Usina de Letras
Usina de Letras
24 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62286 )

Cartas ( 21334)

Contos (13267)

Cordel (10451)

Cronicas (22540)

Discursos (3239)

Ensaios - (10389)

Erótico (13574)

Frases (50677)

Humor (20040)

Infantil (5458)

Infanto Juvenil (4781)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140818)

Redação (3310)

Roteiro de Filme ou Novela (1064)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1961)

Textos Religiosos/Sermões (6210)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
cronicas-->O Gourmet -- 18/06/2000 - 12:45 (José Renato Cação Cambraia) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Pouca gente sabe (na verdade só eu), mas esteve em nossa cidade no último fim de semana o grande gourmet siciliano Marco Porpetone, um dos maiores conhecedores da cozinha mundial. Marco faz parte da nova safra de gourmets, que não se limitam às tradicionais escolas culinárias européias. Podemos dizer que ele é um experimentalista, e não só pela invenção de novas misturas, mas também pela sua capacidade incomparável de experimentar seguidamente amostras nos supermercados (certa vez, em Paris, viveu 7 dias seguidos de amostras, percorrendo os maiores supermercados da mágica cidade das luzes). Por isso, Marco não sente peso nenhum na consciência ao misturar arroz com macarrão para apreciá-lo com um sangrento bife à cavalo. "Tutti cosa bono, Dio mio!", diria, rindo e chacoalhando sua imensa barriga. Ele veio até aqui para sua visita anual ao "melhor restaurante do mundo", a Cantina Tatu, em Assis. Como Marco não gosta muito daquela cidade, hospedou-se por aqui mesmo. Tive a honra de acompanhá-lo num roteiro gastronómico pela nossa cidade, onde degustamos o que produzimos em maior quantidade: cachorro quente.
Começamos pelo carrinho do Diomar, que era o que estava mais próximo. Pedimos 2 hot-dogs, mas quando pedi para o Diomar não colocar maionese no meu pão, Marco me repreendeu duramente, dizendo que "o gourmet deve questionar tudo, mesmo que isso acarrete a sua morte lenta". "Ok! Então manda brasa, Diomar!", disse eu. Para acompanhar, uma perfeita Coca-cola 290ml, bem gelada e de acidez satisfatoriamente agressiva. As observações de Marco, colhidas por um mini-gravador (e traduzidas por mim, que falo um italiano simplesmente espetacular) foram: "pão macio, tostado na medida certa, porém não assado de forma harmoniosa, apresentando diferentes cores da casca. A maionese, convencional, foi espalhada à francesa, ou seja, em camadas de 1,5mm, em média. A salsicha me lembra as noites do verão de Kiev, quando a cidade se enche de aldeões atrás das sementes frescas de cevada." Infelizmente, Diomar não estava nos seus dias mais inspirados, e o arranjo final mereceu apenas nota 5.4, pois a salsicha teimava em escapar do meio do pão.
O segundo estabelecimento visitado foi o da D. Jurema, um dos mais tradicionais da cidade. "Excelente pão, muito bem tostado sem gosto de queimado. Observei que a casca também foi levemente tostada, dando uma crocància que me lembrou minha infància, quando íamos passar as férias no litoral sul da França e comíamos feito loucos o bijoux vendido na praia. O trio santo, maionese, catchup e mostarda, foi espalhado com habilidade e maestria, formando um conjunto sólido e surpreendente. A salsicha, infelizemente, foi cozida alguns segundos a mais, e por isso a nota final é 7.0".
Antes de chegarmos ao terceiro carrinho da noite, Marco parou num bar, dizendo-me que precisava de uma sobremesa intermediária, e brindou-nos com esse comentário sobre o suspiro cor-de-rosa que engoliu rapidamente: "o suspiro, ah, o suspiro, um circo de açúcar e alegria. Um dos mais efêmeros doces, só perdendo para o algodão-doce, porém o mais feliz deles".
Tonhão, o proprietário do terceiro carrinho visitado por nós aquela noite, recebeu-nos com alegria, oferecendo-nos o melhor lugar da casa (as cadeiras de pvc com braço). Disse ainda que esta noite contava com o cardápio especial, que possuía batata palha e catupiry. Olhei para Marco, que balançou afirmativamente a cabeça, e pedimos dois completos. E duas Cocas. Comentários: "desde criança sonhava com o dia em que as batatas cortadas bem fininho sairiam do Strogonoff e cairiam no mundo, recheando sanduíches pelo planeta todo. Lembro-me de minha mãezinha, mandando seus empregados cortarem quilos e mais quilos de batatas em tirinhas, fritando em panelões imensos, somente para saciar a minha fome adolescente e caprichosa." Uma lágrima pingou dos olhos do Tonhão. Marco continuou: "belíssimo, belíssimo! Pão macio e leve, como as camas dos prostíbulos caros de Barcelona, salsichas cortadas simetricamente com precisão cirúrgica, doando-se a cada mordida. Tomates firmes, temperados com limão galego, cebola e cheiro-verde. O alface, não muito lavado, conserva seu gosto de horta, tão difícil nas verduras de hoje em dia. Belíssimo! Nota 9.0, somente não superando o hot dog que comi certa vez em New York, em 1973, durante a faculdade". Marco devorou sem piedade o sanduíche, e virou a coca-cola de uma só vez.
Perguntei então se ele estava pronto para o próximo carrinho, mas Marco me disse: "meu caro amigo, gostaria de não estragar esta valiosa lembrança com outro cachorro-quente que não conseguisse despertar as emoções que obtive agora há pouco". Compreendi seus sentimentos, então sugeri que fóssemos comer uma pizza na Dardanella.
Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui