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Artigos-->Contação de histórias num abrigo de senhoras (12) -- 22/08/2011 - 13:36 (Alzira Chagas Carpigiani) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


 



Relatório do dia 19 de agosto de 2011– Abrigo Novo Pentecostes (de 10 às 11h)



Senhoras:



Célia



Pérola



Dolores



Valdete



Zezé



Joana



Maria Silvestre



Ascensão



Ermerinda



Hermínia



Helena (essa senhora é voluntária do abrigo)



Enfermeira: Vanda



Histórias: O Papagaio Real; A Rainha e as Irmãs; As Três Linguagens; Couro de Piolho e Os Dois Homens.



Aquecimento: Cd’s do Trio Esperança. Músicas: Bolinha de Sabão; Filme Triste; A Festa do Bolinha; Gasparzinho e O Passo do Elefantinho.



Começamos bem: com música. O ritmo e a afinação do Trio Esperança preencheram o espaço de alegria e isso fez com que o dia frio não interferisse tanto no nosso ânimo.



Sem dúvida, todas essas músicas são encantadoras. No entanto, Filme Triste tem um quê especial para alavancar sentimentos há muito adormecidos. Não fosse assim, dona Célia que sempre passa ao largo das nossas reuniões semanais, não teria surgido do nada e se aconchegado a uma das poltronas e ali permanecido até o instante final de nossa apresentação. Vitória!



Eu ainda não conhecia dona Helena, que é voluntária do Abrigo já há alguns anos e moradora da região há sessenta anos. Ela chegou à sala onde ouvíamos música e se aproximou para conversar comigo. Ah, aquela música (Filme Triste) tinha provocado nela uma recordação muito forte do passado. Uma história de amor &
9472; dela e de seu primeiro marido. Empolgada, ela contou-a em plena sala &
9472; para todas nós. Foi um momento muito bom.



O Papagaio Real, versão retirada do livro Lendas e Fábulas do Brasil (Coleção Clássicos da Infância), da Editora Cultrix (1963). É quase impossível ler essa história sem associá-la a de Eros e Psiquê. A moça se expõe a todo tipo de desafios e perigos para reencontrar o amado no reino de Acelóis. A aceitação das ouvintes foi mediana. Creio que preciso acrescentar algumas melodias para dar um colorido diferente para essa história. Ela é ótima e pode ser ainda mais enriquecida.  



A Rainha e as Irmãs (versão retirada do mesmo livro mencionado acima) &
9472;Essa história fala de três crianças que nasceram com estrelas de ouro na testa, fala também de um sentimento, que costuma destruir relacionamentos e provocar dor e tristeza nas pessoas envolvidas: a inveja. Como nos livrarmos desse sentimento tão característico do ser humano? Alguém sabe? No final dessa narrativa, como invariavelmente acontece, prevalecem o perdão &
9472; da rainha ao rei &
9472; e a punição &
9472; das culpadas &
9472;, aqui no caso, das duas irmãs (invejosas) da rainha.



As Três Linguagens &
9472; como eu procurei essa história! Não conseguia encontrar uma versão adequada em português, então recorri ao Google e encontrei uma versão em inglês, que traduzi. A primeira vez que li algo sobre essa história, foi no livro do Bruno Bettelheim, A Psicanálise dos Contos de Fadas, muito coerente aliás, porque essa história é realmente um prato cheio para a psicanálise. Trata-se de um pai que julga seu filho incapaz de aprender seja lá o que for. Ou seja, para esse pai o filho não passava de um completo idiota. Então, o rapaz é mandado a um mestre famoso, que deveria instruí-lo pelo prazo de um ano. Quando ele retorna diz ao pai ansioso que aprendeu a falar a língua dos cães. Rachaçado pela inutilidade de seu aprendizado segundo o pai, este o envia a outro mestre por mais um ano. De lá, ele retorna habilitado para falar a língua dos pássaros. Óbvio que seu pai quase enfarta e o envia, pela última vez, para outro mestre por mais um ano. A habilitação agora se dá na linguagem das rãs, o rapaz entende tudo o que elas dizem. Para o pai, no entanto, isso de nada serve e ele declara perante o povo que aquele moço que ali está não é mais seu filho, dando ainda mais vazão à sua fúria, ordena que seus criados levem o jovem até a floresta e lá o matem. O rapaz escapa dessa sina cruel, chega até uma cidade dominada por cães selvagens e livra essa cidade de sua desgraça &
9472; afinal ele sabe falar a língua dos cães! Retoma o seu caminho e chega a um pântano, onde ouve as rãs predizerem sobre o seu futuro, fica pensativo e segue em direção a Roma. Lá chegando, toma conhecimento da morte do Papa e confirmando a previsão das rãs, ele &
9472; com a ajuda de duas pombas &
9472; se torna o novo Papa. Final magnífico!



Mais uma vez, ouvi das senhoras: “Ah, se na vida fosse assim também!” Às vezes, se prestarmos bem a atenção, até pode ser...



Couro de Piolho &
9472; é déjà vu. Já contei e recontei algumas vezes. Por quê? Bem, principalmente, porque ela é bastante divertida. Está lá nos Contos Tradicionais do Brasil, do Câmara Cascudo, Ediouro (1999).



Os Dois Homens&
9472; essa história mora comigo, mas de onde ela veio tem se tornado uma incógnita para mim. Com certeza, eu a li ou a ouvi em algum lugar, mas não consigo lembrar onde.



Um índio velho fez uma compra na cidade, na venda do homem branco, depois volta para sua oca e vai guardar o que comprou. No fundo de um dos sacos, encontra uma nota de dinheiro e resolve ficar com ela, afinal o que é achado não é roubado, certo? Durante o dia, corre tudo bem, mas à noite, quando ele vai dormir, dois homens começam um diálogo interminável dentro dele. Um diz para ele ficar com o dinheiro, uma porque foi ele quem achou, outra porque o homem nunca vai saber disso. Já o outro homem diz que ele deve devolver o dinheiro, porque esse não lhe pertence. E ficam nisso até o dia amanhecer. Então, o índio volta lá na venda do homem branco e devolve o dinheiro. O homem branco acha aquela atitude estranha e pergunta por que ele não ficou com o dinheiro, uma vez que a nota não tinha nem nome nem endereço. O índio conta a história do falatório que os dois homens fizeram dentro dele e que não o deixou dormir. Concluindo: ele resolveu devolver o dinheiro, porque só assim os dois homens calariam a boca e o deixariam dormir muito bem na noite seguinte. Eis aí uma história exemplar.



“Era uma vez um homem que criava patos, muitos patos. Todos os dias, ele levava os patos para o outro lado do rio, mas para chegar lá eles precisavam atravessar uma pinguela*. Então, os patos faziam fila e atravessavam por cima da pinguela, um de cada vez. Pato por pato...” (*pinguela é uma ponte improvisada)



Minha mãe contava essa história para encerrar a contação de cada noite, havia outra também, a do gigante, que eu contarei da próxima vez. Quando ela começava “era uma vez um homem que criava patos,...” nossos bicos desciam até o chão, porque sabíamos que ali era o ponto final. E se insistíamos querendo mais histórias, ela calmamente nos dizia: “Eu não posso fazer nada, o homem tem muitos patos e eles ainda estão atravessando a pinguela, pato por pato, pato por pato...” e assim ela nos enrolava até adormecermos. Que tática boa, hein? Ela nos vencia pelo cansaço.



Beijos e até!


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