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Contos-->Reencontros -- 04/11/2002 - 01:08 (Cristina Sampaio Sckianta) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
REENCONTROS


Mike finalmente estava de volta em sua terra natal. A terra da sua infância e onde passara por tantas aventuras. Ao chegar no aeroporto, mal podia esperar pela bagagem. Queria encontrar com Liz, sua amiga e namorada durante a adolescência. Não tinha tido notícias dela por 10 anos e há muito pouco tempo falaram-se ao telefone. Disse-lhe que estava voltando e que gostaria de vê-la, o que ela topou na hora e com muita alegria.
Agora estava ali no aeroporto empurrando um carrinho cheio de bagagens procurando ver o rosto amigo de Liz naquela multidão.
- MIKE! MIKE! AQUI! MIKE!
Lá estava ela. Corria em sua direção e mostrava-se mais bonita do que quando tinha 15 anos. Liz estava linda.
- LIZ! Correu ao seu encontro. Agarrou-a forte, deu-lhe um grande abraço e rodopiou com ela no ar. – Está mais leve hoje em dia que há 10 anos! HUM.... muito bem!
- Não seja bobo! Fiz uma dieta rigorosa porque sabia que você viria. Queria que visse o que deixou para trás quando foi embora. Brincou Liz. – Estava com saudades! Estava precisando tanto ter você por perto! Que bom que te vejo, Mike! Que bom que você está aqui!
Mike a abraçou novamente. Ela recostou a cabeça em seu ombro e chorou abraçando-o fortemente. Mike correspondeu ao abraço beijando-a nos cabelos agora muito longos e brilhantes. Por que fora embora? Ainda não conseguia se lembrar porque casou-se com Paloma. Agora estava ali divorciado, Liz divorciada, dois casamentos destruídos e os dois em sofrimento. Mas não a deixaria chorar, não agora. Estavam no meio de uma multidão apressada e suas malas estavam no meio da passagem principal daquele aeroporto entulhado de gente.
- Vamos embora, disse Mike gentilmente abraçando-a. Sentia-se um menino ao lado dela. Sentia como se os anos não tivessem passado. Mas a realidade não era essa. Cometera um erro no passado e estava ali com a intenção de corrigir. Faria isso, pensou enquanto puxava Liz e as malas ao mesmo tempo.
Dirigiram-se para o estacionamento. Liz se recompôs e logo estavam rindo novamente. As lembranças de suas histórias engraçadas pareciam brotar livremente agora que estavam mais relaxados, dentro do carro e livre do calor e do barulho da multidão. Mike foi dirigindo e com as dicas de Liz seguia adiante pelas ruas movimentadas. Ligara o ar condicionado e o clima agradável logo fez com que se sentissem cada vez mais nostálgicos e cheios de esperança que teriam um maravilhoso dia.

À medida que Liz relembrava suas vidas, Mike novamente foi levado a pensar no por que havia ido embora para aquele que seria um casamento desastroso em sua vida. Até que ficara casado muito tempo. Tinha uma filha e não queria separar-se dela, mas finalmente não pôde mais agüentar e prometera à filha que sempre estariam juntos.

Liz começou a relatar a vida que tiveram quando freqüentavam a praia diariamente. Era verdade, estavam na praia diariamente, fizesse chuva, fizesse sol. Antes da escola, tinham que dar um mergulho. Os sábados eram os melhores, praia pela manhã e cinema à tarde. Aos domingos iam juntos à igreja.

Liz tocava-lhe na perna agora. Aquele toque.... Como pudera esquecer o quanto gostava daquelas mãos em sua perna. Ela sempre o tocara assim. Tinha mãos macias e dedos longos e finos. Adorava quando ela lhe acariciava o rosto. Aos quinze anos tinha um bigodinho bem fininho e espessas sobrancelhas. Liz adorava! E sempre lhe acariciara ali. Era maravilhoso. Esforçou-se para escutar o que ela lhe dizia, pois as lembranças estavam consumindo sua alma! Ela falava agora das nossas brigas, ciúmes e como acabávamos voltando para os braços um do outro. Estava dizendo o quanto ele era cabeça dura na maioria das vezes, mas agora admitia que também era uma cabeça dura. Mike não conseguiu conter o riso. Brigavam por bobagens, mas o que? Namoraram dos 14 aos 22 anos. Eram muito, muito jovens.

