Aqui estou eu de novo, preso a essa cama. Alguém aumentou a gravidade desse planeta ou é impressão minha? Em minhas costas, um peso assustadoramente fardoso me esmaga contra o colchão. Cada segundo se traduz em milímetros afundados nele. A cada tick do relógio, o reinvento da depressão, fadiga do espírito que me deixa tão cabisbaixo.
Funesta nuvem escura que me rouba a beleza do Mundo. Devia estar acostumado, tão freqüente são esses dias nebulosos. Não há de haver presença viva que me lace da profundidade de meu colchão hoje. Por mais queridas que sejam suas aparições, não conseguirão arrancar dessa boca palavras quaisquer, quiçá verdadeiros risos que me salvassem desse algoz.
Lá fora ouço as conversas, os gritos, às brigas. Essas com certeza mais dignas do que a minha situação. Daria tudo por uma briga ferrenha agora. Descarregaria todas as frustrações no rosto de um qualquer, rangendo dentes e estalado dedos em punhos fechados. Uma discussão que fosse, uma bem política, de ânimos exaltados e ideologias discrepantes, as quais me agarraria como pilares inabaláveis da minha vida. Utopia.
Que peste é essa que na sua enfermidade nos tira nossas referências, nossas certezas e nos mergulha na dúvida generalizada da vida, do que sabemos, nossas habilidades e sentimentos. Tudo é posto à prova, diminuído. Nesse momento, instante depressão, minuto depressão, mês depressão, ano depressão, vida depressão, não sabemos quem somos e, pior, por quê somos.
Que esse diário não honre então, sua designação e se reduza a poucos dias esparsos, até cessar em páginas queimadas ou amareladas de tempos remotos. |