Fernando era um bon-vivant, gostava de festas, viagens e das badaladas colunas sociais. Morava em um confortável e espaçoso palácio no planalto central.
Certo dia, vendo que seu contrato de aluguel estava chegando ao fim, convidou os quatro principais pretendentes a inquilino do seu palácio, para conhecerem a futura morada. A imprensa estranhou tais convites, mas Fernando confirmou e gerou muita expectativa na mídia. Sendo, inclusive, elogiado pela sua maturidade. Abrir as portas do palácio para os prováveis inquilinos, era uma novidade.
No dia e hora marcados, os quatro cavalheiros estavam lá, ansiosos para conhecerem a piscina e a mansão que Fernando alugava há mais de sete anos. Luis, Ciro, Antonio e José, este era o mais amigo de Fernando. E Fernando torcia para que José fosse o novo inquilino.
Quando os cavalheiros chegaram, Fernando estava nadando em sua piscina. De um lado ao outro, havia destreza e desenvoltura em suas braceadas. Quando ficava em pé o nível da água batia em seu pescoço.
- Fernando, embora com a água pelo pescoço, você se dá bem nas manobras aquáticas. - falou o José. O seu melhor amigo.
- Eu acho que ele está de cócoras, para a gente pensar que a água está pelo pescoço. - falou o Luis, desconfiado com a desenvoltura de Fernando na água.
- Ele está nos engambelando, lá de fora do palácio, não visualizávamos que tinha tanta água nessa piscina. - comentou o Antonio, receoso.
- Não tenham medo. Entrem, vocês vão gostar, esta água está uma delícia.
- A água está pelo pescoço, eu não sei nadar. Qual o lado mais raso?
- Todos os lados são fundos. Nessa piscina água está sempre pelo pescoço. Entrem meus camaradas, vamos nos refrescar. Logo a Ru nos traz um tira-gosto. - Ru era como Fernando chamava carinhosamente a Rubiléia, sua governanta.
Fernando fazia acrobacias inacreditáveis na piscina. Os quatro convidados, meio a contragosto e com certa desconfiança, acabaram entrando na piscina, admirados com as peripécias de Fernando em águas profundas.
Os quatros cavalheiros estavam satisfeitos. A mansão era bonita, confortável e aconchegante. Havia muitas mordomias, viagens programadas, audiências no exterior. Vários empregados. O único inconveniente era a piscina. Aquela água sempre pelo pescoço.
- Eu, se conseguir alugar essa mansão, vou baixar o nível dessa água, eu estou na ponta dos pés. Donde venho tem um piscinão, mas a água é pelo joelho. - comentou Antonio, com uma certa aflição na voz.
- Quem é aquele cara todo de preto vindo em nossa direção? Vem com uma mangueira na mão! - perguntou Luis, novamente desconfiado.
- É isso que eu preciso explicar pessoal. O controle do nível da água não é da mansão. Tem um pessoal aqui da casa dos Fundos, atrás do Parque Internacional, que sempre vêm aqui e colocam água na piscina.
- Peraí, ele vai colocar mais água?
- Vai
- Mas a água está no meu pescoço... ó Fernando!
- Tem que aprender a boiar. Batam pernas e braços e não gritem, senão a vizinhança fica alarmada.
- Ele está jorrando mais água na piscina! Glup! Glup!
- Alguém disse glup? Glup! Glup! Glup!
- A piscina é boa, mas tá muito chei... Glup! Glup!
- Chamem os bomblup, glup, glup!
- Ei! Cadê todo mundo? Agilidade nos braços e nas pernas meus camaradas.
- Glup! Glup!
- Tem que espernear, pessoal. Nessa piscina temos que espernear, senão acabaremos no fundo. Ah! Se eu pudesse prorrogar esse contrato de aluguel.