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Ensaios-->Uma breve análise do poema "Rodopio" de Mário de Sá Carneiro -- 05/06/2002 - 12:43 (Taíse Regina Leal dos Santos) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Uma breve análise do poema
'Rodopio' de Mário de Sá Carneiro

O estudo do ritmo e das rimas de um poema é importante para que possamos compreender também o campo semântico do poema. Através do estudo da ritmo, é possível compreender o sentido da palavra e o por quê desta palavra estar onde está.
Em 'Rodopio', poema de Mário de Sá Carneiro, pode-se perceber um ritmo contínuo, ininterrupto. Isso pode ser percebido através das rimas, que seguem no poema a seguinte estrutura: /ABBBA/. Segue esta estrutura do início ao fim do poema, sendo que este é constituído de onze estrofes, cada uma com cinco versos (sempre). A marcação do ritmo, pode ser percebida já na primeira estrofe, como mostra o fragmento abaixo:

<< Volteiam dentro de mim, A
Em rodopio, em novelos, . B
Milagres, uivos, castelos, B
Forcas de luz, pesadelos, B
Altas torres de marfim.>> (...) A


E dessa forma, sempre rimando o primeiro com o último verso, e os três versos do meio, ininterruptamente.
O que pode ser interpretado a partir dessa estrutura rítmica, é uma possível justificativa para o título do poema: 'Rodopio'. Repare que enquanto se lê as últimas palavras de cada verso, sempre com essa continuidade rítmica, dá-se a impressão de que estamos 'dando voltas', ou seja, como se fosse um círculo: << ABBBA, ABBBA, ABBBA...>> Dá-se a sensação de que estamos 'rodopiando' juntamente com os versos do poeta.





O verso começa, dá voltas e retorna ao ponto de partida, como um estado cíclico: << mim, novelos, castelos, pesadelos, marfim>>
<< rastros, sóis, faróis, heróis, mastros>> << cor, luz, cruz, reproduz, esplendor>>

Mas não só as palavras finais de cada verso chamam a atenção. Há uma série de palavras em cada verso, que são 'quebradas' por vírgulas. Essas (muitas) vírgulas usadas pelo poeta, dão uma amenizada no ritmo, ou seja, não nos permite ler o poema rapidamente, num ritmo acelerado. Essas vírgulas nos obrigam a fazer pausas leves, permitindo que o ritmo seja mais lento, talvez para acentuar a sensação de 'rodopio', de girar lentamente com as palavras que rodeiam dentro do 'eu poético'. Podemos perceber isso lendo pausadamente os versos curtos, nas duas estrofes a seguir:

<< Volteiam dentro de mim,
Em rodopio, em novelos,
Milagres, uivos, castelos,
Forcas de luz, pesadelos,
Altas torres de marfim.

Ascendem hélices, rastros...
Mais longe coam-me sóis;
Há promontórios, faróis,
Upam-se estátuas d heróis,
Ondeiam lanças e mastros.>>
(...)

Note que na Segunda estrofe, há alguns versos inteiros, que não são cortados por vírgulas: << Mais longe coam-me sóis>> e << Upam-se estátuas d heróis>>. Isso não quer dizer que esta parte do poema será lida rapidamente. Se a partir da primeira estrofe, já foi marcado um ritmo, consequentemente, o leitor seguirá este ritmo do início ao fim do poema, lendo assim (neste caso) pausadamente, assim como os outros versos que possuem as vírgulas. Este poema nos permite esta estrutura rítmica ininterrupta.
O poeta se mune de palavras fortes para juntamente com o ritmo, provocar sensações ao leitor. << Volteiam dentro mim/ Em rodopio, em novelos/ Milagres, uivos, castelos/ Forcas de luz, pesadelos/ Altas torres de marfim >>
Nas primeiras cinco estrofes, o 'eu poético' se refere a Reinos e a tudo que a ele está ligado < Milagres, uivos, castelos>>, na primeira estrofe e << Rainhas desfolham lírios>>, na quinta estrofe.
O poeta usa palavras que sugerem uma oposição constante entre luz e escuridão, como em << (...) E um espelho reproduz/ Em trevas, todo o esplendor>>
A partir da quinta estrofe, como nas estrofes seis e sete, o poeta se refere a corpos, algo mais carnal e externo: << Há missas e bacanais>> (oposição, missas x bacanais) e em: << seios mordidos, golfados>>. E ainda sim faz referência quanto à oposição entre luz e escuridão. Ele usa palavras como neblina, nostalgias, vácuos, bolhas d ar, para indicar algo mais obscuro e palavras como sóis, faróis, cortejos de luz, esplendor, círios, para expressar a luz, a claridade.
Através de todo este estudo de Rodopio, uma possível interpretação seria que, o 'eu poético' está constantemente atormentado por essas imagens. Como se tudo estivesse passando por seus olhos e como se estivesse com uma ligeira sensação de vertigem <>. Ao mesmo tempo que se sente bem, que vê a luz << luas d oiro se embebedam>> paralelamente a luz, vem a escuridão << trevas, pesadelos>>. Isso dá a impressão de que constantemente luta contra certos sentimentos, ao mesmo tempo que deixa outros virem à tona. Como se o que sentisse fosse muito mais forte que ele, e não pudesse controlar esses sentimentos bons e ruins.
Mas, o que fica evidente em 'Rodopio', é que tudo o que ocorre no poema, está 'rodopiando' dentro do 'eu poético', todos os sentimentos, figuras, imagens, ações , vão e voltam a todo momento, sem que ele consiga os controlar.
São palavras fortes que provocam imagens, talvez vividas pelo 'eu poético', ou talvez sejam apenas ilusões e desejos que permaneceram vivos no 'eu'. Podem ser apenas lembranças de situações vividas << Há velhas cartas rasgadas/ Há pobres coisas guardadas/ Um lenço, fitas, dedais...>> ou apenas desejos incontroláveis do 'eu' de viver todas essas situações. << Tantas, tantas maravilhas,/ Que não se podem sonhar!>>
Mas não restam dúvidas, de que tudo que se passa no poema, todos os sentimentos, sensações, pesadelos, enfim, tudo o que o 'eu' cita como 'maravilhas', ocorrem dentro do 'eu poético', rodopiando lentamente, deixando o poeta num estado de devaneio, como se estivesse num momento súbito de delírios, de profundo pensamento sobre seus desejos.

<< Volteiam dentro de mim,
Em rodopio, em novelos (...)
(...) Tantas, tantas maravilhas
Que não se podem sonhar!...>>


Taíse Regina Leal dos Santos
4º Semestre de Letras - UNIMEP
Teoria Literária - Profª Joseane de Souza
Novembro / 2001






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