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Ensaios-->MORIA: SER OU NÃO SER? -Ensaio em homenagem a obra: Hamlet- -- 18/08/2002 - 19:26 (Joanile Guimaraes Verdugo) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Escrita em 1601, quando Shakespeare vivia o chamado Terceiro Período marcado por suas melhores tragédias. Neste, Shakespeare demonstra um profundo conhecimento da natureza humana e Hamlet é um exemplo.

Embora sofra influência da Igreja que no século XVII exercia um grande poder se posicionando e combatendo o crescimento da ciência e da filosofia, esta é apenas um traço tênue, pois o que prepondera e marca é a crise existencial vivida por Hamlet.

Foi também no século XVII o fim do período Renascentista, assinalado pelo ressurgimento de idéias e valores da Antiguidade clássica e pela modificação da visão do mundo que prevalecera na Idade Média. Tal pensamento valoriza a condição humana, mas não repudia os preceitos cristãos.

È neste emaranhado de acontecimentos que a obra é concebida. Ao ler Hamlet tem-se a impressão de que não se passaram mais de quatrocentos anos de sua criação. São abordados temas atuais, questionamentos. È incrível como nada mudou, desculpe a audácia, mas nada mudou mesmo.

Destaco o Poder e a Inveja como “mola propulsora” de toda a obra. Este binômio (Poder/Inveja) me faz recordar uma história que por ser bíblica muitos acreditam com veemência na sua veracidade.

Não obstante todos conheçam, vou reaviva-la. È a historia de Caim e Abel. Caim mata seu irmão por que Deus teria ficado mais satisfeito com a oferenda feita por Abel. A inveja e a sensação de que seu irmão tinha mais poder causa a destruição sua e de sua família.

O estigma de Caim ainda ronda o mundo...

Não acredito que Shakespeare tenha se inspirado neste “acontecimento”, porém serve para percebemos que não é nenhuma novidade a corrupção pelo Poder utilizando nossa condição (humana).

È justamente esta condição que desenrola toda a trama contada de forma ímpar.

È revelado a Hamlet pelo espectro de seu pai que este havia sido assassinado por seu irmão Cláudio para tomar o trono e desposar sua então nora.

A descoberta faz Hamlet clamar por vingança, elaborar planos, tomar atitudes que não condiziam com sua forma de agir sempre, desencadeando sua “loucura”.

Escrevo loucura entre aspas propositadamente, pois Hamlet não era louco, pelo menos não essa loucura definida pelo “senso comum”. Aí esta o clímax da obra.

Disse que Hamlet não era louco. Então o que é loucura?

Descrita no dicionário como um desvio do bom senso, insensatez e avalizado o conceito pela grande maioria. Não é esta a loucura a qual me refiro e data máxima vênia, discordo dessa concepção mesmo correndo o risco de ser taxada de louca ( o que soaria como um elogio).

A “loucura” sofrida por Hamlet é o conhecimento da verdade, que já fez muitas vítimas. Poderia citar inúmeros exemplos, porém vou me limitar a Copérnico e Galileu Galilei, ambos tiveram como algoz a Igreja.

Pode não parecer, mas não tenho nada contra a Igreja, apenas estes foram condenados a morte porque afirmaram fatos que por ignorância ou medo de perder o poder a Igreja não admitia e dizia que eram loucos e influenciavam as pessoas com suas “fantasias” afastando-as de Deus.

Deve ser por isso que dizem por aí que a ignorância é felicidade. Concordo com Clarice Lispector quando diz que é bom ter loucura sem ser doida. Enquadro Hamlet bem aí.

Ninguém sabia do assassinato de seu pai e que os atos praticados por ele contra seu tio e até contra sua mãe era fruto de uma sandice.

O desconhecimento de fatos é capaz de causar inúmeros desentendimentos e porque não dizer, injustiças. Platão ao escrever a Alegoria da Caverna, que, com minhas palavras, ilustrarei; não teve a intenção de abordar a loucura, ou pelo menos só ela, contudo vem bem a “calhar”, mostrando como a ignorância de fatos é capaz de desestruturar:

Um grupo de pessoas habitavam o interior de uma caverna subterrânea. Estão de costas para a entrada da caverna e acorrentadas no pescoço e nos pés, apenas vendo a parede da caverna. Atrás delas ergue-se um muro alto e por trás desse muro passam figuras de formas humanas sustentando outras figuras que se elevam para além da borda do muro. Como há uma fogueira queimando atrás dessas figuras elas projetam sombras na parede da caverna. Logo, as pessoas apenas vêem o ‘teatro das sombras’. Assim, acham que as únicas coisas que existe fora dali são as sombras, já que vivem na caverna desde que nasceram.

Imaginem que um dos habitantes da caverna consiga fugir e veja que as figuras na parede da caverna não passam de imitação barata, veja como tudo é diferente, bonito, as cores, o sol , os animais. Agora, livre, não esquece as pessoas que continuam na caverna e decide voltar. Chegando lá, conta o que viu e que as sombras não passam de imitação da realidade. Os habitantes da caverna, não acreditam, dizem que ficou louco e acabam matando-o.

Enfim, todos somos loucos na medida em que nos dispomos a descobrir e enfrentar um novo “mundo” e, por favor, não se ofendam com isso. Pois para mim o verbete loucura deveria vir definido no dicionário como o conhecimento da verdade, mas o dicionário já traz esse conceito como o de sabedoria.

Assim só me resta dizer que Hamlet era um grande sábio e com os seus questionamentos e “devaneios” mostrou o que havia de podre no Reino da Dinamarca.


Esclarecimento: Moria-loucura, em Grego.



Joanile Guimarães Verdugo.
joverdugo@bol.com.br


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