ana, mas desta vez eram de felicidade, provocara-as a lembrança dos momentos que tinha vivido ao lado de Boy. O primeiro dia..., aquela perseguição..., o primeiro beijo que ele lhe roubou durante a alucinação provocada pelas horas de abstinência de droga a que se submeteu para o poder ter a seu lado..., os passeios conjuntos, as conversas..., até mesmo as horas distantes dele e ansiosas pelo momento em que se voltariam a juntar..., a primeira noite de amor..., o bebé..., sim!, o bebé deles que estava para nascer..., as noites que dormiram juntos, os carinhos, as palavras doces, amigas, amantes, fraternais, maternais, as duras e por vezes rudes que diziam um ao outro quanto estavam em desavindos..., as divagações e conclusões a que tinham chegado juntos..., o seu nascimento novo e conjunto..., pois, até um pai tinha ganho juntos... De tudo isto eram feitas e falavam as lágrimas de Ana. Boy permaneceu em silêncio , enquanto através desse rio de lágrimas que nascia nos olhos de Ana e desaguava em si recordava exactamente as mesma coisas. Eles recordavam até esta forma peculiar de comunicarem um com o outro, através da ausência das suas vozes o que lhes permitia ouvir as mensagens dos seus corações e das suas almas.
Ana sentiu o corpo de Boy torcer e retorcer-se de dores horríveis, retirou de uma gaveta a parafernália necessária para lhe administrar a droga que o levaria à não-dor, neste caso, à morte suave e isenta de dores. Boy tinha sempre administrado o remédio a si próprio, temiam que Ana não resistisse à tentação. Naquele instante certificaram-se que Ana estava suficientemente forte para nunca mais se deixar cair naquele mundo de perdição...
Ana durante a preparação do elixir milagroso, cruzou o seu olhar com o de Boy, o seu coração ficou pequenino, chorou de tristeza e de saudade, soube que era a ultima vez que veria o brilho daqueles olhos que o seu marido acabara de fechar. Como sabia que antes de a deixar e partir para o outro lado, Boy desejava bater à porta de Deus, demorou um pouco a injecção da droga. Ele desejava mesmo antes de morrer, agradecer a Deus por tudo o que de grandioso tinha vivido e pedir-Lhe, em primeiro lugar que perdoasse as falhas dele, tanto as consciente como as inconscientes, em segundo lugar que o aceitasse com todos os defeitos que possuía, pois sabia não ser prefeito. Ana ao sentir que o seu companheiro tinha feito o que desejava, aliviou-o das dores que o atormentavam, dando-lhe a injecção aliviadora, e deixou-o partir em paz...
Cada vez que recordo esta cena fico maravilhado, com a grandiosidade de Ana e da mensagem que nos transmite. Uma ex-drogada que numa hora de perca e enorme dor arranja forças para dar a outra pessoa, sem o fazer a ela própria, algo que psicologicamente tanto necessitava, e é compensada por isso, uma compensação infinita que só a Deus é permitido dar, fica livre de tal tentação para o resto da sua vida. Como um gesto de enorme altruísmo se reveste de um presente tão grande que se torna quase um gesto de infinito egoísmo... É com certeza esta uma história de gente reles, reles em haveres materiais, mas grande, mesmo muito grande em fortuna! Não uma fortuna normal daquelas que se medem em ouro, mas uma fortuna daquelas que se medem em felicidade; como a felicidade não tem medida possível, a fortuna deles foi: terem sido felizes e a mensagem que nos deixaram!


Espero sinceramente que a leitura deste conto vos tenha proporcionado tanto prazer quanto o que tive ao escreve-lo!
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