UM POEMA SOBRE ALGUM POEMA
Vaguear sobre a hora,
introjetá-la.
Esperar
o bem e o não bem
e inadvertidamente,
sepultar seu instável
momento... imunizá-la.
Decifrar códigos anteriores
à dor de humano ser.
Desplanificar dores antigas
de indecodificáveis sentimentos
despindo disfarces mil,
sob maus pensamentos.
Recusar tabelas milenares
palimpsestos úteis
como olhos, que olham
mais de uma vez
e se recusam
a reter impreterivelmente
imagem na retina.
Vislumbrar dúbil porvir
disforme, embaralhado
à espera dalgum mágico
duende que lhe possa
encaixar peça por peça
naquele seu antepassado.
Equivocar um mero idiota
a se fingir de gênio,
poliglota,
poder desmascará-lo,
quando dobrar esquinas,
logradouros.
Interpelar eminente profeta
de fins de mundo,
mago anunciante,
sábio singular,
belo farsante, que incendeia
colchões, inocentando amantes.
Consultar horóscopo vadio
desses que tramam
chuva, temporais, estio,
praga de mãe, bala perdida,
desvario ou gana de
beber suco de frutas.
Apaziguar almas devolutas
terras íngremes,
suseranas prostitutas
ao se apossarem do poeta
sem mandado qualquer
de remota justiça.
Analisar infensa agonia
de pesadelo diuturno,
apostasia
com a mão sobre
o livro do destino,
jurar cinicamente anomia.
Detalhar detidamente ítens
da lista implacável,
essencial,
de nomes de notáveis
assessores em seu governo
proto-colonial.
Entronizar seu pontífice
incrédulo, cético, cínico,
dançando o caos
no ventre das manhãs,
tal que acorde embriagado
entre luzidias pernas de cunhãs.
WALTER DA SILVA
Aldeia Camaragibe Pernambuco
15 de janeiro de 2003.
inserido em “OS RITOS DA AURORA” ®
|
