Impressionante se faz perceber como os vícios de linguagem nos cercam e arrebatam sem que percebamos sua atuação rápida e sutil. Vivemos em harmonia com esse problema gramatical e lingüístico simbioticamente - sim, pois tais vícios necessitam de nossa parceria para que existam e nós necessitamos deles a fim de que possamos nos expressar - sem nos darmos conta do problema.
Várias foram as febres de vícios de linguagem. Tivemos a vivência do "né?!", que devastou grande parte da população falante brasileira e, atualmente, é endêmico. Em seguida, veio o "é ruim, heim?!", que se transformou em epidemia, atingindo, sobretudo, a região do Estado do Rio de Janeiro; então surgiu, infestando a nossa pobre e cansada língua portuguesa o "a nível de...", que intelectualizou tantos falantes analfabetos. Hodiernamente, o mal que afeta a nossa fala é uma pequena locução: "tipo assim..."
A "fúria tipoassinesca" chegou para ficar. Por onde quer que se ande, ouve-se sempre algum comentário do gênero:
- Eu queria um sapato ... tipo assim aquele lá da vitrine."
Ou, ainda:
- Eu só sei que ele ‘ficou’ com ela tipo assim de repente!"
Esse "fenômeno" para alguns pode não significar grandes problemas, mas para quem se preocupa com uma boa qualidade de fala e de escrita em língua portuguesa, essa situação se torna deveras preocupante. Ora, um povo que se atrela freqüentemente a vícios de linguagem é um povo que demonstra desconhecimento do variado leque de opções ofertado por nossa língua materna, ou seja: é desprovido de vocabulário. Isso se dá pelo fato simples da falta de leitura existente em nosso meio sócio-cultural.
Imaginemos, se Guimarães Rosa, um dos nossos grandes escritores, autor de Sagarana e outras importantes obras, não possuísse um extenso vocabulário e estivesse saturado de vícios de linguagem:
"- Agora, né, parado o pronto, né, a tristeza tomou conta de Nhô Augusto. Uma tristeza a nível de Marisa, com muita saudade da mulher e da filha, e com um dó tipo assim de si mesmo, Tudo perdido, né! O resto ainda podia... mas, Ter a sua família, direito, outra vez, é ruim, heim?!"
Tomemos consciência, então, de que ler é fundamental. Ler LITERATURA. É e sempre será importante para desenvolver um repertório sofisticado. Que haja incentivo por parte de todos para que o bom e saudável ato de leitura seja propagado por vários horizontes, com a finalidade, entre outras, de se erradicar os vícios, como o do "tipo assim".
|