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Ensaios-->Contrera na Mesa Redonda – Comentário I -- 04/10/2002 - 10:58 (U.S.I.N.A.) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Por Rodrigo Contrera (apud Ayra Bruno Kilandra Klaus)

Tudo apenas questão de entrosamento, repetia a si mesmo o Contrera, que sem entender muita coisa do conto maldito XIII, e mais uma vez tentando emplacar o observador implacável nas tramas do Usina, conforme aliás os colegas acima citados, fazia da oportunidade experimento. Quem sabe fosse possível capturar algo de tantas esferas de valor.

Como de praxe, metia-se a rememorar. Participava do Usina há mais de um ano. Conhecia, pessoalmente falando, nenhum dos colegas citados aqui e acolá. Mal conseguia imaginar como seriam todos, melhor seria nem tentá-lo. Ainda repercutiam nele aqueles encontros, há muito passados, em que, em meio à onda dos chats, conhecera muita gente solitária (ou não) que tentava, quando muito, por vezes ser solidária. Fizeram-me até aniversário, lembrou. Simpáticos.

Entendia que o quadro de detritos hoje não lhe parecia tão fedorento assim. Era preciso compreender (il faut) que espaços abertos em geral funcionam, na web ou em qualquer outro lugar, como receptáculos de confissões, decepções e gritos sem direção definida. Como esperar outra coisa, aliás; era de surpreender que o nível não caísse ainda mais, se bem que o fundo do tacho já estava visível a todos.

Tentava compreender o porquê de iniciativas como a mesa redonda. Amigos bolando histórias conjuntas para tentar espantar o tédio reinante. Colegas imaginando tramas fantásticas fazendo de identidades desconexas captadas no usina gente de carne e osso e nervos. Egos desesperados, achincalhados por expectativas tão elevadas quanto incompetentes as escolas e incongruentes as empresas, em busca de sentidos compartilhados. Formas anódinas de desconhecidos compartilharem mesas fictícias de bar.

Entendia e suspirava. Não se encaixava em quaisquer desses perfis. A que ponto leva a desilusão, refletia, a que ponto pode levar o hábito de viver o mundo como se estivéssemos na escotilha de um transatlântico prestes a afundar. Pois era assim como se via, e era nisso que mais se identificava com o há anos falecido sir Isaiah Berlin. Fora assim pelo menos que o biógrafo Ignatieff o vira, pouco antes de despedir-se dele pela última vez e de assim encerrar a biografia que por vezes o Contrera consulta.

Era necessário beber da tragédia russa, tal qual Berlin bebera na infância. Era necessário compartilhar o destino de viver a história apenas como objeto, tal qual o Cioran de pais extraditados na infância e de reflexões extremistas que pudessem lhe dar ao menos um norte de vida (quando só queria mesmo morrer em Paris). Era necessário (il faut) render-se a encarar a vida de longe, como se ela tivesse se ido, como se ela não mais fosse. Pois não eram poucos os estranhos conhecidos por Contrera que já compartilhavam com Deus o reino do ignaro.

Mas eis que ao longe alguns dos recentes colegas lhe pediam relatos à la Contrera, longínquamente afastados mas que - quiçá - conseguissem captar algo que pudesse uni-los. O que seria isso, ele mal adivinhava, a ação comunicativa do Habermas é que não o seria.

Os estertores da asma começavam enfim a abandoná-lo mas o cansaço agora o dominava. Precisaria concluir o episódio, que nada de episódio tinha enfim. Nada acontecera afinal. Os colegas quem sabe estivessem curtindo alguma farra de sábado, os outros talvez estivessem dormindo - como sua esposa, cansada, há horas. Enquanto isso, ele escrevia por fim mais este ponto final.

© Rodrigo Contrera, 2002.

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