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Contos-->A Mansão -- 08/11/2002 - 22:19 (Warny Augusto da Silva Marçano) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Entrou naquela obscura e sombria mansão. Não sabia o que estava lhe esperando , nunca tinha ouvido falar daquele endereço antes. Mas sua condição social não permitia recusar tão generoso e compensador convite. A carta , que ostentava na mão como uma prova de único reconhecimento em sua desprezível profissão , ainda mostrava traços de desgaste por ter sido lida e relida durante algum tempo , sinal de que o destinatário não estava acreditando no conteúdo da mesma. Mas o que estava escrito qualquer criança poderia entender , talvez até melhor que muitos adultos.
Esperou certo tempo até que uma velha criada veio lhe abrir o majestoso portão. Olhou pela primeira vez para aquele magnífico jardim , oculto pelo mais alto muro que já tinha visto e que circundava todo o casarão. Diversas plantas e flores dos mais variados tipos enfeitavam , ou apenas serviam para dar uma réstia de vida àquele ambiente gótico. Percebeu que seja quem fosse o seu anfitrião , era um homem que gostava de cuidar do que era seu. Apreciava essa característica nas pessoas , apesar de não ser um profundo estudioso dos seres humanos vivos.
A empregada abriu a porta , que deveria ter no mínimo uns cinqüenta anos e era ornamentada por traços renascentistas. O salão revelou-se o mais suntuoso que ele já tinha entrado. Estando agora do lado de dentro da casa , sentia-se estranhamente protegido , como se nada pudesse atingi-lo. O ambiente , podendo ser considerado sinistro por muitos , serviu-lhe para revigorar a alma. A criada , tirando-o de seu pensamento hipnótico , disse para ele esperar alguns minutos que o Sr.Medeiros iria recebê-lo. Sentou-se então no sofá e pôs-se a examinar aquela sala de estar. O tapete provavelmente era persa , revelando que o homem que viria era milionário. Quadros surrealistas e impressionistas se espalhavam pelas paredes , que a certa altura revelava uma moldura cujo retrato era de um homem de seus cinquënta e poucos anos , com ar imponente e autoritário. Ele pensou que poderia tratar-se de seu anfitrião , mas julgou que com a idade que o quadro aparentava ter , não poderia ser o Sr.Medeiros. Móveis dos mais antigos e mais caros apresentavam-se pelo salão.
Estava imerso em pensamentos quando percebeu a entrada do imponente homem , que veio em sua direção com um cumprimento. Era calvo , com sobrancelhas grossas e olheiras de uma forma que pensava-se que aquele homem não tinha uma noite de sono há tempos. Seu olhar era triste e parecia estar preocupado com algo.
_ Estávamos precisando do senhor _ começou Sr.Medeiros _ por favor , queira me acompanhar.
_ O senhor não poderia adiantar o assunto? _ perguntou , pela primeira vez sentindo algum sobressalto pela aparência dominadora do homem a sua frente.
_ Receio que não , Dr.Vieira _ respondeu o outro.
Os dois homens , a medida que avançavam pelo longo corredor da mansão , tinham aspectos diferentes um do outro. Enquanto o dono da casa tinha uma expressão calma e singela mas ao mesmo tempo autoritária , o visitante apresentava sinais de ansiedade e curiosidade pelo que poderia acontecer.
Estava pensando naquele momento na estranha carta que recebera do Sr.Medeiros , um homem que conhecera momentos atrás. Ele pensara em esquecer tudo e recusar o generoso convite , mas a ambição foi maior e ele nunca fora um homem rico. Por isso mesmo tinha descartado qualquer possibilidade de rapto ou assalto. Sabia que ultimamente alguns de seus colegas de profissão tinham desaparecido misteriosamente , mas é claro que isso só podia ser conseqüencia da violência das grandes cidades.
Os dois entraram em um aposento que Dr.Vieira identificou como sendo a biblioteca. Grandes estantes com inúmeros livros ocupavam a maior parte das paredes , uma escrivaninha e um pequeno armário eram os outros móveis do local. Em um dos cantos existia um televisor , talvez o único aparelho moderno daquela mansão. Existiam várias cortinas ao redor do cômodo , talvez escondendo as janelas da biblioteca.
