Na renomada North Hamburger University, uma equipe de notáveis vem efetivando exaustivos estudos antropofísicos para bem caracterizar, em alguns estratos sociais brasileiros, uma espécie animal que emite sons humanos, possui um nível mental fronteiriço e carrega fortíssimo moralismo tridentino. Diplomado remendadamente em qualquer bodega do terceiro grau, suas últimas leituras resumiram-se, ainda nos tempos juvenis, a Carlos Zéfiro, um famoso autor de quadrinhos mimeografados, de ainda regular consagração nos educandários de agora, para delírio dos adeptos dos ritmos solos.
Inserido numa categoria situada entre a faixa simiesca e o nível “homo racionalis”, recebeu a denominação genérica de chinfrinzé. Seu perfil comportamental, às vésperas de um final de século, imaginava-se em extinção, mormente após a revolução de 30, quando o país efetivou-se no chamado mundo industrial.
Na monografia Tipologia Comportamental do Chinfrinzé Brasileiro às Vésperas de um Novo Milênio, edição ainda reproduzida mimeograficamente e de tiragem reduzida, os pesquisadores Bill K. Ruera e Tze C. Veiro, assim definiram um chinfrinzé, : “animal quase racional, extremamente similar fisicamente ao homo sapiens, que se comporta em áreas civilizadas com uma mente mixada, coexistindo nela, ideários tridentinos, hábitos comportamentais aparentemente salutares e nulificada visão de futuro”. Segundo aqueles pesquisadores, o chinfrinzé detesta companhia de inteligentes, aceita pena de morte, é contra o aborto em qualquer circunstância e abomina todos aqueles que não praticam a sua (dele) religião. Para todo chinfrinzé, prática sindical é caso de polícia e direitos humanos um assunto para complexados que perderam parentes e amigos nas lutas desenvolvimentistas do passado pátrio.
Conheço alguns chinfrinzés. Arroteiros por excelência, comportam-se com vulgar interesse pelos destinos nacionais que ultrapassem as fronteiras dos seus egolatrismos. Portadores de deficientes níveis comunicativos, decorrência de uma formação cultural essencialmente televisiva, suas atividades principais são “curricularizadas” pelos feitos vivenciados da cintura para baixo, trombeteados muitos furos acima do real.
Os dois cientistas da North Hamburger University, em entrevista muito recente, retransmitida pela Lakosteen TV Canal, revelaram algumas personalidades mundiais identificadas como descendentes de chinfrinzés. E apontaram mais algumas características : impontualidade nos compromissos pessoais assumidos, ausência de periódicas faxinas das velhas idéias, ausência de talento para contar uma simples anedota de salão, uma compulsão para sorrir desmesuradamente diante de superiores hierárquicos, total incapacidade de entender que músculos são pré-requisitos de um passado que não mais retornará e contínua tesão para exterminar direitos e deveres dos outros, principalmente dos mais pequeninos, se possível funcionários públicos desapadrinhados.
Listei, nos meus arquivos implacáveis, uns sessenta e tantos megachinfrinzés. Pede-se permuta.
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