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Ensaios-->Ainda Freud -- 24/07/2002 - 13:15 (Marissom Ricardo Roso) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Admito que o prazer, deve vir das profundezas do instinto animal, seja para servir à conservação da vida, seja à sua propagação. Temos aí, um dos mistérios primários da vida e também a razão por que a libido explica inúmeros fenômenos da nossa existência. Assim, não é de estranhar que possa ter servido de base à doutrina de Freud, principalmente havendo na libido um espantoso reservatório de energias, que servem a numerosas exigências e necessidades da vida. Para o que não deve haver lugar, entretanto, é querermos dividir essa energia em fragmentos, tornando-a partes de um todo, cada parte com sua função, como ocorre no corpo humano, que dispõe de braços e pernas, de fígado e coração, de dentes e unhas, todos com as suas funções bem definidas. Os conceitos do Id., do Ego e do Superego estão nessa mesma condição, tal divisão não passando de um arranjo superficial, certamente sem maior realidade biológica.

Admite-se que o id. serve às exigências mais primitivas da nossa natureza, vindas do caos instintivo, sendo associal e amoral, pois procura dar satisfação aos nossos desejos e necessidades. O ego opõe-se ao id., trava os impulsos deste, eleva-se do subconsciente, criando e normalizando a personalidade. O id. transporta a carga biológica da hereditariedade, encontrando-se nele todos os impulsos que podem existir a serviço dos desejos e do prazer. As interpretações em torno do id. são numerosas e parecem traduzir opiniões sobre uma realidade orgânica, concreta, definida, quase como as funções e os órgãos do nosso corpo. O eu é controlador, comanda o “princípio da realidade', permite ou não a realização dos impulsos do id., condiciona as adaptações sociais, regula os prazeres, vence as tensões, respeita normas e valores. Mas, nem sempre, o eu domina e vence o id., precisando por vezes contornar a situação, que pode terminar por uma fuga na neurose. O superego é a instância superior, trabalha no sentido do ideal, das exigências da consciência, daquela velha consciência admitida quase como de origem divina. O pobre do eu encontra-se assim entre duas forças, cada uma puxando-o em direção diferente, uma para cima, para elevação da personalidade, a outra para baixo, para sua inferiorização. Em tudo isso deve haver muita fantasia, embora esses conceitos tenham merecido aceitação por parte de grandes mestres, sábios nesse terreno de cogitações.

Na verdade, essas noções parecem construídas apriorísticamente, uma criação mais verbal ou intelectual, semelhante àquelas que deram lugar à alma e outros conceitos da introspecção. Não conseguimos fugir ainda daquele vício do raciocínio puro, abstrato, em geral de aspecto lógico e definido, devido ao seu próprio artificialismo, à racionalização de suas atividades.

Acho criações como o Id., o Ego, o Superego e diversas outras, tão cerebrinas quanto as da mitologia e da metafísica. Para que essas noções, que procuram definir e precisar situações, quando provavelmente estão elas fora da realidade, não correspondem senão a concepções teóricas criadas pelo nosso espírito? O complexo de Édipo e outros da Psicanálise não são diferentes e não devem passar de invenções da nossa razão. Querer que a função do sexo seja simplesmente oral no primeiro ano da vida, assim como anal no segundo e terceiro, passando a fálica no quarto e quinto, para entrar depois em estado de quase latência até anos mais tarde, é uma suposição tão pouco biológica que não se compreende possa ter sido aceita pelos freudianos ortodoxos. Que também, nos três primeiros anos da vida, já esteja a personalidade formada e definida é igualmente convicção ortodoxa, embora baseada em suposições por demais indemonstráveis.

O que é de toda evidência é que os instintos estão de tal maneira integrados na matéria viva, que devem servir às suas exigências e necessidades. Eles servem assim ao conjunto do organismo, segundo as determinações do ambiente e as da sua hereditariedade. Fundamental é que os dois instintos essenciais são o da conservação da vida e o da sua propagação. O da conservação da vida é dominante e perdura desde o início até o seu final. O da propagação da vida aparece muito mais tardiamente e também pode desaparecer por completo antes de ela terminar, comportando no seu desenvolvimento uma fase máxima de ação e execução. Nisto encontra-se uma das grandes incongruências de Freud, quando quis fazer do sexo um instinto que se inicia com a vida e tem significação desde que ela começa. Essa suposição, encontra-se em contradição com a marcha biológica da própria vida, que varia em seu desenvolvimento. Assim, o sexo não pode entrar em função, senão tardiamente, porque lhe faltam os órgãos necessários, ainda insuficientemente desenvolvidos. Não há, portanto, dúvida de que o sexo não é o instinto primário, pois que não se impõe desde o início da existência, como acontece com o instinto da sua conservação.

O que é deplorável na Psicanálise é que ortodoxos e dissidentes deixem de lado, com extrema facilidade, realidades da vida, no esforço de adaptarem à natureza as suas concepções. Adler, para ilustrar o complexo de inferioridade, admite que a criança tem de senti-lo diante do adulto, por ser menor e merecedora de proteção. Para que essa complicação? Por que admitir que o se humano vem ao mundo dotado de um complexo de inferioridade, que exigirá luta perpétua para ser vencido? Não é mais natural admitir que é um complexo de superioridade que domina, que conduz a vida, que representa uma exigência da própria vida?

O que é preciso ser considerado é que as noções mais profundas que existem na nossa mente não devem ser criação da nossa razão, mas sim dos nossos instintos. Os nossos conhecimentos vieram-nos pelos órgãos dos sentidos, único material que poderíamos trabalhar objetivamente. Os alicerces e os materiais foram fornecidos pelo ambiente, devendo permanecer a ele estritamente ligados, numa dependência direta e imediata. Quando nos aventuramos fora desse terreno, o fracasso é quase inevitável, pois a fantasia e a imaginação não são valores absolutos, independentes. Nem na vida, nem na arte, deve a inteligência pura ter autonomia, porque tudo nela existente encontra-se na dependência do que lhe é fornecido pelos órgãos dos sentidos, sobre os quais exerce o sentimento poderosa influência. O sentimento nada precisa ter em comum com a inteligência, embora, a domine e conduza, mesmo em seus imperativos mais profundos.

A visão, a audição, o paladar, o olfato e o tato, permitem excursões maravilhosas pelos domínios da natureza, que o homem até agora não tem sabido explorar senão de maneira por demais superficial e deficiente. No entanto, os olhos e os ouvidos aí estão para mostrar a grandeza e a profundidade dos panoramas que esses órgãos podem desvendar, embora sendo de muito menor penetração que o paladar e o olfato. São campos extraordinários abertos diante de nós, mas que não temos sabido explorar com a sabedoria que eles merecem.

Os nossos guias têm sido outros, em primeiro lugar a razão, que nos tem conduzido para territórios por demais falsos e ilusórios, produtos de pura criação humana, muitas vezes em desacordo com os imperativos do instinto, quando não da própria natureza e da vida.

Autor: Filósofo Daquimós
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