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Artigos-->A corrupção é mesmo um crime hediondo? -- 06/09/2011 - 11:48 (Félix Maier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A corrupção é mesmo um crime “hediondo”?



ESCRITO POR GRAÇA SALGUEIRO
02 SETEMBRO 2011



ARTIGOS - DIREITO



Será que ninguém percebe a diferença entre um larápio contumaz e um

psicopata assassino, que tira vidas humanas da forma mais cruel que se

possa imaginar?



O que esta proposta pretende é banalizar os crimes hediondos de fato.

A página do Senado na Internet divulgou, entre os dias 15 e 31 de

agosto, uma enquete para saber se a população acredita que a corrupção

deva ser considerada um “crime hediondo”. Tal pesquisa correu pela

rede e pelos sites de relacionamento como rastilho de pólvora, obtendo

o assustador percentual de 99,44% favorável à inclusão, num total de

426 mil votantes. O projeto é do senador Pedro Taques, do PDT de Mato

Grosso (um partido comunista, vale salientar), que afirma que

“hediondo” significa “nojento, o que dá asco”.

Ao contrário da maioria das pessoas eu votei contra e, como estou

sendo muito questionada - e até condenada -, resolvi escrever este

artigo a fim de explicar mais detalhadamente minha posição. Antes,

porém, descrevo o que significa “corrupção”, “corrupto” e “hediondo”,

segundo consta no dicionário Houaiss:



CORRUPÇÃO:

Ato, processo ou efeito de corromper, depravação de atos e costumes.

Emprego, por parte de grupo de pessoas de serviço público e/ou

particular, de meios ilegais para, em benefício próprio, apropriar-se

de informações privilegiadas acarretando crime de lesa-pátria.



CORRUPTO:

Que ou aquele que age desonestamente, em benefício próprio ou de

outrem, especialmente nas instituições públicas, lesando a nação, o

patrimônio público, etc.



HEDIONDO:

Que causa horror, repulsivo, horrível. Que provoca reação de grande

indignação moral, ignóbil, pavoroso, repulsivo, que é sórdido.



Desde os tempos de José Sarney, passando por Collor, FHC e atingindo

seu apogeu na era petista, o país está acostumado a cada dia surgir um

novo escândalo de corrupção, onde o suado dinheiro dos pagadores

compulsórios de impostos escorrem pelos desvãos das casas

legislativas, engordando o patrimônio de velhas raposas da política

nacional. O relativismo moral fez com que as pessoas se inconformassem

mais com os atos de corrupção do que com os 50.000 brasileiros

assassinados por ano, em decorrência do tráfico de drogas. Os

primeiros são crimes de “esperteza”, malandragem, onde o mal não está

necessariamente presente. Nos segundos, o mal é intrínseco e elemento

indispensável à sua execução.



Não estou defendendo a corrupção e creio que esses casos devam ser

rigorosamente apurados e seus autores julgados e trancafiados numa

penitenciária, sem qualquer regalia nem “abrandamento” da pena.

Entretanto, não posso fazer de conta que não existe uma escala de

valores e um índice de maldade para os atos humanos. O político

corrupto se apropria daquilo que não lhe pertence, ou seja, rouba

dinheiro do erário que, conforme me alegaram, poderia ser empregado em

mais escolas, na segurança, nos falidos e decadentes hospitais da rede

pública, no qual concordo plenamente. Entretanto, a vida humana é um

bem maior e não pode ser relativizada com um roubo puro e simples.



Para exemplificar melhor meu ponto de vista, lembro alguns escabrosos

casos clássicos da bestialidade humana que chocaram o país. Em 20 de

abril de 1997, o índio Galdino Jesus dos Santos, da tribo Pataxó, foi

queimado vivo por jovens de classe média alta enquanto dormia em um

ponto de ônibus na Asa Sul de Brasília. Em 20 de fevereiro de 2007, o

menino João Hélio, de 6 anos, foi arrastado por sete quilômetros,

preso à porta do carro de sua mãe que fora roubado por assaltantes,

deixando pedaços de seu crânio e encéfalo espalhados pelo caminho. Em

12 de agosto de 2011, a juíza Patricia Acioly foi metralhada com 21

tiros na porta de sua casa em Niterói. Há ainda o caso do jornalista

Tim Lopes, queimado vivo por traficantes no que eles chamam de

“microondas”, as vítimas do “Maníaco do Parque”, estupradas e

assassinadas em seguida, ou o de Suzane von Richthofen, que ajudou o

namorado e o irmão deste a assassinar os próprios pais e depois foi a

uma festa.



Ora, será que ninguém percebe a diferença entre um larápio contumaz e

um psicopata assassino, que tira vidas humanas da forma mais cruel que

se possa imaginar como nos casos acima citados? Vocês se chocam mais

com a dinheirama de vem escorrendo dos cofres públicos direto para o

caixa 2 de partidos políticos, parlamentares, empreiteiras e

associações fantasma, do que com os bárbaros crimes que se cometem

contra vidas humanas? A defesa de que a corrupção é um crime hediondo

porque do dinheiro roubado que poderia ser utilizado na compra de

remédios, ou merenda escolar pode causar a morte de pessoas inocentes,

obedece à mesma lógica sinistra dos desarmamentistas. Ao contrário dos

desarmamentistas, sabemos que uma arma de per si não mata, mas sim

quem a utiliza de forma inadequada. E é com esta lógica que afirmam -

alguns até sem perceber o ardil que o argumento esconde - que o

dinheiro fruto da corrupção pode provocar mortes, na medida em que

deixa de servir às necessidades da população.



Utilizando o mesmo objeto de comparação, a corrupção, pergunto: o

crime do qual foi acusado o ex-presidente Fernando Collor, pode ser

posto no mesmo patamar dos escândalos do “mensalão”? Ambos são crimes

de corrupção, no entanto, e apesar do exagerado impeachment de Collor,

pode-se afirmar que o seu crime foi "hediondo", que causou estupor e

clamou aos céus por justiça?



O que esta proposta pretende é banalizar os crimes hediondos de fato,

pois na lógica mais elementar, praticada por uma pessoa em seu

perfeito juízo, roubar o erário público não pode jamais ter o mesmo

valor dos crimes de estupro seguido de morte, da pedofilia, do aborto,

do tráfico de drogas, da execução sumária, dos justiçamentos, dos

crimes onde a maldade mais subterrânea é seu motor principal,

geralmente praticado por sociopatas e psicopatas. E quem está propondo

esta excrescência sabe, perfeitamente bem, que esta medida visa

tão-somente a obedecer à engenharia social, modificando o

comportamento das pessoas até o ponto em que a sociedade vá as ruas

bradar pelo fim da corrupção e se cale e ache natural que morram mais

brasileiros nas mãos de narco-terroristas do que nas guerras do

Oriente Médio.



Não. Corrupção não é um crime hediondo. Hediondo é algo mais do que

“nojento, dá asco”. É algo que clama aos céus desde as entranhas em

defesa da vida humana, antes de qualquer outra coisa. A corrupção deve

ser combatida e reprimida mas já é um crime previsto em lei - o de

roubo -, que poderia ser solucionado caso não houvesse no país leis

“que pegam” e leis “que não pegam”, e se no Brasil não houvesse iguais

que são “mais iguais que os outros”. Simples assim.

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