Eu aposto meu mindinho que não há um ser humano sequer que em algum momento não tenha sonhado ou mesmo necessitado de uma máquina do tempo para fazê-lo voltar ao passado ou visitar o futuro. Dirão os mais afoitos, já com o alicate na mão, que o recém nascido é um ser humano e não póde ter essa idéia, pois não consegue sequer enxergar alguma coisa. Mas eu garanto que, se pudéssemos traduzir o choro do rebento, ele não diz outra coisa senão "quero voltar, quero voltar!" Meu mindinho fica.
Portanto, já nascemos com um desejo embutido de viajarmos no tempo, seja pela simples vontade de assistir ao Globinho de novo ou comer os cigarrinhos da pan na caixinha flip top (e não naquela vermelhinha que só vem dez), seja por alguma estupidez que fizemos durante a nossa fase mais patética (a adolescência, claro). Mas é a ida ao futuro que pesa mais nesta fase:
O júnior, quando vai na banca, fica só olhando as capas das revistas de mulher pelada. Não vê a hora de ficar maior e poder comprá-las sempre que quiser.
- Ah, se eu já tivesse dezoito! - suspira.
Já o Arnaldo, que tem quarenta, vai à banca e fica só olhando as capas das revistas de mulher pelada. E suspira:
- Ah, meu tempo de solteiro!
No trabalho, muitas coisas desagradáveis deixariam de acontecer se tivéssemos uma máquina do tempo, como por exemplo, sermos demitidos por dizer algumas verdades ao chefe:
- Sr. Humberto, onde estão os relatórios que lhe pedi semana passada, antes da minha viagem?
Humberto, com dor de cabeça da ressaca, nem sabe do que o chefe está falando, pois passou a última semana na farra.
- Eu não fiz, senhor Gomes. E deixe-me acrescentar que o senhor é um imbecil, bunda-mole, almofadinha e cheira a cosméticos. A dona Gertrudes, sua esposa, é uma vadia e sai com o Almeida, do RH. Ah, e todo mundo sabe que o Sr. faz serão para ficar cheirando a capa de chuva do motoboy!
Humberto aciona então sua máquina do tempo de pulso e volta três dias atrás, faz o relatório e então chega o Sr. Gomes:
- Sr. Humberto, onde estão os relatórios que lhe pedi semana passada, antes da minha viagem?
Estão bem aqui, Sr. Gomes. Como foi de viagem, Sr. Gomes? E a dona Gertrudes, como vai?...
As aplicações da viagem temporal não param por aí. Quando você é chamado para participar de algum programa e, mesmo pressentindo algo não muito bom, insiste em prosseguir, não há nada mais desejável do que uma das maquininhas:
- E aí, Boca, tá pronto? Vam´bora, cara!
- Ah, Chico, não sei se vou não. Quatá é muito longe! Será que a mobylete aguenta mesmo?
- Claro que guenta! Vamo, cara a Soninha tá lá com as amigas, esperando uns amassos!
- Tá bom, vamos!
Chegando em Quatá, depois de 50 minutos, Boca e Chico se deparam com uns caras esperando na linha do trem.
- Olha lá, Chico, o cara tem um taco de baseball maneiro...
- Cala boca e corre, Boca, que o motor fundiu!!
Uma outra aplicação importante da máquina do tempo é a ida ao futuro para fins lucrativos ou económicos. Por exemplo, se eu tivesse uma máquina do tempo de pulso agora, eu iria até terça feira que vem para ver se o Corinthians ganhará ou não do Palmeiras de novo, pela Libertadores. Se sim, aí então eu compraria muitos rojões. Se não, seria melhor eu dar uma sumida...
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