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Ensaios-->Cultura Popular II -- 05/07/2002 - 16:03 (Moura Lima) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
TRILOGIA TOCANTINENSE
ADRIÃO NETO*


“Como se reconhece o caráter artístico de uma obra? Pelo fato de vermos nela a concordância, completa na medida do possível, da idéia artística da forma em que esta idéia se materializa”.
(Dostoiévski)


Tive a grata satisfação de ler “Serra dos Pilões - Jagunços e Tropeiros” e também “Veredão - Contos Regionais e Folclóricos”, ambos de Moura Lima, em agradáveis manhãs, a céu aberto, debaixo da copa de uma frondosa mangueira, de sombra generosa e acolhedora, esparramado numa rede tapuirana, ladeado pelo verde soberbo da paisagem bucólica de minha terra, nos confins deste Piauí velho de guerra, como o fez Augusto Mayer, ao ler “Contos Gauchescos”, de J. Simões Lopes, também numa querência dos pagos de sua terra.
Portanto, devo confessar que foi um tropear macouco de bom, arrojado e turuna, pelos fundões dos gerais do rio Araguaia e Tocantins, naquela paisagem deslumbrante a perder de vista. O autor, na mestria de seu estilo, foi levantando-me os quadros sociais e suas conseqüências históricas, pintando os tipos humanos, como: o vaqueiro, o caipira, o jagunço, a benzedeira, o coronel mandão e prepotente. E também nos levou a conhecer os mitos folclóricos do Estado do Tocantins, outrora desconhecidos da cultura popular brasileira: Romãozinho, Negro D’água, Roda de São Gonçalo, Cavalo-Canga, Caipora, Curupiara, Capelobo, Mula-sem-cabeça, Lobisomem, Rodeiro, Reisado.
De fato, é extremamente considerável, na literatura de Moura Lima, o valor documental, independente do estilo marcante, a começar pela contribuição lexicográfica. Para o estudioso de etnografia e de folclore, o sociólogo e o historiador, o dicionarista, o filólogo, é um vasto campo para pesquisa. Como regionalista profundo, o escritor Moura Lima se enquadra no que poderíamos chamar de documentarista, ao lado de Afonso Arinos, Hugo de Carvalho Ramos, Assis Brasil, Fontes Ibiapina, Bernardo Élis, Alvina Gameiro, Eli Brasiliense e William Palha Dias. Uma vez que a sua produção literária transborda da função puramente artística para o arrazoado sociológico e até geográfico, uma constante nas descrições do espaço físico, da paisagem e do ambiente. O festejado escritor e crítico brasileiro Assis Brasil, com muita propriedade o situou entre Guimarães Rosas e Adonias Filho, na grandeza da produção literária e na estilização da linguagem regional.
Serra dos Pilões e Veredão vieram ao mundo literário, como obras bem elaboradas, sob o signo da predestinação, e foram ungidas e adotadas no vestibular/95, 99 e do fluente ano, da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas de Gurupi-TO, como livros textos, do seu processo seletivo.
E assim é a repercussão da obra literária de Moura Lima, no chamado epicentro da cultura acadêmica. Basta dizer, sem rodeios, que recentemente o livro Veredão, de sua autoria, foi citado no V seminário e II encontro do Cone Sul sobre Tropeirismo, em Bom Jesus, no Rio Grande do Sul, pela escritora, tradutora e professora da PUCRS, Hilda Agnes Hübner Flores, na palestra “Os Caixeiros Viajantes”, onde asseverou textualmente:
— “O conto “Tropeiros do Jalapão”, de Veredão, do escritor Moura Lima, mostra como no extremo norte do país praticou-se igualmente o tropeirismo. Do texto constam termos que aproximam o leitor do norte com o do sul: cangalha, surrão e outros, inclusos no glossário ao final da obra”.
E já o escritor Enéas Athanázio, de Santa Catarina, no seu livro “Crônicas do Meio-Norte”, na crônica “Veredas do Tocantins”, (Pag. 73 e 74), abordou de forma lúcida a grandeza da obra de Moura Lima:
— “Não é demais ressaltar o papel de Moura Lima e sua ficção regional, mostrando ao país como se processou a implantação humana no que é hoje o Estado do Tocantins. Pode-se dizer, sem exagero, que aquilo que antes se sabia mal dava para compor duas linhas. Agora, graças ao seu pioneirismo, um mundo se descortina.”
Não obstante a grandeza e beleza de sua literatura, brota agora de sua verve fecunda “Mucunã - Contos e Lendas do Sertão”, que completa, de forma indelével, a trilogia maior do regionalismo tocantinense, ao lado do festejado romance “Serra dos Pilões” e “Veredão”.
“Mucunã”, em si, é um livro bem estruturado, tanto na linguagem, como na técnica contística. E Moura Lima endossa na estrutura frasal da obra os atributos sócio-culturais da região tocantinense, valoriza as virtudes da alma humana, como expõe à reprovação as ofensas do códigode honra da sociedade avassaladora dos coronéis do sertão.
Assim, a mundologia dos mitos e lendas de Mucunã e suas personagens, na construção de sua arquitetura linguística, refletem as raízes, os costumes arraigados, consorciados, na justeza das descrições da natureza, através da introspecção do narrador e na fala dos personagens.
O mundo físico e o mundo humano, de Mucunã, recebem uma terapia criadora condizente com a paisagem geográfica retratada e sincronizada à paisagem humana do desenrolar das estórias.
No conto “A Tapera da Caveira”, o autor faz uma grave denúncia do genocídio dos índios Avá-canoeiros pelas bandeiras do governo da província de Goiás e pelos fazendeiros dos sertões de Amaro Leite, pintando com pinceladas de sangue as barbaridades que, infelizmente, também se repetiram aqui no Piauí e foram denunciadas por H. Dobal em seu monumental poema épico intitulado de “El Matador”. E já no conto “Assombração”, mostra a magia do realismo fantástico. E no conto “Os Boiadeiros”, nos lembra o saudoso mestre Fontes Ibiapina - uma das maiores expressões do folclore brasileiro em seu conto “Tangerinos” - e nos transporta, ao som do berrante, para os cerradões do norte de Goiás (hoje Tocantins), no marche-marche das boiadas, varando nos longes de rota batida para os sertões da Bahia. Conto belíssimo, onde aflora o linguajar sertanejo com toda a sua pujança e os ditos populares, como – “Ferrão bom de vaqueiro é mutuca, que tira o gado do mato”.
E neste diapasão altaneiro, Moura Lima vai contribuindo, através de sua riquíssima literatura, para a consolidação da identidade cultural do recém-criado Estado do Tocantins, e recebendo os aplausos da crítica especializada pelo Brasil afora.
Assim, realiza literatura superior e de primeiríssima categoria, que fica, porque é feita com argamassa de arte verdadeira. E segundo o consagrado escritor goiano José Mendonça Teles, e outros nomes da Literatura Brasileira, Moura Lima é hoje, sem favor algum, a não ser pelo seu esforço próprio, o escritor – referência do Estado do Tocantins.
(Publicado na revista cultural ‘‘De Repente’’, nº 20, Teresina - Piauí, maio de 2000)

* Adrião Neto - Dicionarista biográfico, historiógrafo, poeta e romancista. Membro da International Writers and Artists Association, da Associação Nacional de Escritores, da Ordem Internacional das Ciências, das Artes, das Letras e da Cultura e da União Brasileira de Escritores do Piauí.

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