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Ensaios-->Duas considerações sobre Nietzsche -- 30/11/2002 - 16:45 (Marcos Alan Fagner dos Santos Ferreira) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Nietzsche nos coloca em uma posição recompensadora – afinal, o ato de filosofar sobre as idéias de Nietzsche é prazeroso, inquietante e finalmente recompensador – de crítica a ele e ao mundo automaticamente. Em suas obras ele nos remete a uma análise de idas e voltas sobre nosso valores gerados desde tempos imemoriais. Analisemos aqui algumas idéias de Nietzsche em duas considerações sobre o livro Humano, Demasiado Humano.

* * *
Primeira Consideração: Sobre o nível elevado de educação e a religião
Podemos pensar, conforme colocado por Nietzsche, que a elevação da educação é atingida a partir do momento em que o “homem vai além de conceitos e temores supersticiosos e religiosos, deixando de acreditar em amáveis anjinhos e no pecado original(...)”(p.30). No entanto, ao imaginarmos tal consideração, o que nos vem a mente é: como superar estes conceitos e temores supersticiosos e religiosos se estes estão arraigados historicamente no seio dos habitantes do planeta?
Para alguns filósofos e pensadores, a superação da religião libertaria o ser humano das cordas da ignorância que o fazem ficar cegos perante a realidade. Porém, negar a religião como um fato presente na história da humanidade pode ser visto também como uma análise cega da realidade, haja vista que para uma grande maioria da população mundial a religião e superstições várias são realidades presentes no seu universo concreto de vida. Por exemplo, convencer um muçulmano, budista, cristão, ou o que seja, que Deus não existe é tão estúpido quanto a idéia de pensadores que imaginam não existir Deus.
Assim, a questão aqui não é elevar a educação superando a religião, mas sim compreender a religião para elevar a educação. Por “compreender” entendemos aqui não o fato de sermos religiosos simplesmente, mas sim de caracterizarmos a religião como um todo espalhado pelo globo, sendo necessário compreendê-la para iniciarmos um entendimento melhor entre os indivíduos e entre a ciência mesma. Neste sentido, Nietzsche acerta ao afirmar que “se faz necessário um movimento para trás” (p.30) para refletirmos sobre o caráter religioso historicamente e psicologicamente. Deste modo, antes torna-se necessário a análise das representações religiosas através de reflexão apurada e crítica, para após isso podemos afirmar se há como atingir um grau elevado de educação.
Não obstante, torna-se necessário também aqui a vigília reflexiva individual para que se evite a prepotência característica daqueles esclarecidos que se colocam acima dos demais. Por vezes, vemos a que ponto chega a prepotência a nossa volta em que alguns se colocam acima do bem e do mal querendo impor seu conhecimento adquirido a outrem. Na argumentação de que “aqueles estão dominados pelo senso comum”, esquecem de que este senso comum é composto de ações sensíveis no dia-a-dia daqueles indivíduos. Assim, aqui podemos mais uma vez concordar com Nietzsche no seu exemplo dizendo que aos mais esclarecidos, “como no hipódromo, é necessário virar no final da pista”(p.30), ou seja, é necessário “virar” no sentido de libertar-se do olhar de superioridade aos demais.
Poderíamos concluir assim, que é necessário sim ao filósofo fazer este “movimento para trás”(p.30) para atingir um grau elevado de educação, mas a superação dos “conceitos e temores supersticiosos e religiosos”(p.30) tem que ser vista numa análise respeitosa àqueles que se dizem religiosos, para evitarmos assim ficar estáticos no último degrau da escada com aquele ar de superior aos demais, como colocara Nietzsche.

* * *
Segunda Consideração: Sobre os objetivos ecumênicos
que abranjam a Terra inteira.
Certo estamos de que o homem precisa incessantemente estabelecer metas que abranjam a Terra inteira, no sentido de construir um bem-estar comum para si próprio. Diferente do que coloca Kant em À Paz Perpétua, Nietzsche pressupõe ser ingênua e bela a utopia kantiana de colocar ações comuns a todos os homens para que se estabeleça uma harmonia mundial. Como imaginar então o estabelecimento de “objetivos ecumênicos que abranjam a Terra inteira”?
Antes, as tarefas tem que ser nitidamente divididas conforme diferentes capacidades e conhecimentos de regiões diferentes. Por exemplo, se certa região tem historicamente colocado na humanidade conhecimentos sobre tecnologia da informática, que esta região proponha objetivos neste campo para a construção dos objetivos acima citados. Não seria aqui hierarquizar os seres conforme sua região ou etnia, mas tão somente utilizar a capacidade que a própria região ou etnia dispõe a colocar a serviço de metas globais mais sublimes. E aqui, temos a certeza de que cada região ou etnia pode ajudar a construir “objetivos ecumênicos que abranjam a Terra inteira” sem que se solape sua individualidade cultural e social, já que cada qual ajudaria conforme suas capacidades.
Creio também que o pressuposto que Nietzsche coloca de se ter antes um “conhecimento das condições de cultura”(p.32) é essencial. A partir do momento em que cada homem possa conhecer as condições de cada cultura, o respeito, a harmonia e todas as “ingenuidades e belezas” kantianas poderão ser logradas. Mas imaginar que o homem tenha que conhecer as condições de cultura pode-se dizer que ainda hoje é uma ingenuidade. Certo estou de que Nietzsche queria aqui colocar um ponto importante a considerar no estabelecimento de “objetivos ecumênicos” para toda a Terra, mas desde e seu tempo até hoje, como o próprio Nietzsche já colocara, o homem ainda é incapaz de compreender o outro e menos capaz ainda de conhecer as condições de cultura de cada um.
Muitos pensadores que tentam estabelecer este conhecimento cultural de outrem acaba esbarrando muitas vezes em suas inquietudes características de querer se sobrepor aos demais, num misto de prepotência aliada ao conhecimento. Surge então a necessidade humana de se vigiar a cada dia para evitar que seu grande espírito não seja um espírito de uma pequenez medíocre, para que possamos assim entender o outro sem superioridade, criando com nossas próprias pernas os “objetivos ecumênicos que abranjam a Terra inteira.”

Bibliografia:
NIETZSCHE, Friedrich. Humano, Demasiado Humano: Um livro para espíritos livres (trad. Paulo César de Souza) – vol.1. São Paulo : Cia. Das Letras, 2001.


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