OLHA O TOURO!
Tempos atrás, na cidadezinha do litoral, instalou-se um circo cujas atrações eram espetáculos teatrais e touradas. O repertório teatral era formado de dramas folhetinescos, daqueles de encher baldes de lágrimas. As vezes, devido a inabilidade dos atores, o espetáculo virava uma comédia. Numa das sessões, o terrível vilão avançou para sua vítima armado de um punhal. Silêncio na platéia. O "ponto", por trás da cortina, sussurrava: esfaqueie bem no saquinho de tinta. Ao tentar safar-se, a vítima deixou cair, de dentro da camisa, o saquinho cheio de tinta vermelha. O vilão não hesitou; correu atrás do saquinho e cravou-lhe o punhal, exclamando: morre, miserável!
Já as touradas eram as preferidas pelo povo. O touro era sempre o mesmo, só mudava a cor de uma fitinha pregada em sua orelha. E era brabo, apesar da fitinha. Depois de algum tempo, os componentes do circo tornaram-se íntimos dos moradores; até o touro ficou sendo conhecido como Ricardão (era o namorado que todo o pessoal da colónia desejava para sua vaquinha). Ricardão era boa gente, apenas quando ficava nervoso tornava-se um perigo.
Um dia, correu o boato de que havia fugido. Todos na cidade andavam apavorados. À tardinha, houve um casamento. Sabem como é, em cidade pequena assistir casamento é um programa dos mais concorridos. A igreja estava lotada. Os que não conseguiram entrar na igreja ficaram do lado de fora para assistir à saída dos noivos. Foi quando um gaiato gritou: o Ricardão vem vindo pra cá!
Dentro da igreja, a informação que chegou foi outra: que o touro dizimara o pessoal de fora e estava tentando entrar pelos fundos. Imaginem a confusão: o pessoal de fora, apavorado, querendo entrar a todo custo. O pessoal de dentro, mais apavorado ainda, querendo sair.
Era gente pendurada no púlpito, escondida dentro do confessionário; debaixo da túnica de S. Benedito tinha uns seis. Não sei se os noivos conseguiram casar, mas a igreja fechou uns seis meses para conserto.
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