7 de Setembro
Por José Geraldo Pimentel
O amigo acordou cedo e se preparou para a visita guiada que faria aos estúdios de uma emissora de TV. Vestia camisa de malha listrada, calça jeans e tênis; bem ao estilo “Zé Carioca”.
- Por que tanta elegância? Quis saber.
- Esta camisa minha mãe comprou numa loja em liquidação, em Copacabana. Custou apenas um real. (E riu). Só visto esta camisa em dias especiais. Ela costuma me dar sorte!
O brasileiro tem muito desta simplicidade. É grato e dá bastante valor às pequenas coisas.
O dia 7 de setembro é uma ocasião boa para se refletir sobre o apego às coisas mais simples, como o prazer de se viver num lugar, valorizar o seu espaço; e de repente, notar que a terra onde se vive é a sua pátria. Uma pátria representada por uma vila perdida no interior do estado, um lugarejo às margens de um rio, uma grande metrópole; e, por miserável que seja, até o abrigo debaixo de um viaduto, ou o casebre plantado no alto de um morro. É aonde vivemos! O nosso espaço onde podemos estar ao lado dos amigos. A praça das noites de paqueras, dos desfiles de mulheres bonitas, dos casais apaixonados, de admirarmos o ancião e a velhinha que teimam em dar um exemplo de vitalidade, de encolher as pernas para não derrubar a criança que passa em louca disparada. O local de escutar em alto e bom som a música típica de nossa cidade. O ponto de encontro para a rodada de cerveja, a troca de farpas e de “consertar” o Brasil.
A pátria não é o lugar que escolhemos para nascer. O destino nos prega este privilégio. Só uns poucos a escolhem, porque a procuraram para dar continuidade aos seus sonhos, para dar guarida a sua família, e para continuar a viver.
Viver no Brasil é ser um favorecido pela natureza. Os nossos desencontros não chegam a causar tantos transtornos como os que se vêem em outros cantos do mundo. Deus tem sido generoso conosco!
O Brasil é uma terra de tão boa que chega a mexer com o caráter de seu povo. Somos compreensíveis, temos desprendimentos, sabemos respeitar; e nos abrimos, plenos, para o amor, para dar e receber! Distinguimo-nos por estes sentimentos nobres, demonstrando-os com naturalidade, quase sem o percebermos; transformando atos e fazeres em coisas boas; benéficas para as outras pessoas, e para nós mesmos.
Às vezes olhando para o nosso interior, percebemos que muitas coisas deixamos passar sem que prestássemos atenção. A distração nos encapsula num casulo, como se querendo nos justificar com uma desculpa esfarrapada: “Fazemos a nossa parte!” E será que é o bastante?
Aí reside o nosso pecado capital. Somos tolerantes além do limite. A ponto de não levarmos em conta o que as outras pessoas fazem ou deixam de fazer.
Fazemos vistas grossas, só para dizer que não fomos vencidos. E acabamos acobertando os desvios.
A omissão não deixa de ser uma forma de compactuar com o erro!
Não se pode calar, pela justificativa de não querer se incomodar, ou achar que não lhe cabe o direito de fiscalizar os mandos e desmandos de quem por dever funcional não deve prevaricar contra as instituições. A prática da cidadania pressupõe a responsabilidade no agir e no fiscalizar.
Acho que nesta data em que se comemora a independência do Brasil, deveríamos desembainhar a nossa espada de civismo e gritar:
“- Fora a ilegalidade, a descompostura, a inversão de valores, os abusos, a arrogância, a mentira! Exigimos justiça para todos, e em igualdade de condições. Cobramos o direito à vida, com moradia, transporte, saúde, educação e emprego. Respeitem-nos como cidadãos, não nos tolhendo a liberdade de expressão, da prática religiosa, da opção sexual!”
É o mínimo que devemos exigir de nossas autoridades, e de nós mesmos. Somos todos responsáveis por tudo e por todos!
Esse sentimento de viver em comunidade, respeitando e nos fazendo respeitar, é que torna o pedaço de chão onde vivemos, a verdadeira pátria de nossos sonhos! A pátria Brasil que está tão machucada e que não podemos abandoná-la!
Rio de Janeiro, 2 de setembro de 2005.
http://www.jgpimentel.com.br
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