- Ali está Mike. Pare aqui. Está vendo? A praia de nossas vidas. A praia onde passamos nossa infância e adolescência. Onde tantas vezes te beijei. Eu te amei muito Mike. Te amei tanto que somente a lembrança faz com que meu coração queira saltar pela boca. Na realidade, nunca te esqueci. Te esperei por todos estes anos bem aqui, sonhando e imaginando se algum dia você voltaria para mim. Foi para mim que você voltou, não foi?
Ela o tocara na perna novamente. Ela sabia muito bem do que gostava. Ele a amava! Amava muito! Mas por que não se casaram? – Liz, por que fui embora? Por que não nos casamos? Por que separados por tanto tempo?
- Não pense mais nisso. O passado já não existe mais. O presente é que importa agora. Venha, vamos mergulhar como nos velhos tempos, que tal? Abriu a porta do carro e saiu correndo em direção ao mar. Mike foi atrás. Correu feliz ao encontro daquela que tanto amava. Tirou os sapatos, a camisa e atirou-se nos braços da sua amada. Abraçou-a, beijou-a. Ficaram muito tempo brincando na água até que finalmente chegou a noite e a madrugada despontou. Ela era linda. Como uma sereia nadava em volta de Mike que extasiado e feliz beijava-a o tempo todo. Exaustos, jogaram-se na areia. Amavam-se com ardor e saudade enquanto as ondas cantavam em seus ouvidos. Liz repetia sem parar o quanto o amava. Mike, tonto de emoção prometia-lhe que jamais se separariam novamente. Prometeu-lhe amor eterno, e era exatamente o que queria. Queria sentir-se assim por toda a sua vida. Amava aquela menina que transformara-se em mulher longe dos seus olhos. Não queria mais separar-se dela! Pensava desesperado.

Quando finalmente o dia começou a raiar, Mike lembrou-se. Lembrou-se por que não estava casado com Liz. De sobressalto levantou-se. Olhou por todos os lados, mas ela não estava mais ali. Havia adormecido e à medida que o sol se erguia no céu, suas lembranças tornavam-se cada vez mais nítidas. Chorou como um menino. Um choro acumulado por 10 longos anos. Quando finalmente percebeu o sol já alto no céu, andou em direção ao mar e viu escrito na areia.... – O seu amor eterno eu sei que sempre terei, mas apesar de querê-lo perto de mim agora, poderei esperar um pouco mais. Te amo.

Quem escrevera aquilo? Era um recado para ele? Percebeu alguém se aproximando e virou-se devagar. Era Alonso, seu amigo de muitos anos. Também conhecera Liz. Eram todos amigos naquela época e presenciara o acidente.
- Alonso, foi você quem me trouxe até aqui? Perguntou Mike.
- Sim. Não se lembra? Você não disse nada durante todo o percurso e achei que gostaria de vir aqui antes de qualquer outro lugar. Observei você de lá de cima até que percebi um sinal de mudança em você.
- Lembro-me de tudo agora. Eu não consegui segurá-la Alonso! Disse Mike com grande tristeza e desespero. - Você se lembra? Lembra como o mar a levou? Eu tentei tirá-la da água, tentei salvá-la, mas não consegui. – Baixou a cabeça e chorou de novo.
- Você finalmente percebeu a verdade, Mike. Ficou todos estes anos em estado de semi inconsciência e loucura! Desde que Liz morreu você não era mais você, havia morrido e estava vivo ao mesmo tempo! É bom tê-lo de volta amigo.
- Quem esteve comigo a noite toda? Eu estava com Liz bem aqui, eu sei que estava! Foi muito real, não pode ter sido minha imaginação!
- Talvez não tenha sido, disse Alonso. Talvez ela tenha vindo te dar um último adeus e mostrar-lhe que você não tivera culpa! Que foi um acidente! Disse Alonso gentilmente.
- Quem escreveu.... Mike olhou para o chão de areia, e confuso percebeu que não havia mais nada escrito. A onda do mar apagou provavelmente, ou talvez nunca tivesse havido qualquer escrita.
– Estava escrito... aqui...ela dizia que me amava! Mike apontava tentando parecer calmo.
- Vamos amigo, vamos para casa. Sua filha telefonou e quer que você ligue assim que puder.

Mike olhou mais uma vez para aquelas ondas suaves do amanhecer e pensou em Liz novamente. Ela morrera, mas estivera ali com ele. Ela escrevera o bilhete, ela o presenteara com a volta à realidade e o perdoara. Jamais a esqueceria, foi por isso que seu casamento não dera certo, nunca admitira que Liz estivesse morta! Jamais permitira que lhe dissessem algo que pudesse lembrar-lhe daquele dia fatídico. Em sua imaginação ela ainda vivia, vivera para encontrá-la viva. Enlouquecera para jamais lembrar-se de sua morte. Nunca derramara uma única lágrima, chorar significava admitir que Liz se afogara e que ele não conseguira salvá-la. Somente hoje as lágrimas vieram e lavaram toda a sua culpa e dor. Virou–se devagar e seguiu com seu amigo Alonso para o que seria uma nova vida. Não sabia como seria seu futuro, mas tinha certeza de uma única coisa: amava Liz mais do que nunca, e algum dia a reencontraria.

Invisível aos olhos humanos, Liz o observava ir embora. Triste deixou-o partir para sua nova vida. Feliz acenava-lhe, com a esperança que o veria novamente. Gostaria que pudesse vê-la mais uma vez, gostaria de abraçá-lo mais uma vez. Como o amava! Alonso não sabia, mas estivera mesmo com Mike e escrevera o bilhete na areia. Mas não poderia impedi-lo de viver. Ela o esperaria.

Enquanto Alonso fazia a manobra do carro, Mike a viu. Era Liz, tinha certeza! Estava lhe acenando! Estava lhe dizendo adeus. Ele acenou-lhe de volta e mais uma vez prometeu que voltaria. Desta vez seu coração estava leve, sua consciência tranqüila e sua alma cheia de esperança.
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