Usina de Letras
Usina de Letras
148 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62220 )

Cartas ( 21334)

Contos (13263)

Cordel (10450)

Cronicas (22535)

Discursos (3238)

Ensaios - (10363)

Erótico (13569)

Frases (50618)

Humor (20031)

Infantil (5431)

Infanto Juvenil (4767)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140802)

Redação (3305)

Roteiro de Filme ou Novela (1064)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1960)

Textos Religiosos/Sermões (6189)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Ensaios-->A LINGUAGEM PRECEDE O UNIVERSO ESCOLAR -- 18/10/2002 - 02:19 (Theresa Milana Pantaleão) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

“Crescerão sem ter nenhuma mestra que lhes ensine o que fazer
(...) Repetição sem fim. Cada geração reproduz a outra.
Graças à repetição e à reprodução a vida é possível... os
homens inventassem maneiras de serem humanos por meio
da imaginação e de convenções (...) essas invenções não se
transformam nunca em programação biológica. Por isso
as receitas de como ser humano tem que ser ensinadas,
apreendidas, preservadas. E isso se faz por meio da
linguagem (Rubem Alves)



A linguagem é o primeiro contato do ser humano com o mundo. Desde o nascimento, a criança é rodeada por um mundo de idéias, no princípio representado por sons, gestos, imagens com as quais a criança vai se inteirando, reconhecendo, assimilando as impressões do mundo que a circunda.
Desde que nascem são construtoras do conhecimento
EMÍLIA FERREIRO,
De Emílio a Emília – A trajetória da Alfabetização, p188,2000.

A criança, a medida que se inteira do mundo, vai interagindo com a realidade. As apreensões se dão através de seu meio, seu contexto.
Quando as crianças vivem em um ambiente urbano, encontram escritas por toda parte
EMÍLIA FERREIRO,
De Emílio a Emília – ibidem, p192,2000.

Analisando as falas de Emília Ferreiro, citadas anteriormente, percebo que a linguagem, meio pelo qual a realidade é apreendida desde o nascimento, faz parte do universo da criança, portanto, antes do Universo Escolar, o educando convive com o Mundo Letrado, sendo assim, não podemos ignorar o contexto da criança.
Também não podemos ser medíocres a ponto de acreditarmos que a criança só recebe, internaliza essa linguagem. A criança também se expressa, produz e se comunica;
... a criança é também um produtor de textos desde a tenra idade
EMÍLIA FERREIRO,
De Emílio a Emília – ibidem, p188,2000.

O que desejo com está fala é ponderar que não podemos considerar a criança como mero receptor de informações, idéias, textos, imagens. A criança interage na dinâmica contextual, sendo que reduzi-la a aprendiz do alfabeto, para a sua inserção social não satisfaz É pouco. Devemos proporcionar a criança, que possa se apoderar desse instrumento e não que seja dominado por ele.
Quando ignoramos a bagagem da criança ao ingressar na escola, interrompemos, quebramos um processo já em curso: a comunicação; a criação; a imaginação; a criatividade; o questionamento; o encantamento, a interação e intervenção com o mundo. Despojamos a criança de suas construções, para nosso ponto uníssono de partida, darmos inicio a formação de alfabetizados, possibilitarmos a técnica da decifração
da leitura e da escrita para poder codificar textos breves e escrever algumas palavras, sem significação com o real ...
EMÍLIA FERREIRO,
De Emílio a Emília – ibidem, p163,2000.

Por muito tempo, nosso modelo de educação, ignorou a criança enquanto seu universo vivido, atendendo a estruturação ideológica de nossa sociedade, com a escola, exercendo papel de reprodutora.

Temos uma imagem empobrecida da criança que aprende: a reduzimos a um par de olhos, um par de ouvidos, uma mão que pega um instrumento para marcar e um aparelho fonador que emite sons.
EMÍLIA FERREIRO,
De Emílio a Emília – ibidem, p193,2000.

Esquecemos que a criança é dotada de inteligência, sentimentos, idéias, é viva cheia de impressões. Vivemos na tal sociedade do conhecimento, onde já percebemos a dimensão histórica social da criança. Devemos também em nossa pratica agregarmos esse valor, onde se respeita e resgata a identidade da criança enquanto sujeito social. RUSSEAU já concebia essa dimensão.
Viver é um oficio que quero lhe ensinar. Saindo de minhas mãos, ele não será, concordo, nem magistrado, nem soldado, nem padre, será primeiramente um homem.
(Emílio ou da Educação)

RUBEM ALVES contribui nessa perspectiva afirmando que:
Educação é um processo pelo qual aprendemos uma forma de humanidade.