_ Por que o senhor precisa de mim tão urgentemente , Sr.Medeiros? _
_ É muito simples _ retrucou o estranho homem _ eu preciso de um sacrifício.
_ Alguém da sua família?
_ Não tenho família , minha esposa e meu filho morreram há três meses. Por favor , sente-se e aguarde enquanto eu vou dar algumas instruções a minha criada.
Dr.Vieira concordou e sentou-se numa cadeira perto da escrivaninha. Seu anfitrião fechou a porta ao sair , trancando com chave. Ficando sozinho naquele lugar estranho , pôs-se a andar e examinar todos os cantos , percebendo que na televisão estava passando um vídeo de uma família em suas férias. Era um casal e o filho deles , que deveria ter uns dez anos de idade. Pareciam felizes , mas o que era intrigante era o fato dele ter a impressão de que já tinha visto aquela família antes. Com um pouco mais de atenção , percebeu que o homem do vídeo era o Sr.Medeiros mais jovem. De repente teve um pressentimento e foi até a porta. Estava trancada como imaginara. Percebeu então que existia uma saliência nas cortinas de modo como se algo estivesse escondido por detrás delas. Tentou desviar o olhar e não pensar no que poderia ser , mas sua curiosidade o dominava. Enquanto dava os primeiros passos em direção a uma das janelas , sentiu um estranho cheiro que parecia entrar de alguma forma no aposento. Foi se aproximando e alcançou a ponta de uma das cortinas. Com apenas um movimento brusco , retirou-a do lugar e viu a mórbida cena , que congelou sua alma. No parapeito da janela , viu uma cabeça decepada de um homem , presa com a ajuda de um fio enrolado. O susto foi tão grande que caiu ao chão. Em um impulso , dirigiu-se à outra cortina e desvirou-a. Contemplou assim mais uma cabeça , adornando o lugar como se fosse um troféu. Percebeu então que era um dos colegas desaparecidos , e chegando a essa conclusão , voltou à primeira janela e confirmou que a outra cabeça pertencia a um outro colega seu desaparecido. Enquanto tentava estabelecer um sentido para tudo o que estava observando , sentiu mais uma vez o ar pesado , como se o oxigênio estivesse deteriorando. A cena era de um terror indescritível , no qual Dr.Vieira mantia a muito custo uma calma sobrenatural. Olhava ora para as cabeças decepadas ora para o vídeo da família do Sr.Medeiros. Começou a se sentir mal , notando que uma leve fumaça estava adentrando por uma fresta na parte superior de uma das estantes. Sabia perfeitamente o que significava tudo aquilo , agora estava entendendo tudo. Ele era o último que faltava , os outros dois já tinham sido condenados. Lembrou-se quando os três aceitaram ter o seu salário dobrado no hospital em que trabalhavam para adiantar a morte de algumas pessoas que chegavam para serem operadas. Antes eram apenas as que estavam em estado terminal mas ultimamente estavam matando pessoas que tinham uma grande chance de sobreviverem. Tudo pelo dinheiro que recebiam. O desaparecimento de seus dois colegas não foi problema para quem os contratou , afinal existiam muitos médicos dispostos a fazerem o mesmo serviço. Mas não podia ser algo grandioso para não chamar atenção das autoridades. Mas há dois meses sua situação não estava nada boa pois seus empregadores acabaram o que tinham combinado. Por isso aceitara o convite para vir àquela mansão com a esperança de conseguir um emprego nos mesmos moldes daquele que tão bem sabia fazer. Mas não esperava que alguém pudesse ter descoberto o trabalho secreto deles. Percebeu então que existia uma câmera entre as duas estantes. Mas não conseguiu mais ver nada , seu corpo não agüentava ficar em pé , e em pouco tempo já estava morto.
Alguns minutos depois o Sr.Medeiros entra na sala e resolutamente decepa a cabeça de Dr.Vieira e coloca em um saco junto com as outras cabeças. Pouco tempo depois enterrava suas três vítimas murmurando apenas poucas palavras como se fosse uma justificação para o que tinha acabado de fazer.
_ Aqui estão os assassinos de minha família.
Ficou contemplando o local como se tivesse conquistado uma grande vitória e depois retornou para sua mansão , com um sorriso enigmático em seu rosto.
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