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Ensaios-->A morte do poeta -- 03/09/2002 - 15:51 (Hamilton de Lima e Souza) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Os homens trouxeram de novo um filme poético sobre a vida do poeta. Me lembrei do outro poeta, sem fama, sentado na calçada com os pés sujos de lama, em busca talvez de uma garrafa de cana, sem vergonha, comedor de banana, caipira, natural de uma cidade mineira, ou quem sabe alagoana, uma cidade com nome feio, sem rima, talvez Morro de Baixo, talvez Morro de Cima. Uma cidade qualquer, sem importância, sem eira, nem beira, uma dessas que até o nome desatina.
O poeta morto na revolução, o outro quase de inanição, perdido em circunspectos pensamentos, solto como o ar, preso como o grito, em busca de amor, de fama, fugindo de um terror, querendo soprar ao mundo seu suspiro de medo, sua ânsia social e com um turbilhão de idéias exigindo um papel. Um papel qualquer, qualquer um que estivesse disposto a ser cúmplice de suas loucas idéias.
O poeta morto inspirado o poeta ainda vivo, sentado na calçada esperando talvez um grito para poder manifestar que podia respirar, comer banana ou qualquer coisa que um vivente lhe trouxesse. Cara de Jesus massacrado por romanos, traído por judeus revoltosos e por uma mulher que o deixara. Poeta da calçada imunda, com o pé cheio de lama. Sem livro, sem mulher e sem fama.
O filme foi um dia antes, na velha televisão. Imagem chuviscada. Logo depois foi despejado pela mulher. Ficou sem cana, sem banana e sem mulher. Só, sentado na calçada com os pés cheios de lama.
A lama secou, a boca secou, o poeta parou, com fome e sede, sede de amor, sede de fama, fome de fama e fome de amor. Leonor, maldita Leonor. Rima besta para o amor. Podia ser Luciana! Não, a febre e a fome traziam uma rima idiota. Mas lembrava que a cachaça já tinha evaporado. O poeta do filme foi fuzilado.
Contou os dedos. Achou nove. Esqueceu que um contava os outros. Pensou num poema sobre dedos, mulheres, revoluções e poetas. Só encontrou a lama diante dos olhos secos. A lama secou seus pés. A lama secou seu corpo.
Contou os dedos dos pés. Tinha dés dedos sujos de lama. Lama seca. O sol foi secando seu corpo. Secou seus lábios, sua vida, sua alma.
Morreu poeta, buscando a rima para a fama. Talvez tenha sido por isto que morreu na calçada, com o pé na lama.
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