Esse processo
é mediado pela linguagem.
Sendo assim a educação passa a ser ação da construção de um ideal de homem, atendendo aos valores e ao contexto. A linguagem é um instrumento de exercício desta ação educativa. Linguagem um veículo ideológico.
De que maneira iremos usa-la? Ignoraremos o ser em caminhada? O que torná-lo-emos? RUBEM ALVES nos responde
Eu me pergunto se não vai cair sobre nossas cabeças a quase maldição de Weber:
Especialista sem espírito,
Sensualista sem coração.
Esta nulidade imaginária
Haverá atingido um nível de civilização
Nunca dantes alcançado.
(p 84,2000)

Entende-se por linguagem,

qualquer meio sistemático de comunicar idéias ou sentimentos através de signos, convencionais, sonoros, gráficos, gestuais
(Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa.
P1763-4, 2001.)

A linguagem, em nossa sociedade, é transmitida por diversos veículos: a arte, a cultura, a educação. A sociedade e suas impressões vão assim sendo, perpetuadas, criadas, transmitidas, se expressando na pintura, música, fala, imagens, textos e livros.
PAULO FREIRE, em seu livro “A importância do ato de ler”, esclarece essa interação, reconhecendo que a leitura do mundo precede a leitura da palavra... Linguagem e realidade se prendem dinamicamente. A compreensão do texto a ser alcançada por sua leitura critica implica a percepção das relações entre o texto e o contexto ... Primeiro, a “leitura” do mundo, do pequeno mundo que me rodeia; depois, a leitura da palavra que nem sempre, ao longo de minha escolarização, foi a leitura da “palavramundo”. (1986, p 11-3).
Assim retomo, com Paulo Freire. Cada criança é rodeada por seu mundo, por sua interação, por uma leitura da linguagem. Antes do universo escolar o educando já interage com a linguagem, indo do imaginário ao real, do real ao imaginário, ao encontro da permanente constrição do seu mundo de idéias.
Em se falando de Educação, de linguagem, Educadores, devemos refletir como nos apropriamos, no ambiente escolar, em nossa pratica, para a real aplicação da linguagem, rompendo a finalidade em si mesma de Educação para a alfabetização, rompendo o conceito restrito de linguagem ao texto escrito. Faz-se necessário possibilitar a apropriação da linguagem na perspectiva de construção de uma legitimidade lingüística.
Temo que estejamos formando milhares de bonecos que movem a boca e falam com a voz de ventríloquos. Especialistas em dizer o que os outros disseram, incapazes de dizer a sua própria palavra.
RUBEM ALVES, 2000. P 89

JURACY ASSAMANN SARAIVA (2001,p 23) reconhece o espaço escolar como responsável de iniciar a criança no processo de alfabetização (...) aperfeiçoar sua leitura(...) garantir-lhe o domínio de uma prática cuja finalidade não se esgota em si mesma (...) que a leitura deixe de ser atividade ocasional para se integra-se á vida do sujeito (...) cabe a escola mais que alfabetizar (...) dela se espera a formação do leitor.
Formar um leitor? Qual a concepção de leitor? Podemos agregar essa afirmativa: dela se espera a formação de leitor. Se dermos a palavra : Leitor – uma amplitude real, onde leitor é aquele que pode perceber-se, contextualizar-se, relacionar-se, inteirar-se do mundo, compreendendo a realidade. Leitor deve referir-se ao sujeito histórico social, capaz de compreender e intervir na construção do mundo. Leitura não pode ser restrita a decifração de códigos combinatórios de uma determinada língua, sua dimensão vai além.
O processo de alfabetização, se desmistificado, pode garantir ao educando o domínio do uso da língua, e nessa interação compreender o mundo vivido e imaginado, permitindo, enquanto sujeito histórico, a correlação do mundo vivido e criado. O leitor pré-existe à descoberta do significado das palavras escritas (MARIA HELENA MARTINS ). A literatura infantil, pode, auxiliar nesse conexão entre o real e o já conhecido pela criança.
Despeja-se na escola uma responsabilidade de fracasso frente a leitura, este é um olhar ingênuo. Dar a escola essa conotação de derrota é muito fácil quando não se contextualiza nossa realidade quanto a funcionalidade ideológica ...
Nossa Educação é regida pelos livros portanto considero importante compreender a questão do livro.
Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui